Finalmente aconteceu o que já estava no radar, mas que não era esperado neste momento.
A agência de risco Standard & Poors rebaixou a nota de crédito soberana do Brasil de BBB- para BB+ o que o coloca no nível especulativo (junk em inglês) e ainda colocou a nota em perspectiva negativa, revertendo a conquista do grau de investimento pelo país ocorrida em 2008.
A decisão foi fundamentada pela agência com o fato de que os desafios políticos têm aumentado, dificultando a capacidade do governo de submeter ao Congresso proposta de Orçamento que evidencie a correção de rumo prometida no inicio do segundo mandato do governo e destaca a mudança na meta fiscal menos de seis semanas depois da ultima revisão, para baixo. Mas acreditamos que a ousadia de ter sido apresentado um Orçamento deficitário teve peso, dando a impressão que não havia comprometimento efetivo com a politica fiscal, provavelmente o fato que levou a Presidenta Dilma ter anunciado estar comprometida com a mesma (o Ministro Levy mencionou que tinha conhecimento do rebaixamento desde terça-feira), e assim ante este quadro de indefinições a agência resolveu adotar a medida, ainda que prematura, mas com objetivo de prevenção.
Ao se analisar as abordagens havidas a respeito da ocorrência, se observa quase todos os malefícios possíveis que impactarão na economia brasileira já tão debilitada, tornando o futuro imediato mais difícil ao país e ao seu povo.
A conclusão imediata é de que ainda há muito a piorar e que a recessão será intensificada de forma irreversível.
Mas, gostaríamos de centrar nossas observações em pontos não destacados e que dizem respeito aos fluxos de recursos externos.
Evidentemente as dificuldades para captação de recursos externos aumentarão tanto na obtenção quanto nos custos, mesmo para os bancos existentes no Brasil que terão que onerar a concessão do repasse dos seus financiamentos às atividades externas das empresas brasileiras, além de ocorrer um grau maior de seletividade na concessão. Da mesma forma impactarão nos custos dos insumos consumidos pela agricultura brasileira e pela indústria, que atualmente já ocupam um percentual expressivo do produto final.
O Brasil que já se configurava com baixa atratividade para investidores estrangeiros deverá ter acentuada esta faceta, o que promoverá menor volume de ingressos.
O fluxo cambial brasileiro apresenta saldo positivo de US$ 11,619 Bi, sendo US$ 16,840 Bi positivos no comercial e US$ 5,221 Bi negativos no financeiro. Há grande possibilidade de este fluxo vir a se tornar negativo tendo em vista que os dados divulgados pelo BC no quesito balança comercial evidenciam já recebidos pagamentos antecipados de US$ 13,041 Bi já escriturados naquele saldo positivo de US$ 16,840 Bi referentes a exportações a serem realizadas e ainda há em aberto US$ 17,311 Bi a pagar de importações já realizadas. Portanto, o saldo positivo atual é frágil, pois tem amplas possibilidades de se tornar negativo.
As reservas cambiais brasileiras nominalmente apontam US$ 370,113 Bi, mas os bancos estão sendo acionados a gerar a liquidez que faltou ao mercado a vista de US$ 17,595 Bi e para tanto o BC vem financiando parte e parte vem sendo financiada pelo exterior, mas a lógica seria o BC estar suprindo esta falta efetiva de dólares realizando vendas de dólares ao mercado.
Ocorre que com o quadro pós decisão da S&P ocorra maior rigor na concessão de linhas para os bancos e estas posições vendidas poderiam ter impactos nas análises e então o BC adota nova estratégia ao anunciar leilões a termo (venda conjugada com compra) que evitarão a ampliação das posições, embora o financiamento ocorra do mesmo jeito para os bancos suprirem a liquidez do mercado à vista.
Nesta fase o BC precisa atuar “cirurgicamente” no mercado para suprir a liquidez e evitar o uso objetivo das reservas cambiais, que poderá ser necessário caso ocorra uma intensificação da saída de recursos externos presentes no país por aversão obrigatória ou espontânea.
As expectativas mais imediatas dos analistas cometeu um erro, acreditamos, ao colocar a alta do dólar de forma exacerbada de imediato.
Há que se considerar que a grande parcela das exposições em moedas estrangeiras estão protegidas por hedge na BM&FBovespa (SA:BVMF3) com swaps ofertados pelo governo que ultrapassam US$ 100,0 Bi e por contratos a termo realizados na CETIP (SA:CTIP3) dos compromissos comerciais.
Esta situação de estarem protegidos desarma o imediatismo da alta da moeda americana, mas não retira o viés de que o real será desvalorizado.
A reação causa-efeito no quadro atual será mais gradual e mesmo os detentores dos capitais retirantes ao estarem protegidos poderão ter mais tranquilidade.
Evidente que a taxa cambial sofrerá desvalorização gradualmente, não sendo razoável se fazer projeções neste momento, pois depende muito da forma com que as pedras forem movimentadas no tabuleiro.
É absolutamente necessário que o BC atue de forma “cirúrgica” no mercado de câmbio, utilizando de forma estratégica os parcos instrumentos que detém sem abrir flancos para que se instalem movimentos especulativos.
O BC até o momento está atuando estrategicamente de forma correta ao evitar a venda objetiva e redutora das reservas cambiais, o que poderá se tornar inevitável no futuro próximo caso não consiga rolar os financiamentos e contratos a termo com os bancos por razões técnicas contábeis, pois este seria um movimento da autoridade que poderia detonar oportunidade para que se instalem movimentos especulativos no mercado de câmbio brasileiro.