Há algum tempo que investidores têm esperado uma queda do mercado acionário para aumentar suas exposições, sempre apostando em uma realização de papéis cujos múltiplos estão inchados e fundamentalmente desconectados. O problema é o rendimento negativo ou próximo de zero provido pelo mercado de renda-fixa (de títulos soberanos de países desenvolvidos), que relativamente faz o investimento em bonds muito mais caro do que em ações – de forma geral.
O calcanhar de Aquiles é que o mercado de bonds está inflado pela atuação dos Bancos Centrais, ou em outras palavras os títulos estão em níveis artificiais, de forma que o raciocínio é perigoso e a decisão tomada em cima dele pode custar muito em um soluço – que pode vir com resultados ruins de empresas ou crescimento mundial mais baixo.
Tudo isto para falar que alguns investidores cansaram de esperar por ativos mais baratos e pularam de cabeça para ganhar exposição, levando o S&P500 e o Dow Jones para seus mais altos níveis da história.
A abundância de liquidez influenciou positivamente algumas commodities, entretanto com volatilidades elevadas e não mostrando tanta solidez como se esperaria. Talvez o motivo seja o grande montante de contratos dos fundos comprados em algumas matérias-primas, tornando necessário atrair mais compras baseadas em fatores fundamentais sólidos – e algumas (ou muitas) não têm – considerando que as cotações já subiram substancialmente nos últimos meses.
O café sinalizou ser uma das commodities com um potencial maior de alta, empurrado pelo noticiário reciclando a safra pequena de conilon no Brasil, a queda dos estoques no Vietnã e até mesmo a certificação de míseras 560 sacas de café brasileiro na bolsa de Nova Iorque.
Não significa que sejam pontos descartáveis, apenas não são argumentos novos para justificar os US$ 200.00 centavos por libra-peso defendido por alguns. Quanto aos “testes” dos cafés brasileiros certificados na ICE, me parece ser menos uma tendência e mais um aprendizado entre os ativos participantes – muito saudável o exercício. O Real mais firme em alguns dias da semana justificou muito mais o movimento de alta que levou os preços para níveis que não víamos desde 20 de fevereiro de 2015.
O rally e a recuperação leve da moeda americana ajudou o mercado físico destravar um volume grande de negócios permitindo uma melhor cobertura de posições dos exportadores que tem compromissos a cumprir.
Os diferenciais para a grande maioria das origens produtoras enfraqueceram bastante, isto sim, em minha opinião, um indicador forte de uma limitação/mudança de movimento dos terminais. No Vietnã o basis ficou negativo, reflexo da alegria dos intermediários em vender o café que seguraram por bastante tempo, atraindo assim compradores de safra nova que pacientemente aguardavam por este momento.
No Brasil o sentimento compartilhado por muitos foi de que finalmente a safra grande (de arábica) entrou – um alívio aos vendidos. No FOB as ofertas mais descontadas também trouxeram mais negócios, muito embora os compradores internacionais até agora não conseguissem digerir a conversa dos altistas sobre a firmeza da reposição – já que os importadores têm alguma cobertura nos seus livros e recebiam ofertas que teoricamente não eram compatíveis com a dificuldade de comprar café dos exportadores locais.
A queda no terminal de sexta-feira apenas apagou os ganhos do dia anterior, mas tecnicamente é uma chave de reversão que pode fazer o mercado perder omomentum e acabar atraindo uma liquidação de parte da posição comprada dos fundos.
Por falar nisto, os especuladores na última terça-feira, dia 12 de julho, tinham 35,314 lotes comprados, estando provavelmente próximo de 40 mil considerando o movimento das últimas três sessões. Olhando para o volume de compra dos fundos desde o dia 31 de maio até o dado do mais recente relatório, o volume de compras (líquido) foi de 42,392 lotes (ou 12 milhões de sacas de sessenta quilos) e os ganhos do terminal foram de US$ 23.95 centavos por libra – ou seja, os fundos tiveram que comprar 1,768 contratos para cada ganho de US$ 1.00 centavo por libra dos futuros.
Com o encaixe dos diferenciais, imagina-se que os não-comerciais terão que comprar muito mais de agora em diante, pois o Brasil deve soltar mais café aos preços atuais e com uma maior disponibilidade de grãos com o avanço da colheita.
Os estoques certificados da ICE para o “C” por ora pararam de cair, e alguns novos lotes tem sido mandados para certificação. Os baixistas dizem que mais café virá para o terminal já que há três anos não se via os diferenciais dos suaves tão baratos. Nem mesmo a longa greve de caminhoneiros na Colômbia fez o prêmio do seu café encarecer, permanecendo a baixos de apenas um-dígito.
No Japão os estoques em maio subiram 93.25 mil sacas, totalizando 3.44 milhões de sacas (acima das 3.03 milhões do mesmo mês a um ano). Nos Estados Unidos a Green Coffee Association (GCA) divulgou que em junho o inventário no país aumentou em 126,424 sacas, para 6.21 milhões de sacas – o maior nível desde agosto de 2003.
O Brasil em junho exportou 2,38 milhões de sacas, segundo a CECAFE, embarcando no ano-safra 15/16 35.42 milhões de sacas, perdendo apenas para a safra de 14/15 (36,57 milhões de sacas). O Vietnã no mesmo mês bateu os brasileiros exportando 2,64 milhões de sacas, 44% acima dos 1.83 milhões de junho de 2015, e acumulando no ano um incremento de 45% nas exportações – uma “retenção” natural que deu certo.
O cenário macroeconômico pode continuar influenciando as alocações dos recursos, eventualmente ajudando o café a não cair muito depois do encerramento tecnicamente negativo da bolsa.
Particularmente eu tenho um pouco de receio do quanto o terminal pode escorregar. Não que eu acredite que veremos os US$ 120.00 centavos novamente, mas dado o pobre volume negociado, a posição enorme dos fundos, a quantidade de altistas no mercado, assim como a manutenção do Índice do Dólar acima dos 96.00 pontos, qualquer cinco mil lotes de vendas dos especuladores podem não apenas dar um tombo feio nos preços, como também voltar atrair novas vendas. Entre os economistas que rezam na cartilha faz muito mais sentido ficar vendido em um mercado que tem carrego, como o café, do que ter uma posição long – ainda mais em um ano onde não há crise de abastecimento. Nem mesmo as notícias de noites frias no Brasil para os próximos dois dias foram suficientes para segurar Nova Iorque na sexta-feira.
Por sinal, falando sobre a estrutura, vale a pena vender os spreads do Setembro contra os dois próximos vencimentos, Dezembro e Março. O risco é uma geada no fim do inverno do hemisfério sul, mas nada que não se possa proteger com o mercado de opções.
Uma excelente semana e muito bons negócios,