Mercado 7 x 1 Banco Central

Publicado 15.06.2018, 12:04
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Sucesso, para mim, só tem uma definição: olhar-se diante do espelho e ter a certeza de que você não decepcionou a pessoa que era aos 18 anos de idade. Isso vale para todos os campos: empresário, investidor, companheiro, pai, filho e espírito santo.

Não é uma questão de reputação – a forma com que os outros percebem você. Tampouco de dinheiro. É você com você mesmo. E só.

Confesso ter me desviado do caminho projetado há certo tempo. Assim, rejeito de imediato qualquer tentativa de associação com a imagem de “bem-sucedido”. Na última década, a sensação que tenho ao me olhar no espelho é de tristeza. Talvez a palavra precisa fosse vergonha, quase sem conseguir suportar os traços marcados no reflexo. Como bom brasileiro, tenho minha própria coleção de 7×1 – a diferença é que, em meio ao acúmulo de decepções sucessivas, ainda não identifiquei o 1.

Mas não façamos disso um muro das lamentações. Falemos do sucesso e de como podemos potencialmente obtê-lo.

O meu enantiomorfismo necessariamente precisa obedecer a duas coisas – e, talvez de maneira um pouco arrogante, arrisque dizer se tratar de uma regra mais geral do que particular.

A primeira condição necessária se liga à capacidade de enxergar o outro. Digo isso no sentido de colocar-se no lugar da pessoa a seu lado e pensar com a cabeça dela, fazer algo por outrem não para obter um benefício próprio, mas simplesmente porque é o certo. Dispor-se a comprar uma briga que apenas aparentemente não é sua. No final, aquilo até pode se traduzir num resultado para si mesmo; só não pode partir daí, entende? Se você não estende a mão ao outro, quem estenderá para você quando for a hora?

Qual equipe vai apoiar um gestor se por ele não se sentir apoiada?

E não percamos de vista: do que se trata a atuação no mercado de capitais?

Numa definição simplificada, de se comprar algo barato hoje esperando vendê-lo caro no futuro. Isso só vai ser possível se você conseguir pensar com a cabeça do outro. É um jogo de tentar adivinhar o que o consenso de mercado (a cabeça média por aí) vai valorizar no futuro. Não é simplesmente o que você acha valoroso. Isso não adianta muito. Trata-se de projetar o que os outros vão achar valoroso amanhã. Sem enxergar isso, sem transportar-se para a cabeça, as motivações e o sentimento alheios, nada feito. Em resumo, é o famoso concurso de beleza keynesiano.

Não importa muito se Agibank é uma financeira cujo resultado é gerado quase integralmente no nível da lojinha. Fizeram um app legal e empacotaram como se fosse uma fintech. Bastou. O mercado comprou a ideia. Demanda no IPO acima de 2x book, numa financeira avaliada em quase 9 bilhões. O que realmente é importa pouco – aliás, o que é a realidade objetiva?

Como ninguém sabe nada mesmo, acaba formando preço aquilo que todo mundo apenas acha que é. Nossa cabeça está sempre atrás de uma historinha crível. E “tá limpo!”.

Vence a narrativa com as melhores regras de retórica, não necessariamente aquela com maior aderência à realidade – em linguagem mais elegante, os embates dialéticos não são decididos por superação positiva. Em linguagem de rua, cuidado com as bobagens que são repetidas por aí como se fossem verdade.

Embora possa não parecer, em termos práticos, é tudo sobre percepção. Isso dá tilt na cabeça de alguns, típicos perseguidores dos “fundamentos econômicos”, materiais, concretos e objetivos. Se a percepção é realmente o que forma preço, não seria ela o único fundamento relevante? E podemos nos blindar da subjetividade da percepção, de nossos vícios, virtudes, limitações, vieses… e por aí vai?

Para Tom Copeland, por exemplo, um dos papas mundiais do valuation, o que efetivamente faz uma ação subir é sua capacidade de superar as expectativas – está resumido no seu livro “Outperform with Expectations-Based Management: A State-of-the-Art Approach to Creating and Enhancing Shareholder Value”. Expectativa e percepção são evidentemente coisas que se entrelaçam e se confundem.

Mas voltemos ao planeta Terra.

O segundo elemento do sucesso – ou do que é meu entendimento dessa parada – vem de uma espécie de obstinação por ser melhor e melhor e melhor, a cada dia. E aqui eu falo de uma relação obsessiva com a evolução, quase doentia mesmo. Você vai ter que entregar um pouquinho da sua alma se quiser mesmo fazer a diferença no mundo.

Dane-se se você já conquistou um milhão de coisas ou se está largado na sarjeta. É a perseguição implacável por melhorar, pela própria travessia (e não pela chegada), pelo processo em si, quase um imperativo categórico. O prêmio da virtude é a própria virtude. No momento em que você se deitar em berço esplêndido, vai ser simplesmente atropelado. Se você para de crescer, você morre, resumiu Phil Knight.

