Observamos mais uma semana dominada pelo pânico, principalmente no que diz respeito às questões relacionadas à saúde da população e das economias. Mesmo após um movimento bastante extremo do Federal Reserve, que consistiu em um corte emergencial das taxas de juros americanas para 0-0,25%, mais a injeção de uma massiva quantidade de capital nos mercados, e acordos de swaps cambiais com alguns bancos centrais do mundo no sentido de dar liquidez / aumentar a oferta de dólares nestes respectivos países, o mercado financeiro como um todo fechou mais uma semana 'sangrando'.
Por aqui, o nosso banco central acompanhou o FED, e também anunciou uma redução da taxa SELIC de 4,25% para 3,75%, e também outras medidas buscando estimular a economia doméstica. Entretanto, alguns estudos já indicam que teremos uma retração da economia interna neste ano de 2020, ante uma projeção do PIB em cerca de 2%.
O quadro é deveras preocupante, e prevalece assim o sentimento de pessimismo e temor. O painel abaixo evidencia os países mais afetados por esse novo vírus.
Observa-se então que pela relação de novos casos, os focos de atenção se voltam agora para a Europa e EUA, dois dos três grandes centros econômicos do mundo. A Ásia por sua vez, continente no qual toda essa pandemia se iniciou, conseguiu aparentemente estabilizar a disseminação do COVID-19 por lá.
Resumidamente, o gráfico a seguir ilustra como se comportaram os principais índices do mundo, assim como outros importantes ativos ao longo desta última semana.
Dados extraídos do tradingview.com (fechamento das semanas)
Aproveitando as notícias citadas acima, acerca da forte injeção de moeda americana nos mercados pelo FED, podemos observar como se comportaram os contratos futuros de dólar, os rendimentos do tesouro americano de 10 anos, e o índice DXY respectivamente, conforme os gráficos abaixo.
Mas antes, dando um passinho para trás, é preciso mencionar de forma simples que:
- O atual ambiente de pânico gera uma aversão maior ao risco, e portanto, uma procura ou fuga de capital para ativos mais seguros, como o dólar.
- A injeção de capital realizada pelo FED tem como objetivo aumentar a oferta (liquidez) de dólares nos mercados, e pela lei de oferta e demanda, desvalorizar / reduzir o valor da moeda americana frente aos seus principais pares (uma escalada ainda maior da desta combinada ao alto nível de endividamento em dólares de empresas e governos, pode trazer consequências ainda mais graves para as economias).
- Como majoritariamente parte desta injeção se dá por meio de compras de títulos do tesouro americano, a expectativa do FED é que os rendimentos desses caiam, se alinhando com as taxas de juros estabelecidas pela instituição, a fim de que tanto os juros relativos à captação por novos recursos como os rendimentos da renda fixa fiquem baixos o suficiente para impulsionarem o aumento em termos de investimento e consumo, girando assim o motor da economia.
Desta forma, olhando para os contratos futuros de dólar e os rendimentos dos títulos de 10 anos do tesouro americano, observamos que ao menos nos dois últimos dias estes recuaram ou se mantiveram 'estáveis', o que indica que as ações lideradas pelos bancos centrais brasileiro e americano geraram um certo efeito nesse espectro de curtíssimo prazo. De qualquer forma essa é uma batalha que vai ser travada diariamente, e muito complicada de ser vencida pelo atual clima de medo.
Entretanto, olhando para o índice DXY, que tem o Euro como o seu mais importante par, e correlacionando o seu comportamento ao nível atual de contaminação da Europa pelo COVID-19, isto é, à região mais afetada no presente momento, é possível entender que a procura por ativos mais seguros foi muito mais forte por lá, e por isso vemos essa explosão nos preços conforme gráfico abaixo.
A seguir, destacamos também a variação do par de moedas USD/EUR, onde observamos, como mencionado, um movimento bastante similar com índice DXY.
