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Mais petróleo, menos sondas: o que explica o aumento de produção nos EUA?

Publicado 07.06.2023, 14:57
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  • As empresas petrolíferas dos EUA podem dobrar a produção a partir de poços atuais, graças aos ganhos de eficiência e inovações nas perfurações, como a técnica de “refraturamento”, ou “refracturing” de poços de shale.
  • A maior eficiência nas perfurações está fazendo com que a produção de petróleo do país atinja novas máximas, ao mesmo tempo em que o número de sondas em operação cai, indicando a capacidade da indústria de produzir mais com menos.
  • No entanto, o atual clima político gera desafios para a adoção mais ampla da técnica de refracturing na indústria petrolífera dos EUA.
  • Em meio à expectativa do mercado para saber quantos barris a Arábia Saudita cortará da sua produção nos próximos meses, acabou passando despercebida uma notícia relevante para o setor, referente aos ganhos de produtividade das empresas petrolíferas dos EUA na perfuração e aproveitamento de poços.

    Para quem teve a oportunidades de acompanhar os comentários do CEO da ExxonMobil, Darren Woods, durante uma conferência realizada pelo banco de investimento Bernstein, na quinta-feira, pode ter soado um tanto fantasiosa sua ideia de que as empresas petrolíferas dos EUA têm o potencial de dobrar a produção a partir dos poços atuais.

    Desde o boom da técnica de fraturamento, ou fracking, que pegou os sauditas de surpresa há quase uma década, a evolução do setor de shale foi impressionante, ano após ano, até a chegada da pandemia.

    A destruição sem precedentes na história recente da demanda e as falências no setor reduziram, naturalmente, a inovação, ao mesmo tempo em que a produção dos EUA despencou de uma máxima histórica de mais de 13 milhões de barris diários para menos de 10 milhões em determinado momento. As petrolíferas americanas mudaram o foco, deixando de perfurar a qualquer custo para adotar uma disciplina maior de capital, além de priorizar a distribuição de dividendos aos investidores e realizar vultosos programas de recompras de ações.

    Mais de três anos após a pandemia, que levou o preço do barril do West Texas Intermediate a US$ 40 negativos, a Administração de Informações de Energia dos EUA prevê que a produção atingirá novos recordes anuais, com uma média de 12,4 milhões de barris por dia (mbpd) em 2023 e 12,8 milhões em 2024. Mas esses números ainda estão abaixo do pico de 13,1 mbpd registrados na primeira semana de março de 2020, antes do surgimento da covid-19.

    Há alguns fatores que estão contendo o otimismo com o potencial do shale. O número de sondas e poços perfurados, mas não concluídos (DUCs), está em queda, o que afeta a produção futura.  Além disso, há escassez de equipamentos e trabalhadores, consequências da pandemia. Existe também o receio de retaliação por parte da Arábia Saudita, que em 2020 aumentou a produção ao máximo e levou os preços a zero após a recusa da Rússia em reduzir a produção no âmbito do acordo Opep+, o que acelerou o declínio da maioria dos perfuradores dos EUA que poderiam ter sobrevivido à pandemia.

    No entanto, se as previsões de Darren Woods da ExxonMobil estiverem corretas, o petróleo dos EUA pode estar prestes a passar por outra revolução na produção, graças a inovações na perfuração, incluindo o “refraturamento” de poços de shale.

    Como explica o pesquisador e engenheiro de energia, Alex Kimani, o refraturamento ainda não é amplamente adotado, mas está produzindo resultados significativos de forma discreta.

    A maior eficiência na perfuração é o motivo pelo qual a produção de petróleo dos EUA está caminhando novamente para níveis recordes, mesmo com a redução no número de sondas (atualmente em 555, abaixo do pico de 627 em novembro de 2022) e a diminuição dos DUCs (4.863 em abril, ante 4.905 em março).

    A ExxonMobil (NYSE:XOM), por exemplo, está trabalhando em duas áreas específicas para melhorar o fracking, como mencionou o CEO da companhia. O primeiro passo é empregar a técnica com mais precisão ao longo do poço para extrair mais óleo das rochas. O segundo é encontrar maneiras de manter as fraturas abertas por mais tempo para aumentar o fluxo de petróleo.

