De acordo com dados da B3 (BVMF:B3SA3), somente nos primeiros pregões de 2025, os investidores estrangeiros retiraram cerca de R$ 3 bilhões da Bolsa de Valores brasileira. À primeira vista, o movimento assusta, mas não se trata de algo excepcional que mereça preocupação e sim de um acontecimento pontual. Tanto que, no mês de janeiro como um todo, o saldo foi positivo. Entraram, na B3, R$ 6,824 bilhões por parte de investidores de fora, resultado de compras da ordem de R$ 289,21 bilhões e vendas de R$ 282,385 bilhões, considerando somente o mercado secundário.
O que chama atenção é que o mercado de capitais brasileiro enfrenta um cenário inusitado: nenhum IPO (Oferta Pública Inicial, na sigla em inglês) foi registrado na Bolsa de Valores brasileira, a B3, nos últimos três anos. Isso sim, tem de ser monitorado e melhor compreendido pelos agentes do mercado.
Esse fato contrasta com o período de euforia entre 2020 e 2021, quando diversas empresas aproveitaram a onda de liquidez global para abrir capital. Mas o que explica esse período de estagnação? Quais os fatores que estão desestimulando empresas a buscar o mercado de ações como fonte de captação de recursos? O contexto econômico explica parte do problema.
Nos últimos anos, o Brasil enfrentou uma combinação de desafios econômicos que afetaram diretamente o mercado de capitais. Entre os principais fatores estão:
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Alta da Taxa Selic: Com a taxa básica de juros atualmente em patamares elevados, os investidores têm migrado para alternativas de renda fixa, que oferecem retornos atrativos com menor risco. Isso reduz o interesse por ativos de renda variável, como ações.
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Incertezas fiscais e políticas: O ambiente econômico doméstico tem sido marcado por dúvidas sobre a sustentabilidade fiscal e a direção das políticas econômicas. Esse cenário afasta investidores, tanto locais quanto estrangeiros, que buscam maior previsibilidade antes de alocar recursos em ativos mais arriscados.
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Mercado global adverso: Internacionalmente, o aumento das taxas de juros nos Estados Unidos, liderado pelo Federal Reserve, tem tornado os ativos de mercados emergentes, como o Brasil, menos atrativos. Além disso, as incertezas sobre o desempenho da economia chinesa também afetam a percepção de risco para países exportadores de commodities, como o Brasil.
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Conflitos pelo mundo: As guerras pelo mundo também acabam impactando negativamente os mercados internacionais.
Diante deste contexto, muitas empresas que consideravam abrir capital estão optando por buscar outras formas de financiamento, como empréstimos, emissões de dívida privada ou até mesmo venda de participações para fundos de private equity. Mas vale lembrar que além de tudo o que foi colocado acima, o desempenho decepcionante de algumas companhias que abriram capital durante o boom de IPOs em 2020-2021 gerou desconfiança no mercado. Muitos investidores sofreram prejuízos significativos, o que reforçou a cautela com novas ofertas.
Sendo assim, o que podemos esperar para o futuro? Apesar do atual cenário desafiador, especialistas apontam que o mercado de IPOs pode se recuperar no médio prazo, desde que alguns fatores-chave sejam endereçados:
• Redução da taxa Selic, o que poderia trazer maior atratividade para a renda variável.
• Estabilidade fiscal e política, para restaurar a confiança dos investidores.
• Melhoria no cenário global, especialmente no que diz respeito à redução de juros internacionais e à recuperação da economia chinesa.
É claro que este último item não depende do Brasil, que pouco pode fazer. Mas os dois primeiros, sim. Bolsas de Valores de países com taxa básica de juros em patamares aceitáveis e estabilidade, tanto fiscal quanto política não sofrem tanto como a Bolsa daqui. O período de três anos sem IPOs na B3 reflete um ambiente econômico e político adverso, além de uma mudança na percepção de risco por parte dos investidores. No entanto, o mercado de capitais brasileiro ainda possui potencial significativo, especialmente se reformas econômicas e políticas forem implementadas para estimular a confiança e o crescimento.
Embora o momento seja de incerteza, a história mostra que mercados cíclicos como o de IPOs têm capacidade de recuperação. Cabe ao Brasil criar as condições necessárias para atrair investidores e permitir que as empresas aproveitem novamente essa importante fonte de financiamento.