O fluxo cambial está positivo no ano em US$ 2,770 Bi, mas não deve causar entusiasmo e nem permitir expectativas de que o país esteja atraindo liquidamente grande e sustentável ingresso de recursos externos.
No mês de março está positivo em US$ 3,016 Bi, sendo US$ 890,0 M de origem comercial e US$ 2,125 Bi de origem financeira, mas na semana de 10 a 14 o resultado foi positivo em tão somente US$ 313,0 M, resultante de fluxo comercial positivo de US$ 692,0 M e financeiro negativo de US$ 379,0 M.
O Brasil tem montante em torno de US$ 84,0 Bi vincendos este ano de compromissos do setor privado, sendo algo em torno de US$ 35,0 Bi de divida de longo prazo; US$ 21,0 Bi de divida de curto prazo e mais algo como US$ 28,0 Bi de empréstimos “intercompanies”. É um volume considerável e devemos considerar que há propensão a rolagem parcial deste montante dada a baixa atratividade do país, neste caso mais acentuadamente pela ausência de oportunidades num ambiente de baixo crescimento do PIB, inflação e elevada carga tributária que coloca o país como “caro”, e naturalmente também pela queda gradual de liquidez que vem ocorrendo no mercado internacional face à redução do QE do FED americano e a elevação do custo dos recursos como consequência.
Além disto, temos uma natural contração de novos IED´s e empréstimos “intercompanies” para o país, em parte pelas mesmas razões que tendem a determinar a contenção das rolagens dos empréstimos “vincendos” neste ano, e mais, por riscos como o energético que inviabiliza projetos que atrairiam IED´s e que reforçam a baixa atratividade do capital produtivo pelo país.
A alternativa mais viável ao governo é atrair o capital volátil/especulativo que procura o país para arbitragem de taxa de juro em busca de rentabilidade, mas para tanto o preço da moeda americana precisa estar mais próxima da sua realidade face ao contexto atual, caso contrário tornar-se-á um risco ao investidor especulador, que em última instância ficará sujeito a um “hedge” elevado que acaba por inviabilizar a atratividade do juro.
Com tendências mais evidentes de que os fatores em torno do Brasil sugerem saída muito maior de recursos estrangeiros do que de ingressos, afora aceleração adicional que pode ocorrer ainda nesta fase 2 da transição da crise de 2008 de saídas de investidores para o mercado americano e de outros emergentes com melhor quadro macroeconômico e que pode acentuar-se com o inicio da fase 3 quando ocorrer a proximidade com a decisão do FED americano de subir o juro.
Por outro lado, não se pode esperar contribuição da balança comercial de forma mais efetiva, mas o preço mais elevado da moeda americana, além de atrair capitais especulativos, seria uma barreira natural à contenção das importações, aumentando a competitividade do produto da indústria nacional no mercado interno e eventualmente estimulando as exportações.
No ano passado tivemos um fluxo insuficiente em US$ 12,3 Bi que está “a resgatar”, já que o BC ainda não os honrou com venda de divisas das reservas cambiais, sustentando esta posição negativa com financiamentos de linhas do BC aos bancos que assim dão suporte às suas posições “vendidas” no mercado à vista, constituídas em consequência da insuficiência de fluxos positivos para o país. Esta é uma estratégia, mas se os fluxos cambiais para o país não se recuperarem precisarão ser resolvidos com venda de dólares pelo BC das reservas cambiais.
Este ano podemos ir além deste montante e então, será inevitável fazer uso das reservas cambiais.
Os bancos estão com base no último relatório do BC sobre o fluxo cambial com posições vendidas no total em torno de US$ 15,6 Bi e a autoridade monetária tem um total de US$ 13,3 Bi de linhas de financiamentos em moeda americana concedido aos bancos. O montante de US$ 15,6 Bi é o que está faltando até o momento.
O país tem uma projeção de déficit em transações correntes de US$ 78,0 Bi, realizada pelo próprio BC e a perspectiva face ao contexto geral é que, a exemplo do ano passado, o total de ingressos será insuficiente e este fato na medida em que torne mais perceptível colocará pressão no preço da moeda americana no nosso mercado à vista.
