O fluxo cambial líquido financeiro da 1ª semana do 2º semestre deixou bastante evidente a tendência que deve predominar doravante e de forma crescente .
Foi de US$ 1,712 Bi líquido negativo em apenas quatro dias. No ano até o dia 4 último o saldo de fluxo financeiro negativo atinge US$ 456,0M, a despeito dos ingressos terem atingido US$ 254,191 Bi, com substantiva participação de ingressos de capitais especulativos direcionados para mercado de juros e Bovespa.
Em concomitância com o considerável volume de ingressos financeiros ocorreu volume de saída mais intenso nem sempre bem percebido pelos analistas, que focaram muito os ingressos e até atribuíram aos mesmos a apreciação do real ocorrida no período.
Há portanto, estima-se, relevante volume de capitais especulativos que deixarão o país neste 2º semestre, primeiro por ser da natureza destes recursos a curta permanência, mas há também muitas incertezas econômicas e políticas no ambiente prospectivo para esta fase do ano, e, este tipo de recurso tende a afastar-se quando incertezas ganham força.
Há, cada vez menos oportunidades de apostas certeiras num ambiente com a conjuntura que se projeta para o 2º semestre, então é hora destes recursos especulativos baterem em retirada do país. Estes recursos forjados a partir de operações montadas de “carry trade” não convivem com as perspectivas que possam representar possibilidade de perdas e aparentemente esta estratégia está chegando à exaustão, até porque também existem incertezas sobre a postura e ação do FED ante a melhora dos dados econômicos americanos.
Acreditamos que o país esteja na iminência de ver acentuar-se o movimento de saídas de recursos adentrados no 1º semestre, em especial no 1º trimestre, e, então, teremos um novo comportamento para a formação da taxa cambial, respondendo menos às ofertas de “swaps cambiais” que gradualmente deve ter a demanda fragilizada e demandando maior liquidez no mercado à vista, que precisará de moeda estrangeira disponível.
Evidentemente que no fluxo de ingressos financeiros adentrados no 1º semestre estão captações de recursos por empresas nacionais, até como antecipações para evitar o 2º semestre onde se supõe que haverá recuo nestas captações externas, o que também contribuirá para a queda de ingressos.
A economia cambaleante e com dados em franca deterioração não enseja e nem motiva investimentos externos na conta de capital, o que deverá refletir em queda dos IED´s e na insuficiência de financiamento para o déficit em transações correntes que se projeta ser bem maior do que os US$ 80,0 Bi estimados pelo governo, pois a estratégia de fazer do real apreciado instrumento de combate à inflação, em contraposição ocorre a elevação expressiva deste déficit.
As importações cadentes de forma expressiva no 1º semestre em razão da baixa atividade econômica e que tem aliviado a pressão maior sobre o saldo da balança comercial que poderia ser expressivamente negativo, face à não propensão de investimentos pelo setor produtivo nacional, poderá ser retomada pelas próprias industrias brasileiras para atender a demanda em fase de não expansão de produção e valendo do preço excessivamente depreciado do dólar. Este seria um cenário constrangedor, pois poderá gerar desemprego e perda de renda em nossa economia.
E o pior, não há o que o governo possa fazer para reverter eficazmente as expectativas para a economia brasileira no curto prazo.
Tudo fortalece a perspectiva de aumento da pressão sobre o preço da moeda americana no mercado à vista, e isto não se resolve com venda de “swaps cambiais”, pois a demanda deixa de ser por proteção e, então, transita para a necessidade de moeda disponível para dar suporte as saídas.
A questão é: quem será o gerador da liquidez para o mercado à vista? Bancos com a ampliação de suas posições vendidas que já acumular US$ 15,0 Bi num cenário adverso de fluxo cambial ou o BC finalmente realizando leilões de venda de moeda efetiva retiradas das reservas cambiais brasileira?
Desfazer-se de parte das reservas cambiais para atender insuficiência de fluxos seria a decisão natural, mas num ambiente em que o mercado internacional vive atribuindo vulnerabilidades ao Brasil, desfazer-se mesmo que em percentual discreto das reservas cambiais poderia aumentar a intensidade desta percepção externa, ensejando até algum movimento especulativo pontual sobre o real.
Há efetivamente muitas incertezas para este 2º semestre que está só começando, e todas conduzem à elevação do preço da moeda americana no nosso mercado de câmbio.
As estimativas conservadoras colocam o preço da moeda americana para o final do ano em R$ 2,40, mas há outras que o colocam um pouco acima. O fato é que a rigor existe uma propensão a alta de 10% até o final do ano, no mínimo, e isto pode representar eventual ocorrência de elevação abrupta dado o curto período até o final do ano, podendo impactar forte na inflação que já está um pouco acima do seu pico mais alto tolerável.