IA e Geração Z no mercado financeiro: Entre atalhos e carreiras sólidas

Publicado 12.08.2025, 12:58

 

Um cenário inédito para a nova geração

 

A geração nascida após o ano 2000 — a Geração Z — ingressa no mercado de trabalho em um momento único: acesso irrestrito à tecnologia, informação instantânea e a inteligência artificial (IA) como parte natural da rotina.

 

Falo com a perspectiva de quem tem mais de uma década de experiência no mercado financeiro, atuando em empresas de pequeno, médio e grande porte, incluindo multinacionais. Ao longo dessa trajetória, presenciei mudanças estruturais profundas, e a ascensão da IA é, sem dúvida, uma das mais significativas — mas também uma das que exigem maior responsabilidade e discernimento no uso.

 

Esse contexto cria oportunidades extraordinárias, mas também impõe riscos sutis à formação de competências essenciais no mundo corporativo, especialmente no mercado financeiro.

 

De acordo com a Deloitte Gen Z and Millennial Survey 2025, 34% dos jovens priorizam oportunidades de desenvolvimento profissional e 28% buscam propósito no trabalho. Outros fatores citados incluem segurança financeira, equilíbrio entre vida pessoal e profissional e bem-estar — mostrando que essas prioridades se sobrepõem e não são escolhas isoladas.

 

O mesmo estudo aponta um desafio: a pressão por crescimento rápido e a impaciência com funções operacionais podem comprometer a consolidação de habilidades essenciais para uma carreira sólida (fonte completa no final).

O impacto da IA: ferramenta ou muleta?

 

Hoje, a IA é capaz de realizar análises complexas, prever tendências e automatizar tarefas que, até poucos anos atrás, exigiam horas de trabalho humano. No mercado financeiro, isso significa eficiência, agilidade e vantagem competitiva.

 

Mas, como qualquer ferramenta, a IA reflete o preparo de quem a utiliza:

  • Quando usada de forma estratégica → potencializa resultados.
  •  

    Quando usada de forma passiva → substitui a compreensão e limita o desenvolvimento intelectual.

 

Um profissional da Meta comentou no LinkedIn que se assusta com o tipo de perguntas feitas à IA: questões óbvias, respostas que exigem mínimo esforço, revelando uma perigosa preguiça de pensar.

 

Esse comportamento não é apenas reflexo da tecnologia, mas também de uma mudança de postura profissional que vem se tornando cada vez mais comum.

Proatividade: um valor atemporal

 

Ao longo da minha carreira, aprendi a importância de assumir responsabilidades além do escopo formal.

 

Se não havia um “dono” para uma tarefa, eu assumia. Anotava explicações, gravava treinamentos, criava manuais para evitar repetir dúvidas. Para mim, isso não era um diferencial, mas o mínimo esperado de um profissional comprometido.

 

Hoje, percebo uma mudança preocupante: muitos se limitam estritamente ao que lhes é solicitado, evitando tarefas que demandem mais esforço ou raciocínio. Em alguns casos, mesmo diante de oportunidades valiosas, preferem aguardar que a solução venha de outra pessoa — ou da IA.

O que tenho visto no dia a dia

 

Uma amiga da área financeira relatou — e eu mesma presenciei — casos de novos estagiários ou analistas que, durante o onboarding, não anotavam, não perguntavam e, semanas depois, não entregavam o que era solicitado.

 

Não se trata de incapacidade técnica, mas de ausência de atitude:

  •  

    Falta de humildade para admitir que não entenderam.

  •  

    Falta de disciplina para buscar aprender.

 

Já presenciei também jovens solicitando aumento ou promoção após poucas semanas de trabalho, antes mesmo de compreenderem integralmente suas funções. Em alguns casos, justificavam “falta de motivação” para atividades mais operacionais, sem perceber que toda carreira sólida exige etapas de aprendizado e prática.

 

Esse cenário também foi identificado em um levantamento divulgado em 5 de março de 2025 pelo Jornal da Record, com base em pesquisa feita nos EUA e repercutida pelo portal R7.

 

O estudo revelou que muitos jovens da Geração Z consideram aceitável “fingir que estão trabalhando” — prática conhecida como férias silenciosas — e até sair mais cedo do expediente sem avisar.

46% justificam a atitude como resposta ao estresse ou esgotamento mental, enquanto 31% citam a limitação das folgas remuneradas como motivo.

 

Além disso, pesquisas internacionais apontam que o acesso imediato à informação e a dependência de recursos como a IA levam ao cognitive offloading — quando o cérebro para de memorizar e processar informações, confiando que poderá acessá-las depois. Esse hábito pode reduzir a capacidade de aprendizado profundo e estimular um sedentarismo mental.

O papel da IA como parceira, não muleta

 

Não é errado usar inteligência artificial. Pelo contrário — ela é uma ferramenta extraordinária, capaz de ampliar nossa produtividade e abrir novas possibilidades.

 

O risco surge quando passamos a tratá-la como uma muleta, acreditando que não precisamos mais nos preparar, estudar ou desenvolver nossas próprias habilidades porque “a IA já sabe tudo”.

 

O caminho mais inteligente é buscar conhecimento constantemente — ler, se atualizar, aprender novas técnicas — e usar a IA para otimizar e potencializar o que já sabemos. Dessa forma, ela se torna um instrumento poderoso para tornar nosso trabalho mais eficaz, criativo e estratégico.

 

Devemos lembrar que muitas funções operacionais tendem a desaparecer com o avanço tecnológico. E o que será o diferencial, então? Será a capacidade de pensar, interpretar, criar soluções e liderar processos — atributos que nenhuma máquina substitui.

O risco do crescimento rápido demais

 

A IA oferece atalhos, mas atalhos nem sempre levam a bons destinos.

Sem entendimento profundo, senso crítico e visão estratégica, o profissional se torna dependente da ferramenta — e vulnerável quando a situação exige decisão humana, improviso ou liderança.

 

No mercado financeiro, onde decisões erradas têm alto custo, o conhecimento técnico aliado à capacidade de interpretar e agir continua insubstituível.

Conclusão: unir tecnologia e essência profissional

 

A Geração Z tem um ativo valioso: nasceu conectada, adaptada à tecnologia e aberta a mudanças.

Mas tecnologia sem curiosidade, disciplina e comprometimento perde força.

 

O verdadeiro diferencial — no mercado financeiro e em qualquer outro — continua sendo a combinação de competência técnica, postura proativa e aprendizado contínuo.

 

A inteligência artificial pode ser a maior aliada de um profissional ou sua maior armadilha. A escolha, no fim das contas, sempre estará nas mãos de quem a utiliza.

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