Não há fundamento crível que possa abalar e fazer do dólar o sensor dos temores e tensões em torno da sucessão presidencial de forma sustentável, e refletir alguma fragilidade sinérgica com a atividade econômica brasileira amplamente deteriorada e, esta sim, muito dependente em perspectiva de quem assumirá a Presidência.
Da dificuldade do entendimento deste complexo quadro contraditório em que o país, desta vez e de forma contundente, não ter fragilidade cambial, mas em contraposição ter um quadro econômico, sem envolver o câmbio, em estado requerente de medidas improrrogáveis para sair da expressiva crise em que foi envolvido, com destaque para o déficit fiscal, mas não menores na área da atividade, emprego, renda e consumo, surgiu a oportunidade de viabilizar um movimento especulativo ainda que sem fundamentos.
Este ano de 2018 encontra o país com um quadro absolutamente confortável no câmbio, rigorosamente oposto ao quadro de 2002, mas no “imbróglio” oportunista gerado pelo mercado se ignoraram os números destes anos e houve forte indução à crença de que o país revivia o mesmo cenário.
Então, quanto mais confuso se tornava o quadro maior o estímulo a não percepção da realidade, e desta forma todos os ruídos propagando temores se tornaram campo fértil para assentar o movimento especulativo oportunista.
O BC, mais uma vez, cometeu o erro da omissão, do silêncio, quando deveria ser o primeiro a propagar a solidez cambial do país. Entendemos que era seu papel acentuar a comunicação com e para o mercado para eliminar temores e tensões construídas e improcedentes.
Vimos então ocorrer o fato de que “de tanto se mentir tantas vezes, tudo parece ser verdadeiro”, mas por outro lado não é possível “enganar-se a todos o tempo todo”, em algum momento a realidade aflora e as consequências, aliás como já visto no passado, podem ser drásticas com as enormes perdas aos apostadores no blefe.
E este momento está chegando antes do pleito eleitoral, quando na realidade se imaginava o pico da especulação colocando o preço da moeda americana em patamares absolutamente inconsequentes e improcedentes.
O câmbio brasileiro tem uma estrutura tão sólida, como já ressaltamos inúmeras vezes, que é indiferente quem quer que seja o próximo Presidente, embora seja relevante para os demais segmentos da economia.
Nem a probabilidade de termos a polarização entre Bolsonaro e Haddad para o segundo turno é capaz de acirrar mais os ânimos, até porque foi sempre uma possibilidade posta no radar, se bem que silenciada por conveniência.
Na realidade todo o conjunto de fatores de influência internos e externos, inclusive os cenários adversos às expectativas do mercado, foram precificados com folga para o pior quando o preço da moeda americana evoluiu de R$ 3,30 para R$ 3,80.
Acima disto, a evolução a partir de meados de agosto ensejada pelos “players” que adquiriram contratos de swaps cambiais sem o objetivo de hedge em final de junho foi o determinante da implementação do movimento especulativo, que a rigor estava almejando conduzir o preço da moeda americana ao entorno de R$ 5,00 ou mais como se manifestaram alguns participantes do mercado.
Mas, com a proximidade das eleições e melhor definição das tendências está ficando claro de que os receios e temores não tem a força propulsora para afastar o preço da moeda americana de forma sustentável do seu eixo de equilíbrio.
Desta forma é muito mais provável o retorno do preço, mesmo com a resistência dos especuladores, a R$ 3,80 do que ao imaginado R$ 5,00.
Basta tão somente cair mais um pouco, em torno de 7,9%, e estará em R$ 3,80. Não é difícil!
Nem mesmo na Bovespa onde seria razoável admitir, como admitimos, um movimento de realização face às perspectivas para a economia brasileira no curto/médio prazos ocorrem precipitações e o câmbio não é fator conturbador, pois os investidores estrangeiros têm os seus recursos adequadamente protegidos.
A SELIC está mantida pelo COPOM, e com o recuo do preço da moeda americana muito provavelmente será mantida também na próxima reunião, a despeito de alguns aumentos de preços ocorridos no período de alta da moeda americana que deverão ser revertidos.
O fluxo cambial até o dia 14 divulgado pelo BC hoje não revela nenhum movimento de fuga de recursos do país. A semana teve um fluxo cambial liquido negativo de US$ 619,0 Mi, decorrente de positivo comercial de US$ 274,0 Mi e negativo financeiro de US$ 893,0 Mi. O fluxo cambial no mês está negativo em US$ 1,317 Bi, mas como os bancos detém US$ 2,150 Bi em linhas de financiamento em moeda estrangeira tomadas do BC, ainda resta um colchão de liquidez da ordem de US$ 833,0 Mi, o que pode levar o BC a realizar leilão de linha de financiamento em moeda estrangeira para irrigar a liquidez do mercado à vista.
Não será rigorosamente uma surpresa se o preço do dólar mostrar tendência consistente de depreciação a ponto de suscitar expectativa de retorno, antes do previsto, a R$ 3,80, a despeito de ocorrência de volatilidade decorrente da ação de resistência dos especuladores.