As razões e motivos em torno dos fundamentos para formação do preço da moeda americana no nosso mercado de câmbio continuam as mesmas, com sinais claramente perceptíveis de piora, já evidenciados nos números divulgados pelo Banco Central do Brasil relativos ao Setor Externo de janeiro último.
A despeito da perda do grau de investimento por parte da Petrobrás, relativamente já precificado no preço de suas ações, é evidente que o risco Brasil foi afetado, assim como a perspectiva de ingressos de recursos externos oriundos de captações externas que tem a finalidade de dar suporte aos seus investimentos tende a perder volume.
E há também o efeito em cadeia que atingirá todo o rol de fornecedores e prestadores de serviços, que certamente também refletirão nos fluxos externos e na atividade econômica do Brasil.
O país continua com baixíssima atratividade e a despeito da “vitrine internacional de liquidez” evidenciar expressiva disponibilidade, o país não pode contar com a garantia de acesso aos mesmos, ainda que oferte uma taxa de juro já elevadíssima.
Esta é uma presunção sempre posta por partes interessadas em influenciar a formação do preço do dólar, mas nem mesmo na forma de capital especulativo se pode nutrir grande expectativa, mesmo depois de reduzida de forma significativa a sobrevalorização que ocorria do real.
O movimento ondular “sem razões e fundamentos” tendo em vista que os indicadores e fatos ruins prosperam deixam evidente que há presença especulativa no mercado futuro de câmbio, que assim forja volatilidade onde deve prevalecer tendência de alta sustentada.
Os dados do setor externo propagados pelo BC foram preocupantes e se confirmarem-se como tendência o quadro que se coloca em perspectiva terá grande impacto na formação da taxa cambial ao longo dos meses deste ano.
A arrecadação de tributos teve queda real em janeiro de 5,4% ao totalizar R$ 125,2 Bi ante o mesmo mês de 2014, sendo o valor mais baixo para janeiro desde 2012.
Este fato indica dificuldades para a obtenção do superávit primário de 1,2%, mas sugere que pode haver mais elevação de tributos e não cortes de gastos, mas sim reescalonamento dos pagamentos, ou seja vai ser dada uma pedalada postergando o cumprimento das obrigações, que impactará forte nos caixas dos fornecedores e prestadores de serviços e consequente atraso nos projetos.
Esta postura não se alinha com a exigência de parte do PMDB que quer um ajuste mais duro, mas com predominância de corte dos gastos e não com mais impostos ou não pagamentos a credores no tempo aprazado. Volta à baila o apoio da base política de sustentação.
Ocorre, que mais aumento de impostos impactará em menor crescimento da atividade econômica e ausência de investimentos, e pela 1ª vez caiu o numero de empregos com carteira assinada em janeiro, e esta pode ser o inicio de uma tendência que pode ser acentuada. O Ministro do Trabalho já se antecipou informando que o numero do CAGED deve ser negativo.
O superávit primário é o fator de base para que as agências de rating possam ou não ficar motivadas a baixar o rating brasileiro, e na busca determinada de alcançar o 1,2% é temerário que ocorra o retorno da matemágica desenvolvida pela dupla Mantega/Augustin, severamente criticada.
Há um movimento de demanda no cambio futuro superior a oferta por proteção (hedge) pelo crescimento de incertezas, mas como já dissemos o BC está contido pelo programa que auto se impôs, e o volume em torno de US$ 115,0 Bi representa um ônus elevado para o BC com a alta da taxa cambial. Parece-nos um sofisma afirmar que há perda no “swap cambial”, mas ganho nas reservas cambiais, visto que estas não foram constituídas com poupança, mas sim com elevação da divida publica que tem custo de carregamento.
A operação resgate da credibilidade do real com a ancoragem na oferta dos contratos de swaps cambiais é extremamente onerosa e tem limitações técnicas, nunca explicitadas ou admitidas, para proteger a sua credibilidade.
As reservas cambiais estão liquidamente, descontadas as posições vendidas dos bancos, em US$ 349,0 Bi e o total de divida, não só do governo mas do todo, está em torno de US$ 348,0 Bi, segundo dados recentes divulgados pelo BC. O endividamento do governo é baixo, mas cabe ao BC gerar liquidez se o setor privado resolver remeter valores.
O Brasil precisaria aumentar rapidamente os fluxos cambiais positivos e com volume, mas isto não é possível no curto prazo, pois as perspectivas de captações externas pioraram com o rebaixamento do risco da Petrobrás, que neste momento estuda alternativas para suprir suas necessidades de caixa.
A que tem sido discutida seria a compra de ações pelo governo, que não promoveria melhora do fluxo, por isto não descartamos que, como grande exportadora, possa vir a estruturar operação de grande monta com base em suas exportações e de longo prazo, viabilizando captação de recursos via mercado de câmbio.
Tecnicamente há formas de realizar, podendo gerar um choque de oferta no mercado, o que recomendaria que fosse feita em várias operações, ou simplesmente geradora de recursos em reais para a Petrobrás.
Mas, a rigor não existem fatos ou perspectivas concretas que sugiram o dólar com queda no preço no nosso mercado, salvo, momentaneamente, se o BC fizesse uma oferta imprevista de “swaps cambiais”.