👀 Não perca! As ações MAIS baratas para investir agoraVeja as ações baratas

Investimento Público Não É Motor de Crescimento

Publicado 24.11.2016, 10:21

Geralmente aprendemos em Economia que para um país crescer é preciso investir. Quantas vezes você já não ouviu falar que “a China cresce a 10% ao ano porque poupa e investe 40% do seu PIB”?

Sim, investimento é importante para o crescimento econômico, pois garante que a produção no futuro seja maior, etc, etc etc. Assim, se investimento é importante, qual a primeira coisa que vem à mente de um economista do governo? Aumentar o investimento público para que o investimento privado venha a reboque e faça o PIB crescer.

E como os leitores do Terraço bem sabem, isso foi tentado no Brasil após a crise financeira de 2008/2009, com diversos programas de concessão de crédito via BNDES e, principalmente, com programas diretos como o Programa de Aceleração do Crescimento, os famosos e megalomaníacos PAC I e PAC II, para ver se o investimento decolava no Brasil e contribuía para colocar o país no rumo de desenvolvimento econômico durável.

Uma breve olhada na taxa de crescimento real do investimento (medido pela Formação Bruta de Capital Fixo – FBCF) e na taxa de crescimento real do PIB talvez nos dê uma dica se eles andam junto, ou seja, se são correlacionados, e se fazia sentido pensar como pensamos outrora.Investimento público não é motor de crescimento

Fonte: IBRE-FGV [1] e Banco Central do Brasil. Elaboração própria.

Ao que parece, um crescimento alto do investimento (em vermelho, no eixo direito) caminha próximo a um crescimento vigoroso do PIB. Assim, a primeira ideia de um economista em seu gabinete seria aquela mesma: vamos aumentar o investimento que assim o PIB irá crescer. E vamos fazer isso dando um empurrãozinho no investimento público, pois isso vai encorajar o setor privado a investir também.

Mas em economia nada é tão simples. Geralmente quando o governo tenta aumentar investimento, ele o faz de forma a substituir o investimento privado. Um efeito que chamamos de “crowding-out”. Se separarmos o investimento entre público e privado e compararmos com o crescimento do PIB, vemos que o que está mais relacionado (e aqui não estou dizendo que há causalidade) ao crescimento do produto é o investimento privado, não o investimento público (governo e estatais somados).Investimento público não é motor de crescimento

Fonte: IBRE-FGV [1] e Banco Central do Brasil. Elaboração própria.Investimento público não é motor de crescimento

Fonte: IBRE-FGV [1] e Banco Central do Brasil. Elaboração própria.

Mesmo assim, as ideias reverberam no planalto e um sussurro nos ouvidos dos economistas lá diz: aumente o investimento público, mesmo sem espaço fiscal para isso. O crescimento virá, o investimento se pagará e o setor privado vai investir.

Como o canto da sereia é tentador, assim o fizemos. Mas as leis econômicas são mais duras que as leis aplicadas por Sérgio Moro, e talvez o efeito “crowding-out” possa ter se manifestado. Vamos aos dados de investimento no Brasil para tentarmos achar algumas pistas.

Primeiramente, os dados de investimento em proporção do PIB em 20 anos, de 1994 a 2014, divididos entre investimento privado, investimento das estatais e investimento da administração pública, que engloba governo federal, estadual e municipal.Investimento público não é motor de crescimento

Fonte: IBRE-FGV [1]. Elaboração própria.

Parece que o investimento no Brasil vinha declinando e recuperou os níveis de meados da década de 90 a partir de 2006. Mas reparem também que o investimento privado parece ter crescido bem menos que o investimento público (estatais mais administração pública) e ficou bem perto de sua média no período.

Trocando em miúdos: enquanto o investimento público subiu de 2,7% do PIB em 2003 para 4,4% em 2014 (com pico de 4,9% em 2010). Nos mesmos respectivos anos o investimento privado saiu de 14,0% para 15,4% do PIB. Enquanto o investimento público aumentou em 63%, o investimento privado subiu só 10% para somente retornar ao seu nível médio. Obviamente não se espera que o investimento privado cresça tanto quanto o investimento público, mas não nos parece que o impulso que o investimento público daria tenha se materializado fortemente.

Naturalemente, se em percentual do PIB o investiemento público cresceu mais que o privado, como percentual do total investido, a parcela privada vai se reduzindo. Para ilustrarmos, dividimos o total de investimentos entre as 3 classificações e temos a seguinte posição:Investimento público não é motor de crescimento

Fonte: IBRE-FGV [1]. Elaboração própria.

