Chegamos ao segundo relatório sobre as perspectivas dos mercados no mês. A análise "top down", de "cima para baixo" ("top down approach”), segue como ferramental recomendado, por permitir aos investidores uma leitura, primeiro, sobre o ambiente macroeconômico (doméstico e global), depois, sobre setores e empresas.
MAIO, para o mercado de capitais brasileiro, também terá alguma volatilidade, o que deve demandar uma postura ainda CONSERVADORA dos investidores na alocação dos seus recursos. Lembremos aos players de mercado, que MAIO é conhecido pela sua “maldição”, pois reza a lenda que era quando os investidores mais aristocráticos, na Londres do final do século XIX e início do XX, começavam a sair da cidade, realizando suas posições, para o início das férias de verão. Só retornavam no outono. Daí o termo “maldição de maio” (“sell in may and go away”).
Só não sabemos se isso deve acontecer também em 2021, porque as empresas estão vindo de lucros consideráveis e a retomada da China e dos EUA, pós pandemia, parece fato para este ano. Os EUA devem crescer entre 6% e 7%, depois de recuar 3,5% em 2020, e a China, acima de 8%. Importante que ambos os países parecem já ter superado o pior da pandemia, os EUA num intenso programa de vacinação neste ínicio de ano e o China, tendo registrado apenas 4 mil e poucas mortes. Algo impressionante diante das 415 mil no Brasil. Soma-se a isso, os pacotes de estímulo da economia nos EUA, com o de Infraestrutura - ainda em tramitação no Congresso - com a promessa de mobilizar mais US$ 2 trilhões.
Isso tende a fortalecer os mercado de commodities, em especial, de minerais e agrícola, no que muitos já chamam super ciclo das commodities (ver gráfico ao fim). No total, os americanos devem mobilizar cerca de US$ 6 trilhões em estímulos fiscais, algo só comparável ao ciclo Reganomics e o New Deal, do presidente Franklin Delano Roosevelt nos anos 1930.
LEIA MAIS: 4 ações para surfar na alta das commodities em 2021
Em ABRIL o mercado de ações se manteve num “bom driver”, embora avançando menos do que em MARÇO (6,1%). O Ibovespa valorizou 1,9%, fechando a 118.893 pontos, no ano em pequeno recuo de 0,1%. O ambiente de instabilidade, citado acima, se explica pela excessiva instabilidade política interna, com a CPI da Covid em pleno curso e pela dificuldade de vacinação, com muitas ainda a ser aplicadas. Neste mês, o mercado foi sustentado pelas empresas exportadoras, dada esta forte demanda das commodities. Destaque para a Vale (SA:VALE3), que valorizou 11,5%, a Braskem (SA:BRKM5) (+32,2%), a Usiminas (SA:USIM5) (+29%) e a CSN (SA:CSNA3) (+29,8%).
LEIA MAIS: 5 ações para segurar na carteira no longo prazo
Foi um mês também em que outros setores tiveram boa performance, com muitas operações de M&A, destaque para a Hering (SA:HGTX3), “incorporada” pelo Grupo Soma (SA:SOMA3), com o papel em bolsa valorizando 70,4%. A Renner (SA:LREN3) também foi destaque, com novos lançamentos de ações (follown-on) e a CVC (SA:CVCB3), outro destaque, se valorizando 21,5%. Foi um mês, portanto, das exportadoras, mas também do varejo físico, empresas bem posicionadas, capitalizadas e realizando operações de fusão e aquisição.
Para MAIO, dependendo do ritmo das vacinações, do afrouxamento dos lockdowns “localizados”, da redução do número de óbitos e do rumo da CPI da Covid-19, é possível prever a economia brasileira começando a “rodar” em melhor ritmo entre meados do mês e início de junho. Isso não afasta o fato de que teremos um “período de transição”, em que todo o cuidado ainda será necessário.
O fato é que quanto mais rápido o ciclo de vacinações, as hospitalizações devem se reduzir e as perspectivas de crescimento melhorar.
