Garanta 40% de desconto
🚀 Ações escolhidas por IA em alta. PRFT com alta de +55% em 16 dias. Não perca as ações de junho!Acessar lista completa

Macunaíma Já Está Imune, e a Hidra Também Passa Bem

Publicado 12.03.2021, 12:09
Atualizado 09.07.2023, 07:32
USD/BRL
-
BVSP
-
ELET3
-
ITUB4
-
LREN3
-
PETR4
-
RENT3
-
VALE3
-
LCAM3
-
BHIA3
-
BPAC11
-
VBBR3
-
MTRE3
-
LWSA3
-

As notícias sobre a morte do Brasil foram demasiadamente exageradas.

O original de Mark Twain, escrito em primeira pessoa, era mais legal, mas a versão adaptada me pareceu pertinente.

Querem enterrar o Brasil antes da hora. Calma. O bicho está respirando ainda. Se insisto em nosso caráter macunaímico, da nossa tendência à complacência, à mediocridade, à milonga, também preciso pontuar uma certa natureza antifrágil. Se pararmos para pensar, é razoável que essas coisas se complementem em alguma medida. Em situações de fragilidade, um novo choque negativo acaba sendo positivo, porque precisamos voltar para a média. Se já estamos com a nota 1 e tomamos um novo soco, se temos a tendência à reversão à média, precisamos ir para o 5 — e note que isso é uma bela multiplicação.

Macunaíma não deveria ser apenas o herói duplamente preguiçoso. Sua duplicação também poderia estar na cabeça, como a Hidra de Lerna — quando lhe cortavam o pescoço, criavam-se outras duas cabeças.

Tenho uma confidência íntima: quando meu WhatsApp começa a ser abastecido por notícias como “este país não tem jeito”, “estou muito desanimado”, “você sabe como estão os preços de imóveis na Flórida?” e afins, tal como aconteceu na segunda-feira, sinto vontade de sair comprando ações.

A verdade é que, objetiva e concretamente, a semana me parece terminar com um saldo líquido positivo, sem que os ativos brasileiros tenham reagido de acordo com isso. Esclareço: sem falsas ilusões ou expectativas ingênuas. Não foi uma goleada. Tomamos uns bons gols — aliás, nós mesmos fizemos gols contra o patrimônio.

Entendo que boa parte dessa reação negativa dos mercados brasileiros na semana se deva a paixões exageradas com que normalmente se interpretam acontecimentos políticos, num país que vive de heróis e vilões personalistas e pesa pouco suas instituições; e a um gringo grande, que especula-se ser o GIC, na ponta vendedora, literalmente fritando algumas posições em ações. Essas decisões de vender uma cesta a qualquer preço vinda de investidores estrangeiros machucam bastante determinadas cotações; em especial daquelas ações de “segunda linha”, com menor liquidez. Daí infere-se até uma dificuldade adicional para bater o Ibovespa no curto prazo. A desmontagem de uma posição dessas em Petrobras (SA:PETR4), Vale (SA:VALE3) e Itaú (SA:ITUB4), por exemplo, leva poucos dias. Para se desfazer de empresas menores, precisamos de semanas.

Então, surgem distorções meio bizarras. Essa é a verdade. Vemos empresas já especulando sobre fechamento de capital. Outras pensam em dividendos extraordinários e recompras mais agressivas. Em termos mais práticos, apresentam-se aberrações como Mitre (SA:MTRE3) negociando a 4,5 vezes lucros estimados para 2022, BR Distribuidora (SA:BRDT3) a 10 vezes, Via Varejo (SA:VVAR3) a 0,4 vez EV/Sales, Lojas Renner (SA:LREN3) abaixo de 20 vezes lucros, Unidas (SA:LCAM3) perdendo a referência de preço com Localiza (SA:RENT3), Locaweb (SA:LWSA3) abrindo em alta de 7% e fechando zerada, BTG (SA:BPAC11) vindo bem abaixo do preço do último aumento de capital, e por aí vai.

Do lado negativo, tivemos, a partir da decisão do ministro Edson Fachin sobre os processos envolvendo o ex-presidente Lula, aumento do risco de polarização no país, a possibilidade de lançamento de um candidato de esquerda mais competitivo, com potenciais consequências negativas sobre a gestão macroeconômica brasileira (e micro também), e o medo de que o presidente Jair Bolsonaro possa enveredar por práticas mais populistas diante de riscos maiores para sua reeleição.

Passado o susto inicial, porém, as notícias positivas parecem sobrepujar as mazelas, em termos de impacto sobre os ativos de risco.

Ao menos momentaneamente, o yield dos Treasuries está mais bem comportado, amenizando a trajetória recente de subida — embora volte a apontar para cima nesta manhã.

Taxas de juro de mercado mais altas implicam maior atratividade relativa da renda fixa frente à variável. Além disso, como os Treasuries são a referência global de taxa livre de risco, a escalada de seus yields implica revisitar os valuations dos demais ativos. Ações ligadas a crescimento, cujos fluxos de caixa estão lá na frente, são particularmente afetadas, porque esses fluxos de caixa acabam sendo trazidos a valor presente por uma taxa mais alta. Se todo o valor vem da perpetuidade, sobra muito pouco para hoje quando os juros são altos.

Semelhante ao ocorrido em 2013, quando o Fed sinalizou o “tapering”, o afunilamento das compras de títulos, a disparada dos yields lá fora era um risco importante para mercados emergentes e para ações em geral. Seu estancamento é fundamental para uma caminhada mais profícua dos ativos de risco. E isso, ao menos circunstancialmente, aconteceu nesta semana.

