Com a inflação abaixo da meta o COPOM manteve, sinalizando o fim de linha, a taxa de juro SELIC, e embora com abordagem acomodatícia deixou nas entrelinhas um detalhe defensivo ao citar “atrelada a trajetória fiscal e inflação prospectiva”.
Por outro lado, o FED americano manteve a taxa de juro estável entre zero e 0,25% sinalizando a possibilidade de mantê-la até 2023 e mencionando o anseio de que a inflação alcance 2,0% ou pouco mais.
Embora possam parecer decisões simétricas na primeira leitura, evidentemente o cenário prospectivo brasileiro difere do americano.
A nossa trajetória fiscal é preocupante, não que a americana não seja, mas ele é emitente da moeda de curso mundial, há risco efetivo de rompimento do teto orçamentário que é um fator crítico no Brasil, e a inflação brasileira já está mais presente do que percebida pelos indicadores divulgados, e, embora o COPOM relute em reconhecer esta realidade inequívoca que afetará a capacidade de consumo da população, o próprio mercado financeiro tende a trazer para o mercado de curto prazo o juro que já vem praticando no médio/longo prazo, e então a autoridade, não como protagonista como seria desejável, sanciona a elevação do juro “face ao novo cenário”.
Os primeiros sinais já ocorrem com bancos oferecendo aplicações aos seus clientes em parâmetros no entorno de 7% aa, o que já está bem identificado com o cenário prospectivo.
Há muitos teóricos e muitas teorias sendo postas, mas por mais que busquem justificar o fato é que todos não têm a mensuração efetiva do impacto da redução dos benefícios dos programas assistenciais do governo que ancoraram a economia nos últimos 6 meses, assim como, de forma sútil parecem ignorar que a expressividade do IGP-M que sinaliza projeção de 15% e que reajusta preços administrados, alugueres e serviços impacta fortemente na renda dos assalariados que tem seus salários corrigidos pelo IPCA, se tiverem nas atuais circunstâncias, afetando diretamente a capacidade de consumo.
O contexto atual tende a renovar o perfil do consumidor que deverá ter uma postura mais defensiva, menos consumista por atitude nova e por dispor de menos recursos, e isto terá peso na retomada da atividade econômica brasileira.
O Brasil nos próximos 45 dias deverá maturar a nova experiência de menor poder de consumo da população com a redução dos recursos dos programas sociais e poderá antever a perspectiva mais acentuada pós dezembro, e ter a percepção efetiva do impacto do IGP-M abusivo nos itens de consumo obrigatório e inevitáveis das famílias altamente redutor da renda.
Não nos parece razoável nutrir expectativa de melhor desempenho da economia brasileira e de perspectivas mais favoráveis para a Bovespa, que entendemos deverá se manter no entorno de 100 mil pontos, com viés de baixa.
O dólar, a despeito da crítica situação fiscal do país, contrariando os teóricos não deve ser a caixa de ressonância desta fragilidade, visto que não há no horizonte perspectiva de demanda crescente e legítima da moeda, sendo mais razoável admitir-se que as posições compradas em dólar no mercado futuro passem a ter uma tendência de desmanche.
Com esta percepção é que acreditamos na gradual queda do preço do dólar ao nível de R$ 5,00, o que será benigno para atenuar a inflação decorrente do impacto dos preços de produtos agrícolas e pecuários exportáveis no mercado interno.
Gradualmente, poderão ser mais bem avaliados os impactos da pandemia do coronavírus em todos os seus aspectos econômicos e fiscais, e, melhor percepção sobre a efetiva sinalização de recuperação da atividade econômica.
Parecem evidentes que o país tem na atualidade maiores vulnerabilidades do que no momento antecedente à pandemia do coronavírus, havendo muito a ser observado com extrema acurácia.