O mercado futuro de açúcar em NY despencou na semana encerrada nesta sexta-feira por duas razões fundamentais: a primeira, o começo da moagem de cana no Centro-Sul e o início da produção de etanol pressionaram os preços do combustível que mergulharam de R$ 2,2000 por litro para R$ 1,8000 por litro. Em geral, o início da safra é o período em que as usinas, em especial aquelas com – eufemisticamente dizendo – reduzida flexibilidade no fluxo de caixa, precisam fazer dinheiro para atender aos compromissos assumidos durante a entressafra. Vendem o produto com a velocidade e necessidade que o momento impõe e evidentemente aumentam o desconto.
A segunda razão é a liquidação parcial das maciças compras dos fundos avalizadas pela performance estrondosa de um mercado que simplesmente se valorizou fortemente em um curto espaço de tempo e é natural que decidam tomar lucro. Só que os fundos reportaram uma posição comprada até a última terça-feira, quando os dados são apurados, de nada menos de 224.000 contratos (quase batendo o recorde de 2008 quando eles possuíram quase 240.000). Ou seja, adicionaram mais compras num mercado em queda. O fechamento fraco da semana poderá acionar mais liquidações dos fundos (que devem ter liquidado entre quarta e sexta) após a divulgação do elevado volume de posição comprada por parte deles. Pode cair mais na segunda-feira!
Mas, atenção: o fraco desempenho de NY na semana, com vencimento maio/2016 perdendo 17 dólares por tonelada em relação à semana anterior e fechando a 15.18 centavos de dólar por libra-peso, não invalida o que temos discutido aqui sobre os fundamentos construtivos de longo prazo.
Oscilações como as que tem ocorrido no açúcar são naturais no mercado de commodities mormente quando o futuro no curto prazo “ignora” o comportamento do mercado físico. Faltou a este, vinculado que está a oferta e demanda do produto espelhar o vigor do mercado futuro que é alimentado pelos fundos por razões e fatores muitas vezes exógenos à própria commodity. Pois bem, o físico se mantém devagar e a falha em não validar o movimento do futuro, acaba esgarçando o tênue tecido deste. Assim, NY assistiu a uma queda quase que linear de 17-18 dólares por tonelada nos quatro meses que representam a safra 2016/2017 do Centro-Sul e, ao longo da curva de preços que se estende até outubro de 2018, também teve desempenho negativo entre 5 e 14 dólares por tonelada.
O fechamento da sexta-feira coloca o açúcar para maio/2016 equivalendo R$ 1.268 por tonelada FOB (ainda um excelente preço). Como dissemos aqui na semana passada, NY tinha espaço para cair mais é isso efetivamente ocorreu. Não acredito em pressão substancial oriunda de fixações de preço por parte das usinas uma vez que, como demonstrado recentemente pelo modelo de preço desenvolvido pela Archer Consulting, tem muito pouco açúcar para ser fixado contra a tela de maio.
O longo prazo continua construtivo e as expectativas de produção seja no Centro-Sul, seja na Tailândia ou na Índia deverão se consolidar ao longo do ano apontando para preços mais altos em centavos de dólar por libra-peso. Minha preocupação é que haverá uma potencialização desse quadro de disponibilidade por parte do Brasil até meados do segundo semestre deste ano. A renovação do canavial foi muito aquém do necessário, o volume de produção de cana está basicamente estagnado há anos, a produção de ATR pode ir para seu quarto ano consecutivo de queda. As projeções de produção e consumo, extremamente conservadoras, mostram uma razoável possibilidade de déficits para 2017/2018 e 2018/2019. O quadro – mesmo conservadoramente – é muito positivo.
Qual produtor vai suprir as dezenove milhões de toneladas de açúcar adicionais que o mundo vai consumir em 2020/2021? Como serão supridas as 110 milhões de toneladas de cana que o Brasil vai precisar moer em 2020/2021 para atender a demanda de etanol no mercado interno, do açúcar no mercado interno e da exportação de açúcar, assumindo neste caso que não vamos exportar mais do que 25 milhões de toneladas? Uma pergunta de um milhão de dólares!!
Mudando de assunto, fique de olho: as opções de maio vencem daqui a duas semanas. Existem quase 24.000 calls em aberto no preço de exercício de 15.50 e 16.00 centavos de dólar por libra-peso. Aqueles que venderam calls especulativamente podem se assustar numa subida repentina de mercado e ter que ajustar suas posições via delta. Do lado das puts, a mesma quantidade paira entre os preços de exercício de 13.50 e 14.00. Podemos ter um vencimento de opções bastante animado e volátil, bem ao gosto dos especuladores.
A ADM anunciou em nota a venda de suas operações de etanol no Brasil. A empresa informou que regularmente revisa seu portfólio de ativos com intuito de maximizar o retorno ao acionista. Diz a nota que “as operações da empresa no país são muito pequenas para possibilitar um retorno efetivo num ambiente desafiador como o do etanol”. Qual multinacional estará satisfeita com as compras de usinas que fizeram no passado?
O mercado aposta freneticamente em duas datas chave: quando a presidente Dilma Rousseff cai e quando o ex-presidente Lula será preso. Meu Blue Label aguarda impaciente ser degustado.