Internamente, com tiro, porrada e bomba, foi aprovada a PEC Emergencial dentro de parâmetros bastante razoáveis. Fora do platonismo dos sonhadores, pode-se considerar uma vitória da equipe econômica. A PEC Emergencial ideal mora no mundo das ideias somente. No mundo real, roda a PEC Emergencial possível — e ela está bem ok.

Isso retira pressão importante sobre os juros futuros e mantém a âncora fiscal relevante neste momento, que é o teto de gastos. Além disso, mostra uma certa vitória da agenda, despersonalizada, dado que o próprio presidente teria pessoalmente trabalhado para retirar policiais dos gatilhos para congelamento de salários. Como conversei com Lucas de Aragão, “só há uma agenda agora” e ela aponta para mais medidas fiscais e liberais do que o consenso de mercado supõe (com muita dificuldade, claro; não há ingenuidade aqui).

Outro ponto marcante da semana foi a queda do dólar em relação ao real. Além de seguir o comportamento de outras moedas emergentes, nossa taxa de câmbio foi diretamente impactada pelo aumento das intervenções do Banco Central. Interessante notar que isso aconteceu mesmo num momento em que a volatilidade do real estava alinhada àquela de outras moedas emergentes — a cartilha típica prescreve a necessidade de atuação no câmbio quando há o chamado “fear of floating”; ou seja, os BCs devem atuar para suavizar um identificado excesso de flutuação, o que não foi o caso agora.

Há variadas explicações para a observada mudança de postura do Banco Central. Talvez seja um aumento do medo do pass through cambial (repasse cambial para os demais preços da economia), talvez seja o oferecimento de liquidez para um investidor estrangeiro demandando dólar, talvez seja uma tentativa heterodoxa de não validar um aumento da Selic superior a 50 pontos-base na próxima reunião do Copom.

Não consigo saber. É um exercício de arrogância se achar capaz de pensar com a cabeça do outro e entender as razões alheias. Como resultado prático, porém, a valorização do real amenizou a pressão sobre as taxas de juro de mercado. O corolário é a boa resposta, em termos de fundamentos, de nomes diretamente afetados pela dinâmica de juros, como consumo e varejo, incorporadoras, utilities e shoppings, entre outros.

Um terceiro elemento se refere a uma mudança nas diretrizes e na retórica do governo no combate à pandemia. O presidente Bolsonaro apareceu de máscara, intensificou a defesa da vacinação e, segundo a imprensa, um de seus filhos chegou a dizer que “nossa arma é a vacina”. Se a nova postura vem como resposta à elegibilidade do ex-presidente Lula ou ao aumento do número de mortes por Covid-19, não sei. Pragmaticamente, porém, significa algum resgate da racionalidade e do pragmatismo, da defesa do que realmente precisamos, uma caminhada em direção ao centro e um afastamento da ala mais ideológica. Enquanto poderia vir mais polarização, vimos, na margem, um pouco mais de moderação.

O sapo não pula por boniteza, mas por precisão. Há algo curioso com o Brasil. Para avançar, ele precisa de um susto, de olhar para o abismo, chegar bem perto e resolver se afastar. Trocamos o presidente da Petrobras para no dia seguinte encaminhar a MP de privatização da Eletrobras (SA:ELET3). Arriscamos o teto de gastos para depois passar a PEC Emergencial com quase todos os gatilhos. Tememos a polarização radical para acordar com flertes ao centro e à moderação, vindos dos dois lados.

No final, ainda somos os mesmos. Macunaímicos e antifrágeis.

Últimos comentários

Carregando o próximo artigo...
Instale nossos aplicativos
Divulgação de riscos: Negociar instrumentos financeiros e/ou criptomoedas envolve riscos elevados, inclusive o risco de perder parte ou todo o valor do investimento, e pode não ser algo indicado e apropriado a todos os investidores. Os preços das criptomoedas são extremamente voláteis e podem ser afetados por fatores externos, como eventos financeiros, regulatórios ou políticos. Negociar com margem aumenta os riscos financeiros.
Antes de decidir operar e negociar instrumentos financeiros ou criptomoedas, você deve se informar completamente sobre os riscos e custos associados a operações e negociações nos mercados financeiros, considerar cuidadosamente seus objetivos de investimento, nível de experiência e apetite de risco; além disso, recomenda-se procurar orientação e conselhos profissionais quando necessário.
A Fusion Media gostaria de lembrar que os dados contidos nesse site não são necessariamente precisos ou atualizados em tempo real. Os dados e preços disponíveis no site não são necessariamente fornecidos por qualquer mercado ou bolsa de valores, mas sim por market makers e, por isso, os preços podem não ser exatos e podem diferir dos preços reais em qualquer mercado, o que significa que são inapropriados para fins de uso em negociações e operações financeiras. A Fusion Media e quaisquer outros colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo não são responsáveis por quaisquer perdas e danos financeiros ou em negociações sofridas como resultado da utilização das informações contidas nesse site.
É proibido utilizar, armazenar, reproduzir, exibir, modificar, transmitir ou distribuir os dados contidos nesse site sem permissão explícita prévia por escrito da Fusion Media e/ou de colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo. Todos os direitos de propriedade intelectual são reservados aos colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo e/ou bolsas de valores que fornecem os dados contidos nesse site.
A Fusion Media pode ser compensada pelos anunciantes que aparecem no site com base na interação dos usuários do site com os anúncios publicitários ou entidades anunciantes.
A versão em inglês deste acordo é a versão principal, a qual prevalece sempre que houver alguma discrepância entre a versão em inglês e a versão em português.
© 2007-2024 - Fusion Media Limited. Todos os direitos reservados.