As principais bolsas de ações no mundo tiveram forte queda na semana, em uma reação mista ao “não-pagamento” de papéis de dívidas do grupo que controla um grande banco português, e das expectativas dos mercados de que o FED deve aumentar os juros nos Estados Unidos antes do esperado.
O medo de uma corrida de correntistas do banco em questão, e de uma eventual contaminação no setor bancário europeu provocou uma retração forte de ativos de risco em geral. Já o banco central americano divulgou a ata da última reunião do FOMC praticamente confirmando o fim da compra de títulos (conhecido como QE em inglês) para o mês de outubro. Alguns dos membros do comitê estão sugerindo que a partir do fim do ano o órgão já indique quando os juros começarão a subir.
Os índices de commodities CRB, SPGSCI e BCOM (antigo DJUBS) caíram todos ao redor de 3%, tendo apenas os metais preciosos encerrado em território positivo – estes são vistos como proteção de valor em momentos de incertezas. O algodão e o trigo lideraram as baixas caindo 9.81% e 9.38%, seguidos pela queda de 6.63% da soja e 6.17% do café.
O arábica voltou a negociar nos patamares que não víamos desde o dia 19 de fevereiro último, cuja mínima no dia foi de 156.65 e a máxima de 177.10. As perdas acumuladas nos últimos cinco dias foram de US$ 13.82 por saca, enquanto o robusta caiu US$ 3.54 por saca, estreitando, portanto, a arbitragem para US$ 70.00 centavos por libra-peso – mesmo nível da data mencionada acima.
Fundamentalmente não houve notícias para justificar a baixa. O ambiente macroeconômico pesado foi o motivo inicial, e na sequência forçou uma liquidação técnica, trazendo vendas especulativas, e alguma diminuição (pequena) da posição comprada dos fundos.
Compras de comerciais apareceram em escala, mas não o suficiente para evitar o movimento negativo. Assustou a queda de Londres na quinta-feira, pois no meio da sessão, e em apenas 1 segundo, o contrato de setembro perdeu incríveis 63 dólares por tonelada, negociando módicos 1,179 lotes – quem queria comprar não teve tempo de colocar suas ordens.
A sazonalidade dos preços, que historicamente é de baixa durante a colheita brasileira (independentemente do inverno), tem sido uma influência negativa para as cotações – menos em função da pressão vendedora do Brasil, e mais por causa do verão no hemisfério norte, que faz com que os compradores retraiam em seus interesses de compra.
Um mercado de alta precisa sempre de notícias altistas para alimentar novas subidas, o que não tem sido o caso ultimamente para o café. Há também a questão de mudança de posicionamento do quadro, que em fevereiro e março era alarmante para as perdas com a seca, e que em abril e maio arrefeceu com as chuvas no cinturão de café. Soma-se a isto o aumento dos estoques no destino, o que é natural depois das exportações elevadas de diversas origens, e as declarações do CNC de que o Brasil tem café suficiente para abastecer a demanda (a OIC disse o mesmo em um contexto global), e o resultado é a queda do terminal.
Ou seja, não apenas faltam novidades para a alta, mas, também, o noticiário está ajudando a tranquilizar ainda mais os baixistas justamente quando os compradores estão saindo de férias.
Neste cenário, o mercado devolve um pouco mais do prêmio que tem embutido da quebra da safra 15/16, que só se saberá depois da florada, mas que alguns agentes se anteciparam por causa do crescimento baixo do ramo das árvores que sofreram com a falta de chuva do começo do ano.
Como já falei neste espaço, a puxada dos preços até os níveis de US$ 219 centavos teve o componente de aperto de fluxo de caixa, e que na época tinha o risco de novas explosões caso as cotações não retraíssem – que não foi o caso.
O receio agora é o oposto, pois os fundos continuam basicamente com mesma posição comprada de antes, mesmo os preços tendo caído quase US$ 60 centavos por libra. É de se imaginar que um novo mergulho abaixo de US$ 150 centavos pode trazer mais liquidações dos comprados, e se assim for, o que foi um exagero para cima, pode ser um exagero para baixo.
A indústria, que é naturalmente compradora por estar sempre “vendida”, não tem porque entrar avidamente no mercado agora para cobrir o “flat-price”, podendo esperar para ver em que nível os preços encontrarão novamente um suporte.
Os altistas têm que aproveitar para comprar proteção de alta – o que já começou a acontecer na sexta-feira – pois as surpresas, quando aparecerem, favorecerão uma alta a partir dos atuais patamares.