O mercado de açúcar em NY surpreendeu a todos e fechou a semana com acentuada baixa de 66 pontos em relação à sexta-feira anterior, cravando no vencimento maio/2014 17.28 centavos de dólar por libra-peso. Os demais meses que refletem o ano safra 2014/2015 fecharam com baixas entre 36 e 52 pontos na semana, ou seja, entre 8 e 11.50 dólares por tonelada.
As chuvas voltaram nas regiões canavieiras do Centro-Sul, a safra da Tailândia está adiantada em relação ao ano passado em mais de dois milhões de toneladas e o que se viu no mercado futuro de açúcar foi uma tomada de lucros por parte daqueles que estavam comprados. Uma ou outra empresa que ainda segurava suas fixações de venda pode ter sido surpreendida pela queda abrupta e ajudou também a pressionar os valores negociados em NY. Para muitos, no entanto, a queda em NY constitui-se mais em uma oportunidade de compra.
Acabou o ciclo de alta? Acreditamos que não. Mas algumas coisas atrapalham o caminho trilhado pelos touros. O mercado físico de açúcar para exportação está muito parado, sem negócios. No entanto, a percepção de que teremos uma safra de cana bem abaixo das expectativas aumenta. Muitas tradings, por exemplo, acham que o número deverá se aproximar dos 570 milhões de toneladas, no máximo. Vamos voltar ao tema, logo em seguida.
O volume de exportação de açúcar no mês de janeiro de 2014 foi de 2.137.781 toneladas levando o acumulado de doze meses para 26.995.067, um acréscimo de 6.2% no período. O preço médio de venda foi de US$ 429,35 por tonelada. Já o etanol, no entanto, acumula nos doze meses, uma exportação de 2,744 bilhões de litros, uma queda de 14.7% em relação ao mesmo período do ano passado, com preço médio de venda em US$ 641,85 por metro cúbico.
Bem, vamos estimar que as exportações do Brasil na safra 2014/2015 sejam de 26 milhões de toneladas de açúcar que, se assumirmos que as exportações nos meses de fevereiro e março de 2014 somem 3.4 milhões de toneladas, fariam com que encerrássemos a safra 2013/2014 com 26.7 milhões de toneladas, ou seja, vamos considerar 26 milhões de toneladas para 2014/2015 que representariam uma queda nas exportações de açúcar de mais de 2.5%. Acrescente-se a esse volume mais o consumo interno de açúcar no volume conservador de 12 milhões de toneladas. Ou seja, o potencial de consumo de açúcar no Brasil, exportação e mercado interno, somam 38 milhões de toneladas.
Agora, vamos ver o etanol. Vamos estimar que as exportações de etanol na safra 2014/2015 minguem para 1.8 bilhão de litros, considerando que existem contratos de longo prazo. No mercado interno, a crescente frota de veículos flex abre um grande potencial de consumo no álcool carburante. As vendas acumuladas de etanol no Centro-Sul, até janeiro deste ano, portanto considerando 10 meses, apontam para 9.253 bilhões de litros de anidro e 12.487 bilhões de litros de etanol. Vamos estimar o número total de consumo no Brasil em 27 bilhões de litros.
Precisamos ter cana suficiente para atender a um consumo de 38 milhões de toneladas de açúcar e 27 bilhões de litros de etanol. Assumimos que a ATR média do Brasil (Centro-Sul e N/Nordeste) seja de 133 por tonelada de cana. Para isso, a quantidade de cana a ser colhida no Centro-Sul tem que ser no mínimo de 612 milhões de toneladas. Lembrando que as previsões feitas acima são conservadoras. Se considerarmos que a estimativa média que o mercado trabalha hoje para a safra 2014/2015 é de 570 milhões de toneladas, estamos falando de um déficit de 42 milhões de toneladas de maneira bem conservadora.
Para finalizar, coloque nessa receita o excesso de chuvas em julho (como se noticiou essa semana, vindo da Australia, a possibilidade do El Nino), uma desvalorização do real que encarece a importação de gasolina e aumenta utilização do etanol, arbitrando com o preço do açúcar no mercado internacional. Ou ainda, um eventual apagão energético no país (segundo especialistas, existe a chance de 20%).
Por onde quer se olhe, existem muito mais fatores que darão suporte aos preços do açúcar e, em alguns casos até mesmo um aumento explosivo de preços, do que existem fatores que podem fazer que os preços caiam para os níveis mais baixos que vimos recentemente.
A volatilidade do mercado continua crescendo em ritmo alucinante. E temos tocado nessa tecla, os leitores são testemunhas, até desgastá-la. A média de 200 dias é de 22.77%. Quando olhamos 100 dias, uma ligeira alta para 25.08%. Nos últimos 40 dias 35.25%. E nos últimos 20 dias, 43.25%. Ou seja, a busca por proteção tem ficado bem cara. A percepção do risco de oscilações violentas tem aumentado substancialmente. O mercado deve ter uma grande virada.
Onde você gostaria de colocar suas fichas?
Uma semana para todos