Nosso entendimento é que o próprio BC teria interesse numa taxa cambial mais elevada para, como já salientamos, atrair capitais especulativos para renda fixa; encarecer importações; aumentar a demanda interna de produtos nacionais incentivando a indústria nacional; etc...
Mas, contrariamente a sua expectativa, defronta-se com forte pressão inflacionária neste 1º trimestre do ano, tendo como carro chefe os alimentos em consequência dos efeitos de um verão com temperaturas atípicas.
Então, fica num “corner”, como conviver com inflação alta que precisa ser combatida com taxa SELIC maior do que havia imaginado utilizar e ao mesmo tempo com o preço da moeda americana não rigorosamente apreciada, mas no seu preço justo face ao contexto.
Os “comprados” na BM&F vem reduzindo suas posições e os vendidos vêm pressionando a baixa colocando o preço em irreais R$ 2,33. O BC deveria rolar parcialmente e em volume baixo a posição vincenda de “swaps cambiais” de US$ 10,0 Bi na virada do mês, mas se o fizer provoca a alta do preço da moeda americana, que acreditamos desejável, mas inconveniente para o momento que já tem pressão inflacionária em demasia.
O IGP-M da FGV apontou inflação de 1,41% na segunda medição de março e o IPC-FIPE 0,68% na segunda prévia, ambos pontificando os produtos agropecuários como causa maior.
E agora, com a retirada pelo FED da taxa de desemprego como um dos parâmetros para subir o juro, indicando que vai observar para fatores mais qualitativos do mercado de trabalho, salientando que continuará visando o objetivo de máximo emprego e busca que a inflação fique em 2%. Portanto, a decisão na realidade ficou sem marcadores e vai depender da observação dos membros do FED sobre a evolução da economia, que continuam entendendo que está em bom ritmo, reconhecendo que os problemas climáticos impactaram desacelerando o ritmo de crescimento nos últimos meses.
Pesou sobre o ânimo do mercado a colocação de Janet Yellen de que continuará com a redução do QE, para o qual foi deliberado mais um corte de US$ 10,0 Bi, deixando antever que vai neste ritmo até o encerramento e sinalizou que a alta do juro pode acontecer no inicio de 2015, mas que será mantido ainda em números baixos por um tempo considerável. Na conferência com a imprensa Yellen foi arguida sobre o que seria “tempo considerável”, ao que respondeu que pode ser tão curto quanto 6 meses.
Como o mercado global já deixou evidente quando Bernanke anunciou a perspectiva de inicio do “tapering” no começo do ano passado, o mesmo parece ter sido sinalizado ontem quando Yellen falou da alta do juro.
Este fato pode precipitar gradualmente a intensificação de saída de recursos do Brasil direcionados para o mercado americano. Esta seria a fase 3 da transição da crise iniciada em 2008, sem que ainda tenhamos sofrido os efeitos esperados para a fase 2.
O fato é que o setor externo é o grande desafio para o governo neste ano, e, embora tenha assumido um programa de austeridade fiscal e cortes no orçamento, cada dia aparece um fator interno contrário como a questão energética, o déficit subestimado da Previdência, etc..., aparentemente o país só terá oportunidade de reconquistar a credibilidade com a efetiva entrega dos compromissos assumidos em relação à política fiscal e redução de gastos.
Tudo leva a crer que por inevitável a perspectiva mais factível é que teremos dólar apreciado e taxa SELIC em alta.
É sempre bom lembrar que “swap cambial” não é dólar moeda e sim instrumento financeiro indexado e que é liquidado em reais pela diferença entre câmbio e juros e serve para proteção para o preço e não tem poder de pagamento de divida ao exterior. O BC tem um montante pouco acima de US$ 85,0 Bi destes instrumentos vendidos ao mercado para “hedge”, mas quando a demanda para saída de recursos do país ocorre são necessárias divisas, visto que “swap cambial” não resolve para impedir a alta.