A sociedade brasileira sonha com um país reordenado, crescendo e gerando emprego, renda e permitindo a retomada do consumo, com disponibilização de serviços efetivos na saúde, habitação e educação.
Um eventual novo governo pode prometer este “céu”, mas certamente terá dificuldade de entregá-lo no curto/médio prazos, visto que acomodado o quadro político, o que em si já será um grande desafio, terá que enfrentar de forma efetiva e pragmática um quadro macroeconômico abusivamente descontrolado, com perda de dinamismo expresso pela cadente perspectiva de repetência de retrocesso do PIB e com a atividade industrial em forte retrocesso, salvo eventuais espasmos de reposição de estoques.
A realidade da crise na economia, centrada numa retumbante crise fiscal, não sugere reversão imediata, mesmo com expectativas predominantes que mais se assemelham a anseios, porque a realidade mostra que o governo gasta incessantemente 10% acima do que consegue arrecadar que se aponta como 36%, então cortes nos custos de má qualidade serão inevitáveis para que o país não acabe tendo, em termos de gestão da economia, mais do mesmo e foco em ressuscitar a CPMF, contrariando o discurso de acesso que fala em não aumento de tributos.
Segundo dados do Professor Delfim Neto, o PIB do 4º T de 2015 caiu 6% frente ao PIB do 4º T de 2014, agregando mais 2 milhões de desempregados no período e as finanças publicas estão arrasadas apontando para um déficit fiscal de 10% considerando que o governo já arrecada 36% e que a continuidade da relação perversa dinâmica da DP/PIB deve persistir.
O quadro econômico do Brasil, em nosso entender, não reúne condições de reação reversiva imediata e o numero de 11 milhões de desempregados deve continuar se ampliando, com PIB e produção industrial avançando no negativo. Não há forma de estancar este quadro extremamente deteriorado, que requisitará medidas de ajuste bastante duríssimas até este momento não mencionadas.
O menú de ações proposto pelo pretenso próximo Presidente pressupõe que tudo será factível, como por exemplo, restabelecer as condições de equilíbrio fiscal estrutural. Como, quais serão as medidas duras de ajustes inevitáveis não tornadas publicas? E assim se segue com pontuação e informação indicativa sem fundamentação outros pontos. Certamente não será tão fácil quanto a letra posta no papel.
A construção do consenso em torno dos objetivos também deve considerar os interesses políticos de cada partido ou membro partidário, motivo de desagregação, afora o gravíssimo e latente problema que deverá gravitar no entorno da nova base de apoio ao governo, onde há grande predominância de membros citados na Lava Jato, processo que não terá como ser interrompido ou contido, até porque o governo atual já adiantou os recursos financeiros para este ano, segundo informações da mídia.
E a oposição do partido que será, caso se confirme no Senado, alijado do governo? Certamente será perturbador no entorno do novo Presidente, contestando-o permanentemente.
Há muitos contratempos e dificuldades adiante e, no nosso entender, se tudo ocorrer de forma positiva, o que nos parece otimismo demasiado, o país estará se tornando viável outra vez, embora de forma menos pujante, para a próxima eleição. Parece-nos que esta visão é que tem determinado postura de não aderência de alguns pretensos candidatos ao posto de Presidente na próxima eleição.
Se o BC não envidar esforços para reconstituir o preço da moeda americana à realidade do país teremos riscos. As exportações, cujo potencial está prejudicado e prevalecem acentuadas as agrícolas, poderão se configurar cadentes, enquanto as importações de insumos e produtos acabados poderá se fortalecer. Reflexos diretos na balança comercial, já com suas projeções atuais exacerbadas, e no déficit em transações correntes.
Investidores estrangeiros deverão ser sensatos, observarão as oportunidades de forma madura e não devemos contar com grandes volumes de ingressos.
Os IED´s podem ser comprometidos até que se tenha mais clareza sobre o todo e perspectivas fundamentadas.
Há o risco do aumento do juro americano impactar e provocar a saída de recursos.
As empresas nacionais, como já salientou a agência de rating Moody´s, devem encontrar menor liquidez para atender as suas necessidades oriundas do exterior ou via bancos com origem no exterior. O mercado global deverá ser mais seletivo e os bancos que operam no país devem seguir esta dinâmica , e esta visão está clara no aumento de provisões apresentado em seus balanços.
O contexto de expectativas fundamentadas sugere que ainda é extremamente precoce a precificação ocorrida nos ativos brasileiros com tamanha volúpia, pois poderá motivar a ocorrência de mutações muito bruscas quando ocorrer o choque de realidade.
Na realidade temos um governo que já não consegue governar e à frente se sugere que tenhamos um novo governo altamente envolvido num imbróglio pouco transparente no momento, que sugere amplas dificuldades na construção do consenso político em torno das medidas duras de ajustes, até o momento convenientemente não mencionados, e da inquietação em torno do anseio da reversão do status quo da economia brasileira, irrealizável com resultados no curto/médio prazos.
Tudo indica que o país ainda conviverá com tempos perturbadores, pois a tarefa de reconstruções será árdua, dura e longa.
Então, porque precificar os ativos com base em perspectivas frágeis nos seus fundamentos nesta fase?
O dólar precisa sofrer considerável apreciação frente ao real para conviver com a sua realidade, ao mesmo tempo em que a BOVESPA precisa perder parte da alta improcedente que conquistou.
Por ai, deve começar o ajuste produzido pelo mercado financeiro!
Por enquanto as expectativas não tem como ser bem fundamentadas, portanto não podem sancionar os fatos almejados.