A dinâmica empreendida pelo mercado financeiro e investidores tem sido notoriamente desprovida de precauções necessárias, havendo mesmo uma euforia, denotando que não estão avaliando bem os riscos presentes e ao longo do ano, e que podem provocar movimentos mutantes e até mesmo reversão das expectativas.
Temos deixado evidente que é preciso grau mais elevado de sensatez e não ir com tanta sede ao pote, visto que as incertezas políticas, até certo ponto minimizadas em demasia, e a questão fiscal gravíssima representam pontos que impõe cautela e até posturas mais defensivas até que se tenham pontos ainda indefinidos elucidados.
Algumas opiniões nesta linha alertando, a exemplo de nossa postura desde inicio de dezembro, têm sido postas, podendo mencionar a do ex Presidente do BC, Gustavo Franco e do Presidente do Insper, Marcos Lisboa, que salientaram o contexto eivado de dúvidas e incertezas e até preconizando quadros agravados se não forem superados os obstáculos que inviabilizam as reformas, imprescindíveis para a questão fiscal.
Agora merece destaque as colocações do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV) que destaca que a recuperação econômica vai ganhar fôlego ao longo do ano, mas o balanço de riscos para a atividade é predominantemente negativo, destacando que as incertezas políticas e fiscais ameaçam a retomada.
É uma respeitável entidade sinalizando as preocupações com a realidade e suas perspectivas.
Hoje deverá ser um dia relativamente nervoso, sugerindo posturas defensiva de investidores, visto que amanhã ocorrerá o julgamento do ex Presidente Lula, e o “day after” será feriado na cidade de São Paulo, onde fica o centro do mercado financeiro brasileiro.
Evidentemente, seja qual for o resultado caberá recursos e somente em 5 de agosto o TSE se manifestará sobre os impedidos à candidaturas e, mesmo assim, ainda caberá recursos ao STJ e a STF, até 17 de setembro, o que pode até ocorrer a menção do ex-Presidente Lula nas cédulas eleitorais, ainda que impedido.
Há uma preocupação de tornar este fato um evento menor sem grande impacto, mas em realidade não se tem uma leitura clara de quais serão as posturas reacionárias de seus adeptos, caso seja confirmada a condenação.
Logo a seguir, posterior ao carnaval que é uma festa popular paralisante, haverá a tentativa do governo no sentido de aprovar a reforma da Previdência, algo desafiador ao atual governo e extremamente necessária para um passo adiante no sentido de equacionar a crítica situação fiscal do país.
Os sinais atuais deixam transparecer que o governo ainda não conseguiu a adesão dos votos necessários.
No curto prazo são fatos impactantes no campo político e econômico, e que podem acarretar mudanças nas perspectivas, pois não podemos perder de vista que a crescente valorização da Bovespa tem sido alavancada pelos investidores estrangeiros, em sua grande maioria especuladora, e que são extremamente ágeis para retirada de seus capitais “ariscos” do país se vislumbrarem mudanças no cenário.
No campo externo continua merecendo atenção os reflexos que poderão advir das mudanças tributárias definidas pelos Estados Unidos e que poderão impulsionar retorno de empresas com grandes recursos no exterior, o que poderá ser negativo para os países emergentes.
Importante observar que o Presidente americano, Trump, fará o discurso de encerramento do encontro de Davos na sexta-feira, e alguns analistas acreditam que ele adotará uma postura protecionista sobre o comércio, o que pode provocar vendas generalizadas em moedas de mercados emergentes.
Há, portanto, no horizonte uma gama de incertezas políticas e fiscais internamente, mas não faltam também preocupações com mudanças que poderão ocorrer no exterior, com reflexos nos países emergentes, até mesmo no quesito liquidez do mercado global.
Com um cenário no curto prazo, tão imediato, bastante nebuloso é recomendável que haja postura mais cautelosa, pois deverá haver muitos ruídos.
O 1º trimestre, em especial, tem incertezas políticas e fiscais que precisam ser mais bem consideradas pelo mercado financeiro, seus agentes e seus “players”.
Importante ter em mente que, a despeito do intervencionismo do BC, o preço da moeda americana tende a repercutir muito rapidamente eventual mudança de humor e perspectivas.