Dando uma passeada agora pelos principais índices do mundo, mas primeiro, começando pelo IBOV futuro, observamos que o mesmo atingiu o objetivo que havíamos traçado, que foi a projeção da amplitude do canal de alta em azul para baixo, o que coincide com um importante suporte na casa dos 68 mil pontos. Caso tenhamos a continuação de queda, o próximo ponto de parada relevante seria na faixa dos 58 mil pontos, ou seja, uma desvalorização que seria superior à 50% do seu topo histórico do início do ano. Os próximos dias serão de suma relevância para confirmarmos a direção e força do mesmo.
O S&P500, o mais relevante índice americano, vem tentando romper uma LTA (linha de tendência de alta) relevantísisma, que vem sendo respeitada desde a pós-crise dos subprimes em 2008, e que pode ser de fato um marco significativo em termos gráficos, cujo rompimento pode desencadear uma força de venda ainda maior do que a dos últimos dias. Para quem tiver curiosidade, poderá observar que algumas ou a maioria das ações do S&P500 já vinham indicando um possível enfraquecimento do mesmo, e que este vinha sendo basicamente 'sustentado' por algumas 'poucas' ações de peso mais significativo.
O DAX, índice alemão, vem na mesma 'toada', porém de forma mais agressiva, com uma parte mais saliente do corpo para fora da mesma LTA, contudo, respeitando ainda um suporte interessante marcado por um retângulo em vermelho. De qualquer forma, por movimento projetado, estimamos ainda um pontencial de queda para a região dos 7 mil pontos, principalmente se observarmos um maior agravamento da situação econômica na Europa.
O principal índice chinês, o Shanghai Composite, continua operando de forma surpreendente dentro de uma consolidação, embora tenha apresentado uma queda expressiva nesta última semana. A pergunta é: como um país que tem a exportação de seus produtos como uma das principais veias em termos de geração de riqueza, vem mantendo o seu mercado de capitais dentro de uma estabilidade (se comparado aos outros demais mercados), com dois de seus principais clientes (Europa e EUA) praticamente parados / fechados?
Já o Nikkei, um dois mais importantes índices asiáticos, também apresenta perdas consideráveis, e está indo em direção a um relevante suporte na casa dos 15 mil pontos, que se vencido, poderá alcançar a nossa projeção por volta dos 13-14 mil pontos.
Indo para as commodities, observamos que o preço do barril de petróleo chegou a atingir a casa dos $20/bbl, região que não era acionada desde o início deste século (nem mesmo durante a crise financeira de 2008). De qualquer forma, mantemos o nosso racional que o preço permanecerá nesse nível por pouco tempo, dado que este não é sustentável no médio / longo prazo. Corroborando com a nossa visão, já observa-se notícias relacionadas à uma aproximação entre os produtores de óleo de xisto nos EUA e os participantes da OPEC, no sentido de trazerem a produção / preço para dentro de uma razoabilidade.
Também de forma incrível, assim, como o índice chinês, o preço do minério de ferro vem trabalhando de forma estável, conforme gráfico abaixo.
De qualquer forma, o cobre, uma das importantes commodities que ajuda a medir o nível de atividade industrial e de construção, vêm apresentando uma forte desvalorização, dado toda essa conjuntura econômica que vem se desenhando nas últimas semanas.
Já o ouro, porto seguro de muitos investidores, também se desvalorizou ao longo da semana que passou, e muitos sugerem que a necessidade de chamada por margem ao longo desses dias de pânico, forçou muitos investidores sairem das suas posições compradas neste metal, para cobrirem eventuais perdas em outros ativos / derivativos.
Passando para o calendário econômico, abaixo segue a agenda com os principais eventos para esta semana, com destaque para a atividade industrial na Alemanha, ata do Copom no Brasil, e divulgação do PIB do último trimestre nos EUA.
E para finalizar, mesmo torcendo para que todo esse ambiente se transforme logo em passado, é necessário enfatizar que todos os instrumentos que foram 'sobre' utilizados ao longo desses últimos anos / décadas, que ajudaram a desencadear essa atual situação econômica, vêm servindo novamente como as principais armas para a contenção desta atual crise. Caso não tenhamos nenhuma reordenação econômica, poderemos estar próximo de um novo pesadelo econômico, quando este de agora estiver terminando. Me desculpem desde já pela visão extremamente 'otimista'.
Muito obrigado.