Fluxo cambial veio melhor que o esperado, mas deve ter vida curta!

Publicado 24.04.2014, 09:41

O mercado de câmbio esperava um resultado de fluxo cambial menos favorável na tabulação de dados até o dia 17 (efetivo dia 15) pelo BC, o que não se confirmou e como consequência impactou favoravelmente depreciando o preço da moeda americana no nosso mercado à vista apreciando o real, contrariando a tendência internacional, mas tudo leva a crer que este cenário não se sustentará e a mudança virá a partir da semana próxima.

O fluxo cambial na semana de 14 a 17 foi positivo em US$ 2,374 Bi, acumulando no mês US$ 3,375 Bi e no ano US$. 5,433 Bi, equivalente a 2,5% do volume ingressado no país.

No ano até o dia 17 de abril (acreditamos tecnicamente operações até dia 15) ingressaram no país US$ 214,0 Bi e saíram US$ 208,5 Bi, sendo que em torno dos ingressos sempre houve muitos ruídos, havendo pouca percepção do extraordinário montante de recursos que está deixando o país.

Foi pouco, insuficiente inclusive para reverter o fluxo cambial negativo advindo do ano passado e que vem sendo carregado pelas posições vendidas dos bancos, atualmente, de US$ 10,8 Bi, suportadas por linhas de financiamentos concedidas pelo BC que comprometem 3,10% das reservas cambiais brasileiras.

O Brasil precisa de maior volume de fluxo cambial liquido para atribuir ao fato a apreciação do real, pois as posições vendidas dos bancos representam efetivamente dólares insuficientes no fluxo.

E devemos considerar que ocorre antecipação de captação de recursos por parte das empresas, numa clara postura preventiva e cautelar de maior dificuldade para que sejam realizadas na proximidade das eleições presidenciais.

É relevante destacar que embora as atenções venham se fixando com grande intensidade nos ingressos de recursos no país, parece que não tem sido rigorosamente observado o volume quase equivalente de saídas de recursos do país. É bem provável que parte destes ingressos se tratem de rolagem, ainda que parcial e até antecipada, dos compromissos de empréstimos de curto e longo prazos e ainda de empréstimos “intercompanies” do setor privado que montam algo em torno de US$ 84,0 Bi este ano.

Aliás, a bem da verdade, é bem possível que ocorra rodada de saída intensa de recursos do país coincidente com as eleições, não só pelo fato, mas principalmente pela proximidade da mudança de politica monetária nos Estados Unidos no 1º semestre de 2015.

Já há forte percepção de que já está ocorrendo um movimento de desmanche dos investimentos com capitais especulativos na BOVESPA desde o dia 16 mais acentuadamente, e que este fato ainda não foi captado pelo fluxo tabulado pelo BC com data até 17 tendo em vista que a autoridade monetária computa as operações pela data de liquidação, normalmente D+2, o que sugere que só contemple as operações realizadas no mercado à vista até o dia 15 passado.

A BOVESPA que apresentou valorização acima de 15%, com destacada participação da Eletrobrás com valorização de mais de 50% e Petrobrás indo além dos 30%, proporcionou ganho rápido ao capital especulativo, nem tanto pelos fundamentos dos papéis, mas por novas perspectivas eleitorais advindas de pesquisas recentes, que no entendimento do mercado acionário poderiam vir a melhorar aquelas importantes empresas, que estavam bastante desvalorizadas.

O ganho rápido e a forma com que isto foi conquistado tornou as aplicações na BOVESPA de alto risco, o que sugere que os especuladores estejam desmontando suas posições com ganhos financeiros substantivos e saindo do país ainda usufruindo de uma taxa cambial bastante favorável para conversão.

Da mesma forma, embora o BC continuasse mantendo a oferta diária de 4.000 contratos de “swaps cambiais” novos, pouco menos de US$ 200,0 M, e rolando a posição vincenda de US$ 8,733 Bi de “swaps cambiais”, da qual falta rolar US$ 3,233 Bi, o preço da moeda americana vinha apresentando desde o dia 16 discreta, mas firme, apreciação frente ao dólar, acusando aumento da demanda no mercado à vista.

A reversão dos recursos especulativos ingressados no país, inevitavelmente, promoverá pressão de apreciação da moeda americana que não será passível de contenção com oferta de “swaps cambiais”, sendo necessária a oferta de moeda estrangeira efetiva pelo BC com oferta via leilão ao mercado, ou mediante a ampliação dos financiamentos de linhas de crédito em moeda americana para que os bancos elevem suas posições vendidas dando suporte à liquidez.

O ingresso destes recursos especulativos foi de grande valia para o BC no sentido de que mitigou a demanda por moeda efetiva que foi demandada para suportar o extraordinário volume de saída de recursos do país até 17 de abril passado, sem o que a taxa cambial teria revelado forte apreciação da moeda americana.

A reversão destes recursos que não vieram para ficar dada sua natureza poderá provocar mudança abrupta do preço da moeda americana no nosso mercado, e, o BC bem sabe disto, com fortes repercussões na economia.

O BC por sua vez defronta-se com pressão inflacionária bastante disseminada, mas preponderantemente advinda do item alimentos, utiliza a taxa cambial deprimida dentro do possível para atenuar a inflação, pelo menos enquanto não consegue conter a pressão altista dos alimentos.

No nosso entender, o BC está pretendendo realizar um movimento pendular, quando conseguir controlar melhor a inflação tenderá a atuar menos induzindo o dólar a depreciação, até porque sabe que está será uma missão muito difícil.

A perspectiva para o setor externo brasileiro neste ano é bastante desconfortante, sendo absolutamente irreal imaginar-se a sustentabilidade da taxa cambial com o real apreciado para conter as pressões inflacionárias, tendo em vista que o fluxo cambial tende a tornar-se negativo já provavelmente em maio, a despeito da melhora esperada para o fluxo comercial devido a negociação das safras agrícolas.

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