O investimento privado já chegou a representar 86,4% do total de investimentos em 1997 e veio caindo até chegar em 77,9% em 2014. Obviamente o investimento público veio substituindo o investimento privado no cálculo, alcançando o pico de 23,6% do total em 2010.

Assim, temos a seguinte situação: uma taxa de investimento privado relativamente constante ao longo dos 20 anos de dados desagregados, com um suspiro entre 2008 e 2013 e a parcela do investimento público crescente em relação ao total. Parece que o investimento público, principalmente aquele feito pelas estatais, não puxou com vigor o investimento privado como previam os economistas lá no Planalto Central. E como é o investimento privado aquele mais relacionado ao crescimento do PIB, a estratégia parece ter naufragado.

A ideia dos proponentes da política “investimento público puxa investimento privado” era ter o quarto gráfico com todas as áreas (azul, laranja e vermelha) aumentando até chegar em um patamar mais alto e lá permanecer, enquanto as áreas do último gráfico ficariam relativamente constantes, talvez com alguma defasagem para que o investimento privado pudesse se dar conta que tinha que acompanhar as inversões públicas. Mas não foi o que aconteceu e os agentes privados reagiram ao crescimento mais vertiginoso do investimento público.

Como muitos economistas preveem, simplesmente ampliar o investimento público pode não ser capaz de fazer a taxa de investimento total do país aumentar substancialmente. Há um efeito perverso nos agentes privados que tendem a ser substituídos pelo investimento público (e não complementados) e a formação bruta de capital fixo fica relativamente constante em proporção do PIB.

Pense no caso de uma hidrelétrica que pode receber investimentos privados, mas o governo insiste em fazer a obra. Amplie isso para diversos projetos e o que se tem é a situação do “crowding-out”: investimentos privados que são expulsos de projetos que poderiam entrar e cujos recursos não são direcionados para outros investimentos.

Talvez uma ideia melhor para incrementar o investimento privado passe por outras políticas, como melhorar o ambiente de negócios e reduzir o risco de se investir no longo prazo. Na marretada, na raça e no grito, não vai.

Leia diariamente essa e outras análises sobre política e economia no site Terraço Econômico.

Últimos comentários

Carregando o próximo artigo...
Instale nossos aplicativos
Divulgação de riscos: Negociar instrumentos financeiros e/ou criptomoedas envolve riscos elevados, inclusive o risco de perder parte ou todo o valor do investimento, e pode não ser algo indicado e apropriado a todos os investidores. Os preços das criptomoedas são extremamente voláteis e podem ser afetados por fatores externos, como eventos financeiros, regulatórios ou políticos. Negociar com margem aumenta os riscos financeiros.
Antes de decidir operar e negociar instrumentos financeiros ou criptomoedas, você deve se informar completamente sobre os riscos e custos associados a operações e negociações nos mercados financeiros, considerar cuidadosamente seus objetivos de investimento, nível de experiência e apetite de risco; além disso, recomenda-se procurar orientação e conselhos profissionais quando necessário.
A Fusion Media gostaria de lembrar que os dados contidos nesse site não são necessariamente precisos ou atualizados em tempo real. Os dados e preços disponíveis no site não são necessariamente fornecidos por qualquer mercado ou bolsa de valores, mas sim por market makers e, por isso, os preços podem não ser exatos e podem diferir dos preços reais em qualquer mercado, o que significa que são inapropriados para fins de uso em negociações e operações financeiras. A Fusion Media e quaisquer outros colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo não são responsáveis por quaisquer perdas e danos financeiros ou em negociações sofridas como resultado da utilização das informações contidas nesse site.
É proibido utilizar, armazenar, reproduzir, exibir, modificar, transmitir ou distribuir os dados contidos nesse site sem permissão explícita prévia por escrito da Fusion Media e/ou de colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo. Todos os direitos de propriedade intelectual são reservados aos colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo e/ou bolsas de valores que fornecem os dados contidos nesse site.
A Fusion Media pode ser compensada pelos anunciantes que aparecem no site com base na interação dos usuários do site com os anúncios publicitários ou entidades anunciantes.
A versão em inglês deste acordo é a versão principal, a qual prevalece sempre que houver alguma discrepância entre a versão em inglês e a versão em português.
© 2007-2024 - Fusion Media Limited. Todos os direitos reservados.