Saudações.
- Marcão, tem um cliente perguntando por que Merposa tá subindo. Tá sabendo de alguma coisa?
- Sei lá. Diz qualquer coisa; diz que é fluxo gringo.
Eis uma cena que se repete dia após dia após dia mundo afora nas mesas de trading desse mundão velho sem fronteiras.
Paira no imaginário popular a ideia de que a turma do mercado detém conhecimentos sobre-humanos e que tudo que se passa na tela do homebroker tem uma razão concreta de ser. Se uma ação sobe 1,5 por cento, há um motivo perfeitamente palpável que seu trader de estimação certamente conhece. Correto?
Nem de longe.
Talvez seja consequência da mistificação promovida pela própria indústria: seduz a ideia de altíssima sofisticação transmitida pelo trader jovem, sorridente (e dá-lhe clareamento), de braços cruzados e, ao fundo, um escandaloso terminal Bloomberg de seis telas que mais parece uma alegoria de carnaval. A melhor maneira de impressionar um incauto é apresentar-lhe algo que ele não é capaz de entender, mas que lhe brilha aos olhos.
Tudo parece rocket science ao leigo. Se há por trás disso alguma substância ou não, aí é outra história.
A práxis do mercado veio antes - bem antes - da teoria. Curiosamente, esta abraçou calorosamente justamente uma das proposições da academia que, a meu ver, mais força a barra diante da realidade: a famigerada hipótese dos mercados eficientes.
"Tudo está no preço", "o preço desconta tudo" e demais variações sobre o mesmo tema são incessantemente repetidas.
É sedutora a ideia de que alguém já fez o trabalho de incorporar ao preço de mercado toda a informação disponível sobre determinado ativo. E, portanto, toda flutuação de preço é fruto da incorporação de novas informações que vão surgindo ao longo do tempo. É elegante até.
Se a prática comprova isso ou não, a história é outra.
Via de regra, o pequeno investidor é obsessivo pelas flutuações de curto prazo do mercado. Pouca coisa faz tão mal à saúde, penso eu, quanto acompanhar cada tick com o coração na mão.
Frequentemente recebo e-mails do gênero "Ontem o mercado caiu. Vendo tudo?"
Na grandessíssima maioria das vezes, o melhor a fazer é absolutamente nada a não ser se ater a uma estratégia consistente.
Não exija do mercado uma precisão que ele simplesmente não oferece. Não se deixe iludir pela aparente sofisticação dos terminais Bloomberg: há mais ruído do que informação lá fora. E, se você assumir o contrário, vai enlouquecer - e perder dinheiro.
Por que isso importa? Volto à questão da estratégia.
Semana passada insisti que você conheça a si próprio primeiro. Há, aqui, pelo menos dois caminhos a seguir.
De um lado, os técnicos. Do outro, os fundamentalistas.
Ainda quero discutir mais a fundo as diferenças de abordagem entre as escolas; delimitar o que importa a cada uma para deixá-lo livre para escolher a igreja que preferir.
E, quem sabe, começar 2018 levando o mercado mais a sério? Saindo do estágio estético rumo ao ético?
Pense nisso.
E cuide-se: tem uma guerra lá fora.