- As temperaturas acima da média no inverno do Hemisfério Norte estão fazendo os operadores venderem contratos futuros de gás natural, puxando os preços para baixo.
- No entanto, a estação fria apenas começou tecnicamente, e a situação pode facilmente mudar.
- As condições econômicas na Ásia, o ritmo de desaceleração industrial na Europa e os ventos fortes no Velho Continente também são fatores importantes para o mercado.
Após um feriado de Natal extremamente frio nos Estados Unidos, a maioria das regiões do país está agora registrando uma tendência de aquecimento. As temperaturas na Europa também estão acima do normal para esta época do ano.
Com isso, os preços do gás natural estão caindo em ambos os lados do Atlântico. Mesmo que apenas metade do inverno tenha passado, não há previsão de ondas de frio no curto prazo, razão pela qual os operadores do gás natural estão vendendo a commodity, como se a demanda do produto já houvesse atingido o pico. No entanto, a estação fria apenas começou tecnicamente, e a situação pode facilmente mudar.
A temperatura nos EUA e na Europa é um fator importante, mas é preciso levar outros fatores em consideração: o clima e as condições econômicas nos países asiáticos, o ritmo de desaceleração industrial na Europa e a persistência dos ventos fortes no Velho Continente.
As economias dependentes do gás natural, como Estados Unidos e Europa, estão tendo sorte até agora no inverno. Com exceção da onda de frio registrada no fim do outono na Europa e a semana gelada de Natal nos EUA, a verdade é que as temperaturas estão moderadas. A geração de energia eólica na Grã-Bretanha e na Alemanha tem sido robusta, graças à intensidade dos ventos.
A demanda geral por energia na Europa está abaixo do esperado, e os países do continente não estão precisando realizar racionamento para preservar combustível, situação que era considerada provável, diante do corte total das importações de gás natural da Rússia.
A frente fria ocorrida nos Estados Unidos durante a semana do Natal provocou uma grande retirada dos estoques de gás natural, além de forçar uma queda na produção do combustível em alguns locais, onde os poços congelaram, mas apenas cerca de 21% da produção de gás natural no país foi impactada por alguns dias.
Isso provavelmente será mitigado pelas temperaturas mais amenas em janeiro. Alguns analistas preveem que o início mais quente do ano-novo economizará 100 bilhões de pés cúbicos de gás natural durante as primeiras semanas de janeiro. Para fins de referência, os EUA produzem essa quantidade do produto todos os dias. Isso ajudará a reabastecer os estoques no país para o resto do inverno.
A cotação do gás natural é feita regionalmente, e não globalmente, pois, ao contrário do petróleo, é mais difícil transportá-lo através dos oceanos. No entanto, o preço à vista do gás natural liquefeito (GNL) é impactado pelas condições registradas em várias partes do mundo.
Neste momento, por exemplo, o clima mais quente na Ásia (sobretudo na China) ajuda a reduzir a demanda pelo produto nessas regiões. Como muitas economias asiáticas dependem da importação de GNL, seu preço à vista acaba caindo, ajudando a Europa a aumentar suas aquisições.
A Europa também tem se beneficiado da queda da demanda do GNL por parte de países em desenvolvimento, como o Paquistão e Bangladesh, que praticamente suspenderam a importação do produto na estação, por não poderem arcar com os preços mais altos. Com isso, seus estoques de gás natural estão muito baixos, obrigando-os a racionar energia e realizar cortes de fornecimento.
O Paquistão, por exemplo, fechou mercados e shopping centers em meados de dezembro e aumentou o teletrabalho no funcionalismo público, a fim de economizar energia. Várias indústrias europeias dependentes do gás natural também reduziram sua produção em 2022, devido aos preços elevados do produto e ainda não retomaram a plena capacidade.
É bem possível que os preços do gás natural disparem, se essas condições mudarem e a demanda aumentar. As empresas europeias podem decidir aumentar a produção industrial, graças à redução dos preços neste momento.
Os países em desenvolvimento podem retomar as compras de GNL, se receberem ajuda do FMI. Se houver uma reversão das condições de ventos, países como Grã-Bretanha e Alemanha, que dependem da geração de energia eólica, aumentarão o uso de gás natural e também terão que comprar eletricidade de outros países.
De acordo com os meteorologistas, as atuais temperaturas mais quentes se devem a um vórtice polar que está mantendo a frente fria no ártico. Embora não haja sinais de que isso se enfraquecerá nas próximas semanas, isso pode mudar em fevereiro.
O inverno ainda não acabou, e a frente fria pode voltar em março ou até mesmo abril. Várias semanas de temperaturas abaixo da média na Europa ou Estados Unidos podem esgotar os estoques de gás natural que foram acumulados. Nesse caso, os preços subirão, e a Europa pode novamente enfrentar a possibilidade de apagões.
Aviso: A autora atualmente não possui nenhum dos ativos mencionados neste artigo. Publicado originalmente em inglês em 06/01/2023