O milho e em medida um pouco menor, a soja, farão diferença no cenário dos frigoríficos em 2024, para além de qualquer antecipação de projeções do consumo doméstico e externo.
A elasticidade da oferta brasileira de grãos está cada vez mais comprometida, em um ambiente de consumo internacional satisfatório estimulando cotações, vai determinar o fator custo das matérias-primas vis-à-vis o poder de repasse à ponta final.
Só pelo segmento bovino, o impacto é um pouco menor, porque embora o confinamento exerça participação importante no setor exportador, ainda há um importante fornecimento de gado criado extensivamente a pasto.
Nos primeiros dois meses de 2024, o atraso das pastagens está meio que contratado depois do clima extremo recente – o mesmo que derrubará a produção de soja e, por tabela, a de milho que terá menor área -, segundo avalia Yago Travagini, da Agrifatto.
Mas depois virá a normalização e a sequência do ciclo de maior oferta de animais, ainda que os valores não cedam mais contra as mínimas de 2023, pensa o analista.
O Minerva (BVMF:BEEF3), só bovino, fica melhor na fotografia operacionalmente, e com expectativa de que as exportações fiquem em um ritmo pouco melhor que neste ano, avalia outro consultor, Hyberville Neto, da HN Agro.
Muito embora a companhia vá carregar o peso do endividamento da compra dos ativos do Marfrig (BVMF:MRFG3) por R$ 7,5 bilhões ainda pendente de aprovação no Cade.
No consumo dos frangos e suínos, a história é outra. Essas categorias não escapam desses insumos.
Em 2023, as indústrias surfaram nos preços mais baixos das super safras de soja e milho. Só este segundo teve baixa de mais de 20%.
No caso das aves, esse fator neutralizou a queda nas margens ocasionada pela maior produção.
Chicago ainda não precificou a provável menor produção do cereal de inverno, que de 102 milhões de toneladas estimadas pode resultar em até pouco menos de 90, porém no mercado interno isso já está sendo contabilizado, visto, por exemplo, nas telas do mercado futuro da B3 (BVMF:B3SA3).
Haverá menos hectares com milho, como Investing deu ontem, lembrando só pelo ganho da cultura do algodão.
Quanto à soja, o mercado de preços se debate entre um regime de chuvas melhor para as próximas semanas, podendo ainda se decepcionar com o USDA de janeiro, no entanto não deverá haver reversão da quebra. O Itaú BBA foi menos conservador que outros, já deixando a oferta brasileira em 153 milhões de toneladas, 2 milhões abaixo da marca da safra 22/23.
Com o adicional que o farelo de soja entrará em uma onda de novas plantas nos Estados Unidos, exigindo mais grãos, e tendendo a fortalecer os preços do complexo.
Para o JBS (BVMF:JBSS3), a sua controlada Seara, com seus frangos e suínos, só representa cerca de 11% da receita (3T23), mas não é totalmente desprezível, enquanto, seu negócio de carne bovina deverá seguir pressionado nos Estados Unidos.
O mesmo vale para o Marfrig em relação à carne bovina também no mercado americano, ao passo que os mais de 60% que detém na BRF (BVMF:BRFS3) terão que incorporar no valuation o peso da pressão que a dona da Sadia e Perdigão poderão carregar. Em 2023, essa avaliação da BRF não foi precificada nas ações da Marfrig.