O Brasil parece que está sendo dos mais penalizados entre os emergentes e entre os considerados mais vulneráveis, sendo foco de observações criticas no âmbito internacional e não menos no âmbito interno.
O sentimento é que a menção de desgaste apontado pelo FED americano pesou e acentuou a percepção negativa em torno do país, pois afinal não foi uma matéria jornalística do FT, do The Economist ou do WSJ, mas de um organismo de peso no cenário mundial.
Cresce a percepção de que o país poderá ter acentuada a saída de recursos estrangeiros presentes no mercado financeiro e acentuar ainda mais a retração dos fluxos na forma de IED´s na conta capital, já cadentes desde o ano passado, e os empréstimos “intercompany”, como consequência das enormes fragilidades internas decorrentes da sua situação macroeconômica que conduziu o país a perda de tração para o crescimento, falta de motivação para o investimento por parte do setor privado, baixa capacidade de investimentos por parte do governo, política fiscal deteriorada e mantendo-se expansionista, inflação alta, déficit em transações correntes elevado, firme presença do BC para gerar “hedge” no mercado futuro e liquidez no mercado a vista de câmbio face insuficiência de fluxos autogerados pelo mercado, etc...
Na mesma linha os fluxos de capitais estrangeiros voláteis para a Bovespa e renda fixa.
E para piorar, agora surgem riscos de racionamento de energia, falta de água e de perdas parciais das safras agrícolas por questões climáticas, que começam a ser considerados.
O FED na palavra da sua nova Presidente, Janet Yellen, manifestou a intenção de dar continuidade à redução do seu programa de incentivo monetário, ao qual tem imposto redução mensal desde janeiro deste ano da ordem de US$ 10,0 Bi mensais, já tendo recuado o seu valor primitivo de US$ 85,0 Bi mensais para US$ 65,0 Bi.
Este fato naturalmente tem efeito imediato na liquidez do mercado internacional e no custo dos recursos, o que por si só provoca a retração de investimentos por parte das multinacionais, retração que se fortalece pela baixa atratividade do Brasil, que atualmente tem na economia americana, em recuperação, que catalisa recursos em poder dos emergentes e outros emergentes em melhor situação macroeconômica concorrentes fortes no direcionamento dos recursos.
Em principio ficou entendido que o FED não elevará o juro, o que será quando ocorrer efetivamente outro momento da crise que atingirá os emergentes, que ficará para adiante, provavelmente em 2015, quando as questões em torno do emprego no mercado de trabalho americano estiverem em níveis confortáveis e sustentáveis.
O fato é que após o evento de Davos, onde o Presidente Tombini, BC, asseverou que o país elevaria o juro se necessário fosse e a Presidenta Dilma falou em rigor fiscal, um dos fatores mais relevantes na perda de credibilidade do país, era esperado que no retorno houvesse manifestação pontuando estes assuntos relevantes e, pelo menos, na questão do superávit primário houvesse uma decisão estabelecendo meta agressiva, corroborando com a afirmativa de rigor fiscal.
Os assuntos foram silenciados, a política fiscal permanece expansionista e o mercado está se convencendo que o aperto monetário será tênue e não agressivo, provavelmente com uma alta de 0,25% na próxima reunião, elevando a SELIC para 10,75%.
Ficou então um “vazio” e expectativa e incerteza.
A inflação deu um pequeno sinal de melhora no índice IPCA, mas prematuro para se considerar o que já foi feito como satisfatório.
O fluxo cambial de fevereiro registrou na primeira semana superávit de míseros US$ 46,0 M e embora tenha melhorado no fluxo financeiro, não há evidências mais fortes de que haja sinais de recuperação e reversão da tendência ao negativo revelada no ano passado, afinal temos um montante substantivo de importações a pagar em aberto e um saldo não tão exuberante de exportações com câmbio a ser contratado.
O total da insuficiência de fluxos para o país acumulado até o final da semana passada era de US$ 14,937 Bi, montante das posições vendidas dos bancos no mercado à vista e estavam ancoradas por financiamentos de linhas concedidos pelo BC aos bancos de US$ 14,526 Bi.
Portanto, o fluxo cambial precisa ser favorável para cobrir a necessidade deste ano mais o que trouxe de insuficiência do ano passado, não havendo indícios que sugiram que possa ter este desempenho.
A China, nossa parceira principal no comércio exterior, deu sinais importantes de melhora na balança comercial de janeiro, com as exportações crescendo 10,6% e as importações 10,0%. Porém, é recomendável sensatez e cautela na observação destes crescimentos, pois janeiro foi o mês do ano novo chinês, comemorado em 31/1 este ano, e isto pode ter determinado antecipação de entregas e pedidos e distorcido o comportamento efetivo de janeiro, sendo previdente aguardar-se os dados relativos à fevereiro.
A zona do euro revelou desapontador desempenho industrial em dezembro com o recuo de 0,7% frente a previsões em torno de 0,3%.
Amanhã, a Presidenta do FED, Janet Yellen, falará no Senado sobre política monetária e embora não se espere nada diferente do que já disse nesta semana, há sempre expectativa sobre o que possa falar sobre o juro no Estados Unidos.
O real foi destaque de depreciação ontem entre os emergentes e continuará sendo caso o governo não manifeste atitude forte perante o quadro, evidenciando austeridade, pois os instrumentos que o BC dispõe para defender a moeda nacional são de “baixo calibre”, principalmente se a pressão vir do mercado à vista.
O governo precisa “interferir” nas expectativas, pois são elas que, por enquanto, exercem a pressão maior na depreciação do real.
Não acreditamos que o BC esteja propenso a “queimar” reservas cambiais partindo para um enfrentamento com uma tendência natural do mercado, podendo agir monitorando a liquidez e não necessariamente o preço.
Está muito evidente que os problemas que envolvem o país neste momento o deixam efetivamente vulnerável e são tão intensos que o fato de dispor de reservas cambiais da ordem de US$ 375,0 Bi não os fazem menores.