O drama tarifário enfraqueceu o dólar em abril, e o recente impasse entre Trump e União Europeia seguiu o mesmo roteiro. Com o mercado ainda atento às preocupações fiscais dos EUA, os riscos de baixa para o dólar permanecem concretos, a menos que os dados macroeconômicos tragam algum alívio. Enquanto isso, Lagarde fala sobre um ’momento global do euro’, mas resta saber se há respaldo político suficiente para isso.
Dólar: Preocupações fiscais e rescaldo do drama tarifário seguem pressionando
Não chega a surpreender o dólar mais fraco no início da semana, mesmo após Donald Trump ter recuado na ameaça de tarifas de 50% sobre a União Europeia. Isso não significa que o dólar tenha redescoberto seu status de porto seguro — longe disso. Na prática, os mercados haviam, em grande parte, classificado as tarifas como um ’risco de abril’. A expectativa para maio e os meses seguintes era a de foco em acordos comerciais.
De fato, algumas negociações levariam tempo, e a União Europeia nunca pareceu uma contraparte fácil. Ainda assim, o impasse renovado entre Trump e o bloco europeu serve como lembrete de que ameaças tarifárias e adiamentos podem ressurgir rapidamente. Se abril deixou alguma lição, é que o dólar carrega o peso dos choques comerciais.
LEIA TAMBÉM: Guerra Comercial: o que significa, história e medidas
Nosso modelo de valor justo de curto prazo — que analisa as correlações do câmbio com taxas de juros e ações no último ano — ainda indica que o dólar está substancialmente desvalorizado: cerca de 4% frente ao euro, libra e dólar canadense, e 3% frente ao iene japonês e ao dólar australiano. Contudo, no momento, isso precisa ser deixado de lado, pois o ’greenback’ segue desconectado dos seus tradicionais vetores de precificação.
Em muitos aspectos, o dólar tem se comportado como uma moeda de mercado emergente, com os investidores fixados na sustentabilidade fiscal dos EUA, acompanhando os fluxos de capital de perto e forçados a precificar movimentos de política econômica altamente imprevisíveis. Essa dissociação fica evidente: a correlação de 60 dias entre os Treasuries de 10 anos e o DXY começou o ano em 0,68 e hoje está zerada.
Por ora, a melhor esperança para o dólar reside na possibilidade de que os próximos dados macroeconômicos consigam dissipar os temores de recessão. Isso se torna urgente, dado que as preocupações fiscais estão começando a comprometer ainda mais a já frágil sustentação da moeda. Como destacou James Smith em sua análise semanal, não se trata exatamente de o projeto de gastos de Trump explodir o déficit de uma vez, mas sim de uma rara oportunidade perdida pelo Congresso de enfrentar o problema fiscal.
O risco é que a percepção de deterioração na qualidade do crédito soberano dos EUA continue prejudicando o dólar durante o verão, especialmente se os leilões do Tesouro indicarem uma demanda apenas moderada.
Nesta terça-feira, o índice de confiança do consumidor medido pelo Conference Board deve apresentar recuperação, sustentado pelo acordo entre EUA e China e pela retomada dos mercados acionários. A projeção é de 87 pontos, mas avaliamos que o dólar precisaria de uma leitura acima de 90 para que os riscos sobre o crescimento começassem a ser precificados de forma menos intensa. Também serão divulgados os pedidos de bens duráveis de abril, que devem refletir fraqueza após o número atipicamente forte de março. Ao longo da semana, o calendário inclui renda pessoal, PCE e a ata da última reunião do Federal Reserve.
A liquidez no mercado cambial foi limitada na segunda-feira, devido aos feriados nos EUA e no Reino Unido. Hoje, teremos uma leitura mais clara da direção dos fluxos. Nossa visão permanece de que o balanço de riscos segue enviesado para a baixa no dólar, reflexo das incertezas fiscais e comerciais, a menos que os dados surpreendam positivamente de forma consistente. Nesse contexto, uma nova tentativa de testar as mínimas de abril, na região dos 98,0 pontos do DXY, parece mais provável do que uma recuperação para 100,0.