O tripé - isolamento social, máscara e álcool gel -, continuará a nortear as nossas vidas, mas parte do comércio físico deve voltar a faturar, assim como outros serviços.
A seguir, alguns outros pontos melhor detalhados
Na política, será importante atenção para a CPI da Covid-19, que pode vir a acirrar os ânimos e respingar no comportamento dos investidores. Esta deve analisar todo o caminho do governo no enfrentamento da pandemia, seus passos errados, como no início, negando a Coronavac, contra o governo João Dória, de São Paulo. Outro fato à desgastar será a postura negacionista do presidente, defendendo o uso do “kit Covid”, hoje demonstrado ineficaz. Ao fim, boatos indicam que o governo Bolsonaro realizou pesadas encomendas aos EUA, de cloroquina e esta possui estoques abarrotados no Exército.
Importante também será estar atento ao “ciclo das reformas”, com a Tributária em discussão. Serão três ou quatro etapas, a primeira na transformação do PIS/Cofins pela Constribuição de Bens e Serviços (CBS). O problema maior será mexer com o ICMS ou o ISS, dados os riscos de perda de receita dos estados e municípios, já em situação fiscal bem delicada. A Reforma Administrativa também deve entrar nas discussões em MAIO, mas não acreditamos em grandes avanços.
O que é importante observar é que de alguma forma a CPI da Covid deve esvaziar a agenda de reformas, com especial atenção para a Tributária. Isso não parece agradar o presidente do Congresso Arthur Lira (PP-AL), um dos mais empenhados na sua aprovação.
Será importante também impor um ritmo mais acelerado nas vacinações e daí, uma mais “rápida normalização da vida econômica no País”. A chegada de novas doses de vacinas da Pfizer Inc (NYSE:PFE) (SA:PFIZ34), no total de 100 milhõds, será um importante indicativo neste sentido.
Na política econômica destaque para a reunião do Copom na semana (dia 05). A taxa Selic acabou elevada a 3,50% a.a, sinalizando, pela “normalização parcial”, para junho, mais um ajuste de 0,75 ponto percentual, a 4,25%. Lembremos que em março teve início este “ciclo de normalização parcial”, com o Banco Central “correndo atrás da curva”, e alta de 0,75 ponto percentual. Haverá mais um ajuste de 0,75 ponto percentual em agosto e depois mais um de 0,5 ponto. A taxa do ano prevista é de 5,5%, o que diante de uma inflação prevista de 5,1%, deve gerar um juro real em torno de 0,3% a 0,4%.
Neste contexto, o super ciclo das commodities deve se manter em MAIO. Neste, destaque para o minério de ferro, petróleo, grãos variados e proteína animal (carne de frango, porco e boi). Já o Bloomberg Commodity (gráfico ao fim) está operando no patamar mais elevado desde agosto de 2015. Acreditamos que as commodities devem continuar subindo diante da recuperação mais acelerada da economia global.
Nos primeiros quatro meses deste ano, o minério de ferro passou de US$ 89 a US$ 193, em valorização de 116%. Em 12 meses, o petróleo Brent valorizou 129,1 e o WTI 169,8%; no agrícola, o trigo avançou 46,8%, o milho 132,3%, a soja 89,4%, o café 40,4% e o algodão 66,3%. Pelo lado da proteína animal, o boi gordo valorizou 28,3% e o porco magro 68,1%.
Replicando para as empresas, negociadas em bolsa de valores, grandes produtoras de commodities, pelos dados do Investing.com, na tabela a seguir, destaquemos a Vale, grande produtora de minério de ferro, que passou em 12 meses, de R$ 45 a R$ 115 (152%), assim como Gerdau (SA:GGBR4), Usiminas e CSN, todas empresas produtoras de derivados de aço e minério, em robusta valorização nos 12 meses, contando claro o forte tombo com a pandemia.
Devemos destacar também os setores, antes impactados pelas restrições à mobilidade social, mas que começam a sair desta condição como o varejo físico e serviços diversos.