Hoje me arrisco em terreno ardiloso.
Sob pretensão assumida, esboço uma explicação que nem mesmo Benjamin Graham, o professor de Warren Buffett, conseguiu fornecer. Comecemos pela raiz da coisa. O que está por trás do value investing, o tradicional método proposto por Graham e aprofundado por Buffett? A noção de que ações são empresas, que, por sua vez, carregam um valor intrínseco.
Daí decorre a proposta pragmática de que, em havendo discrepância entre os preços correntes da ação e seu valor intrínseco, há uma oportunidade a ser explorada. Ao final, preços de mercado convergiriam para o valor intrínseco, trazendo lucro ao investidor.
Se uma ação está abaixo do valor intrínseco, estaria barata e, portanto, mereceria compra. Vale o inverso no caso de estar acima.
Quando Benjamin Graham foi perguntado sobre as razões dessa convergência no longo prazo, respondeu algo como: “Eu não sei dizer o porquê. Simplesmente acontece assim. É o que eu observo por décadas.” Tomo a liberdade de usar palavras minhas. A essência do recado original está preservada em sua plenitude.
Para buscar uma justificativa, proponho um jogo. Peço que escolha entre duas alternativas. Finja que há uma situação real aqui e, por favor, participe da brincadeira. Você deve escolher entre as duas loterias abaixo:
A. O bilhete paga R$ 100 com 80% de chance, e paga R$ 10 com 20% de probabilidade; ou
B. Recebe R$ 80 com certeza.
Qual é sua preferida?
Se você tem um comportamento tradicional, escolhe a loteria B, mesmo sendo seu valor esperado (R$ 80) inferior àquele da loteria A (R$ 82). Esse é o resultado típico encontrado por diversos estudos. Note que não há nada de irracional nesse comportamento. Ele apenas denota aversão a risco. O sujeito prefere ter a certeza de que ganhará R$ 80 a correr o risco de levar apenas R$ 10.
A teoria econômica tradicional trata disso sem problemas. Bernoulli, na formalização da Teoria da Utilidade Esperada, descreveu com adequação esse fenômeno, chamando a atenção - ficamos um pouco técnicos agora - para o caráter côncavo da Função Utilidade (proxy para felicidade) do Investidor. Em outras palavras, sendo a utilidade marginal da renda decrescente (ir de R$ 10 para R$ 20 deixa mais feliz do que ir de R$ 90 para R$ 100), tudo estaria de acordo. Os problemas da Teoria da Utilidade Esperada são outros.
Depois falamos de suas falhas e da sua superação pela Prospect Theory, de Daniel Kahneman.
Agora suponha uma escolha. Não temos loterias A e B. Temos dados. E, em vez de jogá-los apenas uma vez, vamos repetir o experimento um milhão de vezes. Você ainda escolheria o dado B?
Provavelmente, não. Conforme se repete o experimento indefinidamente, os valores observados (amostral) tendem a convergir para o valor real (populacional). Lei dos Grandes Números na veia. Um único resultado está muito mais sujeito à aleatoriedade. Você pode dar o azar de cair nos tais 20% de chance e ficar apenas com R$ 10. Mas se você ficar repetindo isso, provavelmente vai chegar no valor esperado.
Investir pensando no curto prazo em Bolsa é justamente correr o risco de cair, aleatoriamente, num resultado ruim, apenas por uma questão de (falta de) sorte. Se você recorre ao longo prazo, os valores observados tendem a convergir para o valor real. É como se repetisse o número de rodadas do jogo.
Por isso, afirmo sem medo de errar: as melhores ações da Bolsa são aquelas de empresas boas e baratas.
Para visualizar o artigo completo visite o site da Empiricus Research.