Euro: O ’momento global do euro’ pode esbarrar em entraves políticos
O euro atravessou o recente episódio de risco tarifário dos EUA praticamente ileso. Como discutido acima, a tendência dos mercados de penalizar o dólar em momentos de tensão comercial costuma favorecer uma rotação para o euro, que, por sua liquidez, acaba blindado contra a precificação de riscos específicos da zona do euro. O EUR/USD chegou a tocar 1,1420 na segunda-feira, antes de recuar levemente para a faixa de 1,1400. Com a normalização dos volumes, o par pode retomar movimento de alta no dia.
As declarações da presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, ontem foram particularmente relevantes — ela mencionou a possibilidade de um “momento global do euro”, argumentando que uma ação coordenada dos governos poderia fortalecer o papel internacional da moeda. Parte da recente valorização do EUR/USD pode ser atribuída a essa narrativa.
Se os formuladores de políticas na Europa continuarem a impulsionar essa ideia, há espaço para uma aceleração nas posições estratégicas compradas em euro. A empolgação de Lagarde é compreensível: um euro mais forte e globalizado favorece a estabilidade dos mercados de dívida e mantém as taxas de juros em níveis mais baixos, enquanto a valorização nominal ajuda a conter pressões inflacionárias. Por outro lado, exportadores já expressam desconforto com a valorização da moeda, e governos nacionais — sobretudo aqueles com finanças mais sólidas — podem não demonstrar o mesmo entusiasmo, uma vez que já desfrutam de custos de financiamento bastante baixos.
Como já discutimos, o apelo global de uma moeda depende, em grande medida, da profundidade do seu mercado de dívida. Competir com o dólar exige que o euro disponha de um plano confiável para emissão contínua de dívida comum na União Europeia, e não apenas movimentos pontuais como os realizados durante a pandemia. Além disso, a fragmentação política dentro do bloco segue sendo um obstáculo relevante para ambições mais ousadas em relação ao papel global do euro. Por isso, é prudente moderar o otimismo excessivo. Ainda assim, qualquer avanço concreto nesse sentido deve impulsionar o EUR/USD ainda mais.
O calendário econômico da zona do euro segue esvaziado até sexta-feira, quando Alemanha, Espanha e Itália divulgarão os dados preliminares do IPC de maio. O potencial de alta para o EUR/USD, sustentado pelas preocupações fiscais nos EUA, pode se estender até a região de 1,150. No entanto, para sustentar esse nível, o mercado precisará de novos catalisadores. Nossa expectativa é que o EUR/USD volte a se acomodar na faixa de 1,130 até o fim de junho.
***
PARE DE INVESTIR NO ESCURO! No InvestingPro, você tem acesso a ferramentas treinadas de IA em 25 anos de métricas financeiras para escolher as melhores ações e ainda tem acesso a:
- Preço-justo: saiba se uma ação está cara ou barata com base em seus fundamentos.
- ProTips: dicas rápidas e diretas para descomplicar informações financeiras.
- ProPicks: estratégias que usam IA para selecionar ações explosivas.
- Filtro avançado: encontre as melhores ações com base em centenas de métricas.
- Ideias: descubra como os maiores gestores do mundo estão posicionados e copie suas estratégias.
- Dados de nível institucional: monte suas próprias estratégias com ações de todo o mundo.
- ProNews: acesse notícias com insights dos melhores analistas de Wall Street.
- Navegação turbo: as páginas do Investing.com carregam mais rápido, sem anúncios.
AVISO: Este conteúdo tem caráter exclusivamente informativo. Não constitui oferta, recomendação ou solicitação para compra de ativos. Lembramos que todos os investimentos envolvem riscos relevantes e devem ser avaliados sob múltiplas perspectivas. O InvestingPro não oferece consultoria de investimentos. As decisões e riscos assumidos são de inteira responsabilidade do investidor.