Difícil responder a indagação do título, até porque enquanto escrevemos, o cipoal de boatos e informações desencontradas continua à plena carga. Afinal o que deve acontecer com o país nas próximas semanas? Será que Michel Temer ainda tem condições de se sustentar no poder? E a economia e os mercados como devem responder a tudo isso?
Tivemos uma semana bem intensa. Começou otimista, com o IBC-Br de março indicando alguma recuperação da atividade e o Caged de abril mostrando um aumento na oferta de empregos formais; e terminou, no entanto, num mar de incertezas, ainda mais depois das tais gravações do pecuarista Joesley Batista, divulgadas pela imprensa. Foram demolidoras, especialmente, para dois personagens da República: o Senador por Minas Gerais, do PSDB, Aécio Neves e o presidente da República, Michel Temer.
O primeiro acabou afastado da liderança do PSDB e do próprio Senado, pelo STF. As gravações eram bem contundentes. Não havia dúvidas. O senador mineiro havia pedido R$ 2 milhões para o “sertanejo da JBS (SA:JBSS3)” para bancar seus custos judiciais da Lava-Jato. Agora, sobre a outra gravação...Na verdade, Temer ouviu mais do que falou neste diálogo com o executivo da JBS, Joesley Batista. Parece claro que este tentou armar uma cilada contra o presidente, forçando uma situação para que ele se comprometesse, falasse alguma barbaridade, mas isso não aconteceu. Por outro lado, ele não retrucou sobre certas colocações. Ao que se sabe, ouvir um empresário falar uma série de bobagens, de frases sem nexo, não faz dele necessariamente um cúmplice.
Acabou mesmo foi causar estragos irreversíveis para o País. De início, Michel Temer quase renunciou. Esta era a opinião de vários articulistas da imprensa, um pouco antes do pronunciamento de quinta-feira. Não aconteceu. Temer resolveu esperar para ver a gravação. Foi sua sorte. Mas e daí? Qual foi o saldo deixado por esta confusão criada? Alguns ministros ameaçaram sair (Roberto Freire da Cultura pediu demissão), alguns partidos ameaçaram sair da base de apoio, muitos começaram a conjecturar sobre como seria este processo de afastamento deve se desenrolar. Sim, porque muitos consideram insustentável sua situação.
Importante notar que este terremoto acontece quando as coisas estavam começando a melhorar, a economia se normalizando, as reformas encaminhadas para votações favoráveis, praticamente sepultando o risco de afastamento do presidente Temer pelo TSE no julgamento da chapa Dilma-Temer.
E agora? Achamos que Temer foi firme em não renunciar, mas terá sido isso suficiente para sua governabilidade até 2018? Façamos a seguir um balanço do estrago deixado, do que esperar na economia e na política para os próximos meses.
Situação do governo Temer. Difícil saber qual será o desfecho. O fato é que o prejuízo político destas denúncias abala a governabilidade do presidente Temer. Para piorar temos uma votação no TSE no dia 6/junho e não parece que a situação do Temer possa ser considerada controlável. Antes deste escândalo muito se comentava que iriam separar a chapa e o placar final dos ministros do TSE seria 5 a 2 favorável ao presidente. Agora nada se pode afirmar.
Retomada da economia. Ingressamos numa fase em que as pressões pela renúncia do presidente provavelmente podem se intensificar. Isso vai gerar alguma paralisia nas decisões dos empresários em voltar a investir e aumentar a produção. Os investidores estrangeiros devem se retrair e os próximos leilões e IPOs devem ser adiados. Pelo menos enquanto continuar este clima de incertezas. Com isso, a economia, que pelo PIB deve ter crescido algo em torno de 1,2% no primeiro trimestre, em muito pelo setor agropecuário e as exportações de manufaturados, deve sofrer um baque no segundo trimestre. Difícil saber como deve desempenhar a economia nos próximos meses. Agora, a variável chave passa a ser o cenário político.
Política de juros do Copom. Muitos consideram estar acontecendo um “choque negativo na aversão ao risco no País”. Não podemos descartar a manutenção da taxa de juros na reunião do Copom nos dias 30 e 31. Por enquanto, ainda acreditamos num corte de 1 ponto percentual, mas desde que a crise política se reduza. Estejamos atentos também ao patamar do dólar por estes dias.
Inflação e câmbio. O câmbio, em torno de R$ 3,28/3,30, numa depreciação em torno de 10%, deve gerar algum impacto inflacionário, se mantido neste patamar por período prolongado. A inflação parece sob controle neste momento, beneficiada por um choque agrícola favorável e o realinhamento dos preços administrados, mas é preciso estar atento à deterioração do cenário político.
Agenda de reformas. Esta é a principal incógnita. Assustou muito no calor do dia 18/junho, ápice da crise nos mercados e do desencontro de informações, a revoada de políticos da base do governo, a saída (e depois retorno) de alguns partidos, a demissão/renúncia de alguns ministros. E agora? Como recompor a base para a batalha das reformas? Estas, com certeza, acabarão adiadas senão paralisadas. Para quando? Certamente enquanto durar a crise política atual. Se superada, no transcorrer do segundo semestre, entre agosto e setembro, devem ser retomadas.
Gestão fiscal. Se a reforma da Previdência atrasar mais, inevitável será uma piora dos dados fiscais nas próximas apurações, até porque a economia deve voltar a desacelerar, afetando ainda mais a arrecadação federal. O resultado primário, em torno de R$ 148 bilhões nos 12 meses até março, deve piorar, tornando difícil a meta perseguida de R$ 139 bilhões ao fim deste ano. Já a dívida bruta, atualmente em 70,5% em relação ao PIB, deve ficar acima de 75% ao fim deste ano.
Comentários finais. Difícil traçar qualquer cenário neste momento com alguma margem de segurança. Na hipótese do presidente Temer não agüentar o tranco, haveria uma transição de 30 dias para a eleição indireta no Congresso. Nomes seguem sendo ventilados, como Carmem Lucia, Henrique Meirelles e FHC.