Afinal o que mudou nas perspectivas? Nada! Então o que está por vir, em algum momento virá, esta é uma das únicas certezas num emaranhado de incertezas que envolvem os países emergentes.
O “tapering” do programa “QE” do FED americano está sendo operacionalizado e tudo leva a crer que manterá um ritmo de reduções em prazos menores do que antevistos pelo mercado global, o que sugere que não haverá tempo para que os emergentes alterem os seus “status quo”, a dúvida que persiste é sobre quando a autoridade monetária americana entenderá que é o tempo de elevar o juro, e este será outro fator de retomada dos capitais que estão em poder dos emergentes.
O Brasil do baixo crescimento, dívida publica alta, politica fiscal deteriorada, baixo nível de investimentos, déficit em transações corrente elevado, balança comercial fragilizada, etc... é o que está no radar do mercado internacional e é com este quadro debilitado que enfrentará o reflexos dos deslocamentos de recursos saindo do país.
Não dá tempo de reverter está situação presente, e, embora o governo possa estabelecer um plano de austeridade envolvendo até uma meta de superávit primário ousada, o país não tem mais o beneficio da dúvida, precisará, então, entregar antes para receber o reconhecimento posteriormente.
Não dá para fazer correndo o que, por exemplo, o México fez devagar mas na direção certa, por isso teve elevado o seu rating.
Reflexos, então, se houver só em 2015, mas não podemos perder de vista que 2014 é ano eleitoral, o que dificulta muito qualquer plano de austeridade.
O próprio governo colocou como projeção do déficit em transações correntes para este ano o montante de US$ 78,0 Bi, e tudo leva a crer que os IED´s deverão sofrer redução. Os recursos no mercado internacional estarão mais escassos e mais caros e o Brasil tem perspectivas de baixo crescimento e inflação alta o que mantém intacta a sua perda de atratividade já evidenciada nos números no ano passado.
Em 2012 o país recebeu IED´s destinados a conta capital, ou seja IED´s efetivos não contaminado pelos empréstimos “intercompanies”, no montante de US$ 52,0 Bi e em 2013 este montante caiu para US$ 42,0 Bi. Esta tendência cadente tem tudo para persistir, seja pela perspectiva de um crescimento menor em 2014 em relação a 2013, seja pela queda da liquidez no mercado internacional e seu encarecimento.
Capitais voláteis a despeito da taxa de juro que o país está proporcionando não devem ser fartos. Nossa BOVESPA não tem apelo para os investidores estrangeiros, mesmo que os preços possam ser considerados baixos, e o juro elevado para os papéis de renda fixa fica ofuscado pela perspectiva de inflação alta.
A nossa balança comercial começou o ano de forma preocupante ao registrar saldo negativo de US$ 4,0 Bi.
E a nossa indústria deixou um recado “numérico” em dezembro passado altamente preocupante.
O fluxo cambial de janeiro registrou uma melhora ao ser positivo em US$ 1,6 Bi, mas a despeito da melhora na ultima quinzena do mês no fluxo financeiro praticamente não houve contribuição deste segmento e a ocorrência parece algo pontual e não tendência. A melhora veio do fluxo comercial, mas os exportadores sacaram mais de US$ 3,0 Bi do estoque de exportações liquidadas que detinham no exterior, e atualmente temos um estoque de importações a pagar muito maior do que o estoque de exportações liquidadas a ingressar no país.
Em 2013 faltou US$ 12,0 Bi para fechar o fluxo e, por conseguinte, para financiar o déficit em transações correntes. O ano de 2014 não enseja perspectiva melhor.
A agência de rating Standard & Poor´s declarou que o cenário fiscal do Brasil não melhorou desde a perspectiva negativa. Não viu muitas mudanças positivas no cenário fiscal do Brasil desde junho do ano passado, salientando que a politica fiscal continua a ser expansionista e que continua observando o que o governo pode fazer.
Este é outro risco para o Brasil, ou seja, de um rebaixamento de rating que seria muito negativo. As agências de rating disparam alternativamente “recados” ao governo brasileiro, como se estivesse “pondo o gato no telhado”.
Draghi, Presidente do BCE, manifestou preocupação de contaminação na zona do euro com a situação dos emergentes.
Então, o que resta para o comportamento dos mercados emergentes, com impactos diferentes na intensidade decorrentes da maior ou menor vulnerabilidade, é a volatilidade enquanto pressões mais contundentes de saídas de recursos não se acentuam, provocando movimentos absolutamente descolados dos fundamentos e perspectivas.
Um dado menos favorável da economia americana repercute favoravelmente nos emergentes, naturalmente porque retarda a “tempestade prevista” que pode ser agravada por um aumento da taxa de juro pelo FED, e assim seguem as coisas no curto prazo com a máxima “o que é bom para os Estados Unidos não é bom para os emergentes e vice versa”.
E desta forma ocorrem movimentos mutantes na taxa cambial, a qual se atribuem inúmeras e diferentes causas, mas todas ignorando em grande parte os fundamentos, que não deixam dúvida que a perspectiva é de depreciação do real.
Não é uma questão de ser pessimista, mas tão somente realista.