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Herança Maldita

Publicado 07.12.2018, 20:25
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O ano de 2019 já está virando a esquina e deve trazer um sopro de renovada esperança para animar o país e, principalmente, o setor sucroalcooleiro. Após treze longos e tenebrosos anos de governo petista, em especial no trágico período em que Dilma Rousseff dava as cartas no Planalto e tratava a indústria sucroalcooleira com intenso desprezo, é um alento assistir ao afastamento definitivo, por meio das urnas, dessa súcia que destruiu o país.

Dilma e seu criador foram os grandes responsáveis pela situação de penúria em que muitas usinas se encontram assim como pelo desaparecimento de tantas outras unidades produtoras, seja por um real artificialmente valorizado que incentivou algumas usinas a tomada equivocada de empréstimos em dólares em meados da década passada, seja pela manutenção de uma política nociva de controle de preços do combustível, seja até mesmo pela imposição na mudança do corpo executivo de entidades ligadas ao setor com o qual ela não admitia como interlocutor, bloqueando o diálogo e as ideias.

São tantos os malefícios do governo do PT para com o setor, que o nome do prisioneiro e de seu poste de estimação deveriam ser extirpados dos registros históricos. Lula incentivou a expansão canavieira com promessas de fazer do Brasil a Arábia Saudita do etanol, no entanto quando o pré-sal foi descoberto no litoral brasileiro, ele deu uma banana para o setor, pois sabia que expropriar a Petrobras (SA:PETR4) seria tarefa muito mais fácil.

Grande parte da expansão foi desordenada e decidida com base mais na emoção do momento do que na razão explicitada pelos cálculos das planilhas de Excel. Em 2007-2008, o petróleo experimentava novas máximas no mercado internacional e o setor não agregou um centavo de real que fosse na sua receita. A lua-de-mel de Lula com o setor automobilístico incluía a eliminação e a redução de impostos que fizeram explodir a venda de automóveis populares, financiados a longo prazo, e também o congelamento da gasolina. Crédito fácil e gasolina barata foram apenas dois dos inúmeros truques usados pelo ex-presidente em sua desastrosa passagem no governo.

Iludidos com a conversa de mercador de Lula, o setor expandiu a produção de cana, viu o consumo de etanol representar quase 49% do ciclo Otto, mas foi impedido de se beneficiar dos altos preços lá fora, pois, a gasolina aqui estava congelada. No governo Dilma, no entanto, a participação do etanol encolheu ao mesmo tempo que o setor acumulava dívidas. Os seis anos de Dilma trouxeram prejuízos de pelo menos R$ 69,3 bilhões no setor, dos quais R$ 48,3 bilhões por perda de receita e R$ 21 bilhões pelo aumento no endividamento.

O governo Bolsonaro pode mudar essa história, principalmente se ele mantiver a promessa de “mais Brasil e menos Brasília”, ou seja, deixar o setor produtivo produzir, facilitando os investimentos, dando segurança jurídica aos contratos e diminuindo a interferência de burocratas e agencias reguladoras que criam dificuldades na implementação de novas unidades industriais.

O setor tem uma grande oportunidade à frente. A melhora da economia vai implicar no aumento do consumo de dois itens que estão represados: combustíveis (porque a gasolina subiu muito devido à combinação petróleo em alta e real em queda e a renda do consumidor caiu) e alimentos e bebidas (menor renda). O preço da gasolina nos postos deverá cair refletindo a recente queda vertiginosa nos mercados globais e o consumo reprimido pode ser retomado.

O mundo não está prestando atenção ainda ao quadro que está se formando no Brasil. Produção de cana estagnada, sem perspectiva de novos investimentos de locais ou estrangeiros; possibilidade bem razoável de aumento de consumo de combustíveis e alimentos no Brasil em linha com o esperado crescimento do PIB de até 2,5% para o próximo ano; e uma surpreendente recuperação do volume de veículos leves licenciados. Este ano devemos encerrar com quase 2.5 milhões de unidades e para 2019, alguns já projetam 3 milhões de unidades.

O ponto é que não teremos produção de cana suficiente para atender a essa demanda. Para se ter uma ideia do tamanho do problema, mesmo utilizando parâmetros conservadores de consumo de combustíveis para os próximos seis anos (para coincidir com um ciclo de cana), assumindo que não existe alteração no mix da gasolina C, existe um déficit de aproximadamente 10 bilhões de litros por ano nos próximos seis anos. Isso é como se amanhã precisássemos 110 milhões de toneladas de cana disponíveis já a partir de 2019. Como esse milagre não é possível, essa intricada equação será resolvida como todo produto cuja disponibilidade é menor do que a oferta: os preços vão subir.

Mas e o superávit mundial? Bem, todos vocês sabem dos problemas financeiros que os produtores europeus estão enfrentando. Vai haver redução na produção de açúcar de beterraba naquele continente. Outros países, como a Tailândia, também têm dificuldade em produzir nos atuais níveis de preço. Sobra apenas o Brasil que é o único que consegue produzir açúcar em volume e preços próximos ao mercado atual. A Índia é um caso à parte, o enorme subsidio que os indianos consomem equivalem ao nosso Bolsa Família, com exceção de que lá pelo menos o beneficiário produz alguma coisa. São 50 milhões de pessoas que dependem da cana distribuídas em quase 6 milhões de produtores de cana. Sempre haverá algum mecanismo para mascarar essa transferência de renda, ou seja, ações na OMC podem ter efeito nenhum.

Nunca é demais repetir, no entanto, que independentemente de o cenário ser construtivo para o açúcar, a relação simbiótica que essa commodity possui com o preço do petróleo negociado no mercado internacional convertido em reais é muito grande e dela não vai escapar, principalmente porque acreditamos que o próximo governo vai dar importância significativa às forças do mercado e vai manter a atual política de formação de preços do combustível. Vai ser um ano que vai demandar extraordinária atenção à gestão de risco.

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