Era para ser uma semana em que ativos como ações e commodities seriam turbinados pelo “entusiasmo com o corte de juros".
Mas parece que esse não é o caso no petróleo.
Preocupações com a demanda continuam pesando sobre o ouro negro, apesar da previsão do primeiro corte de juros em uma década nos EUA, o que poderia favorecer as commodities.
No pregão de segunda-feira, os futuros do petróleo iniciaram o dia em baixa diante da perspectiva de crescimento econômico mais fraco no Japão, um sinal de que as consequências da guerra comercial entre EUA e China podem ser mais profundas. Os investidores do petróleo também se viram afetados pelo arrefecimento das tensões geopolíticas com o Irã, na medida em que a República Islâmica iniciou conversações cordiais com as potências ocidentais sobre seu futuro nuclear.
Tanto o petróleo West Texas Intermediate quanto o Brent, referência do produto fora dos EUA, encerraram a sessão de segunda-feira em alta, graças à perspectiva de pelo menos um corte de 25 pontos-base pelo Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) nesta semana.
O pregão desta terça-feira também abriu em condições relativamente positivas na Ásia.
Sensação incômoda de que o petróleo pode encerrar a semana em baixa
Mas persiste a sensação incômoda de que quaisquer ganhos auferidos pelo petróleo podem ser mitigados até o fim da semana, já que as preocupações com a demanda continuam gerando apreensão no mercado.
Phil Flynn, analista sênior de energia do Price Futures Group, de Chicago, considerado um “touro” convicto no petróleo, resumiu o panorama durante o início da sessão desta segunda-feira em Nova York, quando o mercado estava em baixa:
“O petróleo está em banho-maria, pois os mercados esperam os resultados das tratativas comerciais entre EUA e China.”
“E, obviamente, a decisão do Fed é extremamente importante. A expectativa é que o banco corte as taxas de juros pela primeira vez desde 2008.”
“Toda essa previsão macroeconômica nos faz lembrar que os preços do petróleo se apoiam na ideia de crescimento mundial para o direcionamento do mercado.”
A expectativa de que o Fed cortará os juros em pelo menos 25 pontos-base em sua reunião de política nos dias 30 e 31 de julho desencadeou uma forte corrida nos mercados ao longo deste mês, ajudando os futuros do ouro a atingirem as máximas de seis anos acima de US$ 1.450 em determinado momento.
E, apesar de o WTI e o Brent estarem prestes a registrar seu segundo mês de perdas nos últimos três, ambos recuperaram parte da sua pior queda em julho graças a posições de compra apoiadas na especulação em torno da taxa de juros.
A decisão do Fed provavelmente ofuscará outros anúncios de política nesta semana pelo Banco do Japão e Banco da Inglaterra, que devem ficar em compasso de espera.
A decisão do Banco Central Europeu (BCE) de manter as taxas de juros na semana passada deu ao Banco do Japão um pouco de espaço para respirar, em meio a uma mudança para um posicionamento mais moderado por parte dos bancos centrais ao redor do mundo.
Se não houver movimentação, o Banco do Japão pode reforçar seu compromisso de manter as taxas de juros nas mínimas históricas, enquanto o Banco da Inglaterra pode fazer sua avaliação da atual baixa na economia britânica e de como irá responder em caso de um Hard Brexit.
Além disso, teremos uma semana repleta de dados, com o relatório de empregos nos EUA, juntamente com o PMI industrial da China, EUA e zona do euro, entre outros, colocando à prova as preocupações com a economia mundial em face de dados oficiais.
Em mais um sinal de desaceleração global, o Japão reduziu sua previsão de crescimento econômico para este ano – devido principalmente a exportações mais fracas –, o que reforça os temores de que a prolongada guerra comercial entre EUA e China está tendo grandes repercussões na terceira maior economia do mundo.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) cortou recentemente sua perspectiva de crescimento mundial, ao passo que o presidente do BCE, Mario Draghi, declarou na semana passada que o prognóstico para a economia da zona do euro estava ficando “cada vez pior”.
Arrefecimento das tensões iranianas não está ajudando
Nas tratativas nucleares iranianas, Abbas Araqchi, negociador sênior da República Islâmica, classificou como “construtivas” as discussões com potências mundiais no âmbito do acordo de 2015 de Teerã, com “muitos compromissos” e “boas” discussões.
Se houver um arrefecimento maior nas tensões com o Irã ou se Teerã conseguir firmar um novo acordo nuclear com o governo Trump para suspender as sanções ao seu petróleo, há preocupações de que até 2 milhões de barris por dia a mais de petróleo poderiam entrar no mercado, neutralizando os cortes de produção da Opep e aumentando o excesso de oferta atual.
Além disso, os mercados apostavam em um corte de 50 pontos-base na taxa de juros do Fed em meados de julho, mas uma série de dados positivos, como o PIB dos EUA no segundo trimestre, reduziu essas esperanças.
Mais importante do que os acontecimentos de quarta-feira é a expectativa do mercado quanto à ação subsequente do Fed a partir de setembro. É aqui que a verdadeira decepção pode acontecer para os investidores do ouro, pois o Fed pode não ser tão flexível quanto se espera.
Após as decisões sobre juros, as atenções voltarão novamente para as tratativas comerciais
Alguns acreditam que o presidente do Fed, Jerome Powell, ainda pode provocar um prolongado rali no petróleo e no ouro com o que poderá dizer sobre a política monetária após a divulgação da declaração oficial do banco central norte-americano na quarta-feira.
TD Commodities afirmou em uma nota:
“Levando em conta que os mercados já precificaram um corte de 25 pb, suspeitamos que o foco estará voltado à coletiva de imprensa de Powell, que pode prosseguir com um tom moderado, afirmando que um crescimento mundial mais fraco pode continuar pressionando o motor da economia dos EUA.”
Os investidores de commodities também ficarão de olho nas tratativas comerciais de alto nível entre EUA e China, que serão retomadas nesta terça-feira, em Xangai, após sua interrupção em maio. As expectativas de um progresso significativo são baixas, e o prolongamento do processo pode, no melhor cenário, beneficiar compras de ativos de proteção, como o ouro.