O mercado de açúcar em NY fechou a semana caindo 61 pontos no primeiro vencimento (maio/2013), uma queda de mais de 13 dólares por tonelada. Os demais meses que servem para fixar a safra 2013/2014 fecharam com baixas de 10 dólares por tonelada. Durante a semana o vencimento maio/2013 atingiu 17,25 centavos de dólar por libra-peso que foi o mais baixo dos últimos 700 pregões, desde 19 de julho de 2010 não víamos o mercado em nível tão pressionado.
As fixações de preço pendentes contra o primeiro mês, que expira na terça-feira que vem, pesaram durante a semana. Muita gente segurou as fixações apostando numa melhora do mercado, quiçá ajudado pela repercussão da desoneração do etanol e no final do pregão de sexta-feira despejaram o que tinham para ser ainda fixado. Pode ser que depois da entrega a pressão diminua, mas o mercado continua ruim, com demanda pequena e mau humor grande.
Anunciadas com a habitual pirotecnia petista ooops! governista, as medidas de incentivo ao etanol são insossas e não mudam em absolutamente nada o status quo, demonstrando uma vez mais que o setor sucroalcooleiro, se depender da inteligência do governo para apresentar alguma coisa que preste para fomentar o setor, está em maus lençóis. Desoneração não resolve o problema e tapa-se cada vez mais o sol com a peneira. Chegamos a tal ponto de distorção, ou desespero sei lá, que até gente séria pede a volta da CIDE para que o etanol volte a ser competitivo. Parece o cara que troca ser jogado do 10º andar do prédio por ser atirado do 6º. Vai morrer do mesmo jeito, só que mais rápido.
Para completar o céu carregado de nuvens pretas, o preço do etanol caiu durante a semana, o real se desvalorizou em relação ao dólar, o clima está absolutamente favorável nesse inicio de moagem e os telefones tocam muito pouco na mesa dos ávidos vendedores de açúcar. Ou seja, um filme do Hitchcock. Como temos dito nesse espaço, apenas fatores exógenos como clima e/ou congestionamento no porto (apagão logístico) podem mover esse mercado para próximo dos 20 centavos de dólar por libra-peso. Mas nem tudo está perdido. Conversando com um conhecido analista gráfico em seminário durante a semana que se encerrou, descendo a escada que levava ao coffee break, me surpreendi quando ele disse que o mercado “deve recuperar e acredito que o vencimento outubro/2013 pode chegar nos 21 centavos de dólar por libra-peso”. Está mais fácil encontrar Wally do que um altista nesses dias.
Voltando a questão das medidas anunciadas pelo governo, o fato é que não existe solução inteligente para o crescimento sustentável do setor sucroalcooleiro que não contemple o livre mercado. Para que o setor possa crescer e se preparar para atender a uma demanda potencial estimada de mais de 380 bilhões de litros acumulada nos próximos 10 anos a gasolina no Brasil terá que seguir uma fórmula que reflita os preços do mercado internacional. Fora disso, vamos continuar enxugando gelo.
Na situação sem saída em que se encontra, a menos que algum paraquedista ou aventureiro apareça, pode esquecer que não vai pingar um centavo de dólar novo, seja ele de investidor estrangeiro ou nacional, enquanto o dono do dinheiro não tiver absoluta certeza das regras do jogo e de como os preços do etanol serão formados. Enquanto isso não ocorre - e acho que só muda quando tivermos no governo pessoas com vontade política, com disposição para um diálogo franco e com indiscutível capacidade de gestão - lança-se mão de artificialismos e paliativos que só vão empurrar o problema com a barriga. Solidarizo-me com aqueles que precisam, por dever de ofício, sentar-se à mesa de negociação com essa turma aí. Só com a aplicação na veia de doses cavalares de chá de boldo ou um fígado de aço inoxidável para ouvir as cantilenas dessa gente.
Se o consumo mundial de açúcar crescer em média 1,5% ao ano nos próximos 10 anos e o Brasil mantiver sua participação no mercado internacional e, adicionalmente, chegarmos a um consumo doméstico de etanol em 48 bilhões de litros, precisaremos moer na safra 2023/2024 conservadoramente aproximadamente 1 bilhão de toneladas de cana, contra as 640 milhões de toneladas que o Brasil mói hoje. Ou seja, o setor vai precisar de alguma coisa ao redor de 100 novas unidades produtoras de 4 milhões de toneladas de capacidade média de moagem até lá. Em média, investimentos anuais de 5-6 bilhões de dólares.
Surpreendente como a volatilidade continua em queda. A dos últimos 20 dias anualizada (período compreendido entre 26 de março e 23 de abril) é de incríveis 14,89%. Basta notar que o intervalo entre a mínima e a máxima desses últimos 20 pregões foi de apenas 68 pontos, apenas 3,83% da média do fechamento do mesmo período. A última vez que tivemos uma oscilação tão baixa como esta foi em outubro de 1997 (3,80%). E a mais baixa desde 1961 foi de 3,13%, naquele mesmo ano quando o mercado oscilou apenas 9 pontos em 20 dias. Dos mais de 13.000 pregões realizados no açúcar desde sua versão atual, em apenas 26 deles a oscilação foi menor que 3,83% da média dos fechamentos de um período móvel de 20 dias, ou seja, 0,2% das ocasiões. Isso é apenas para mostrar a singularidade desse momento.