A nuance aqui é que só podemos descobrir realmente se melhoramos a posteriori. Ex-ante, não temos como saber qual dos caminhos da bifurcação à frente nos leva à evolução ou à involução. Então, dentro dessa obsessão, só nos resta tentar, tentar e tentar, controlando cada tentativa e perseguindo retornos assimétricos, de tal sorte que, no final da caminhada, os sucessos mais do que compensem os fracassos.

Direto vejo gente falando: “Nossa, mas como tal cara é sortudo. Deu um baita rabo de novo”. O tal rabudo tentou 299 vezes. Ninguém viu os 294 fracassos do sujeito. Ficaram para a história os cinco acertos. A sorte de cinco vezes, contra o azar de 294. Se você se expõe por várias vezes a uma matriz de payoff convidativa, por mera aplicação de forças aleatórias, uma hora vai acertar. Em certo sentido, há um padrão ligado à sorte: ela premia todos aqueles que tentam.

Erros e momentos adversos fazem parte do processo, necessariamente, em todas as esferas da vida. Com investimento, obviamente, não é diferente. A compreensão e a adequada recepção das derrotas são, em si, um processo de melhora do investidor.

Assim como o é a percepção de que há momentos no mercado mais favoráveis à multiplicação do capital e outros mais propensos à preservação do capital. Estamos claramente no segundo caso agora – e eu sei que não é agradável ler isso. Mas trata-se da realidade. Há um mal-estar gigantesco com mercados emergentes. Por mais que tenhamos sempre uma tendência a explicar nossas mazelas por fatores domésticos, o fato é que a deterioração do preço dos ativos se deve muito mais a uma pressão vendedora generalizada sobre os emergentes.

Simplesmente não há o que fazer. Por mais que o Banco Central se esforce, colocando swaps em volumes cavalares, provavelmente conviveremos com um dólar ainda mais forte contra o real. E isso nem se deve tanto a fatores locais, mas a esse mau humor com Turquia, África do Sul, México, América do Sul e por aí vai.

Em reforço, o “carry” (o diferencial de juros entre o que se paga aqui e lá fora), que sempre foi favorável ao real, se inverteu agora e há países emergentes com juros superiores ao nosso. Então, não tem como o Banco Central brigar sozinho contra um fluxo infinito. Ele pode até suavizar a volatilidade, em linha com a literatura acadêmica de “fear of floating” (os BCs carregam tradicionalmente medo da excessiva flutuação e atuam para amenizá-la), mas não vai mudar a direção do movimento. A desvalorização do peso já derrubou o presidente do BC argentino ontem.

Se você precisa comprar dólares, talvez seja melhor já garantir um quinhão o mais rápido possível.

Há situações em que você precisa apenas recuar, se proteger, esperar a tempestade passar para voltar a progredir. Como a aplicação do Shi de Mark Spitznagel em “The Dao of Capital”, em que você aparentemente perde uma posição hoje, para garantir uma vantagem estratégica amanhã. Um passo atrás para dar dois à frente.

No momento de pânico, não há muito diferenciação. Tudo cai meio igual. A diferenciação se dá no pós-pânico. Assumidas as premissas, emerge um corolário óbvio: coisas de alta qualidade, que não deveriam estar sofrendo tanto, apanham da mesma forma que as demais. Observe com afastamento. Esse processo abrirá a chance de recuar agora e começar a adquirir coisas boas e baratas. Elas podem até ficar mais baratas no curto prazo, mas serão destaque na recuperação pós-pânico – uma pequena perda de curto prazo, para uma grande multiplicação lá na frente. Uma pequena desvantagem momentânea em prol de uma grande vantagem a longo prazo.

Sexta-feira começa com a digestão de uma série de novidades importantes, com ênfase para articulação dos formuladores de política econômica no Brasil. Banco Central vende 5,75 bilhões de dólares em swaps nesta sexta e sinaliza mais 10 bilhões de dólares para a próxima semana, além de dizer que o estoque desses contratos pode exceder volume máximo do passado. A medida causa efeito no dólar, que cai fortemente contra o real – sabe lá Deus até quando.

Juros futuros também enfrentam artilharia da política econômica. CMN antecipou o prazo para que entidades abertas de previdência parem de cumprir exigência de hedge para títulos prefixados com vencimento longo. Em reforço, Tesouro afirmou que passará a fazer na próxima semana leilões diários de compra e venda também de NTN-B.

Em termos de agenda econômica estrita, IBC-BR, proxy do PIB, subiu 0,46 por cento em abril, abaixo das projeções de 0,60 por cento. IGP-10 apurou inflação de 1,86 por cento, frente a 1,73 por cento esperado.

Nos EUA, saem NY Empire State, preliminar da confiança do consumidor, produção industrial e relatório Baker Hughes do setor petróleo. Na Zona do Euro, temos inflação ao consumidor. Já no Japão, o banco central manteve a taxa básica de juro e o programa de compra de títulos inalterados. A China injetou 40,6 bilhões de dólares no sistema bancário para dar liquidez ao sistema.

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