    Woods acrescenta:

    "Há uma quantidade significativa de petróleo sendo deixada no subsolo. Embora o fracking seja uma técnica antiga, ainda não compreendemos completamente a ciência por trás dela."

    Nick Dole, um ex-articulista dos fóruns de discussão de petróleo do Investing.com, recentemente afirmou que os poços dos EUA, especialmente os horizontais, estão sendo perfurados com uma profundidade três vezes maior, graças aos avanços tecnológicos. Ele explica:

    "Quando eu era engenheiro de perfuração, a extensão lateral máxima de um poço era geralmente em torno de 1.500 metros. Agora, a maioria dos poços é perfurada com cerca de 3000 metros de extensão lateral, e muitos estão chegando a 4500 metros. Isso significa que estamos perfurando dois poços em menos tempo, já que não precisamos mover a plataforma verticalmente. Assim, alcançamos a mesma produção com menos sondas.

    Essa eficiência é a razão pela qual as empresas americanas estão lucrando tanto e conseguem se sustentar mesmo em condições de preços mais baixos do que antes."

    O refracturing é uma técnica que permite que operadores de shale retornem a poços existentes e apliquem uma segunda explosão de alta pressão para aumentar a produção a um custo menor do que perfurar um novo poço.

    Essa operação visa revitalizar um poço após um período inicial de produção e pode restaurar sua produtividade original ou até mesmo aumentá-la, além de prolongar sua vida útil.

    Garrett Fowler, diretor-geral de Operações da ResFrac, afirma que um poço refraturado pode ser até 40% mais barato do que a perfuração de um novo poço, além de dobrar ou triplicar o fluxo de petróleo de poços antigos.

    Estima-se que apenas a região de shale de Bakken, em Dakota do Norte, possua cerca de 400 poços abertos que poderiam gerar um excedente de mais de US$ 2 bilhões se fosse refraturados, com base em uma estimativa de preço do petróleo em torno de US$ 60 por barril.

    Outra vantagem significativa do refracturing é que o fato de não exigir novas licenças ou negociações com proprietários de terras, gerando menos impacto ambiental, já que os locais de perfuração já possuem acesso por estradas.

    No entanto, apesar das oportunidades, Kimani observa que o refraturamento ainda é uma tecnologia de nicho na indústria de perfuração nos Estados Unidos. Muitas empresas de shale a utilizam para proteger a produção em novos poços que compartilham a mesma plataforma, em vez de aumentar a produção de poços mais antigos.

    Justin Mayorga, analista sênior de pesquisas em shale na Rystad, declarou ao Journal of Petroleum Technology:

    "É um mercado de nicho restrito. As empresas que estão adotando essa técnica provavelmente continuarão fazendo isso, mas não esperamos um aumento expressivo no número de refraturas no próximo ano. Prevemos uma atividade estável, semelhante à representada pelos 2-3% do total de completações neste ano."

    Posso citar mais duas razões para o crescimento lento do refracturing.

    A primeira está relacionada ao aspecto financeiro. Essa tecnologia, se não for utilizada com cautela, poderia levar a indústria de volta aos tempos de excesso de perfurações e provocar uma queda nos preços do petróleo.  As empresas de shale estão obtendo lucros recordes atualmente e não desejam repetir essa situação. Além disso, há uma vigilância intensa por parte dos sauditas em relação à indústria dos EUA, e a possibilidade de retaliação por parte deles é maior do que nunca.

    A segunda razão é de natureza política. A indústria petrolífera americana é praticamente uma inimiga do presidente Joe Biden, devido às políticas desfavoráveis aos combustíveis fósseis adotadas no início de seu mandato. Para muitos, aumentar significativamente a produção nesse momento poderia ser interpretado como uma forma de apoio político ao mandatário, em um ambiente de inflação alta, o que seria indesejável.

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    Aviso: O conteúdo deste artigo é puramente educativo e não representa qualquer recomendação de compra ou venda de qualquer ativo tratado.

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