Há um comportamento recorrente de atribuir-se aos movimentos que ocorrem no nosso mercado financeiro, em especial nos segmentos de câmbio e acionário, a razões externas, auto atribuindo ao Brasil uma importância muito maior do que efetivamente detém no contexto global.
Na era dos “tsunamis” em que o real em apreciação se tornou a aposta certa ante o dólar, por inúmeras razões, nossa moeda conquistou volumes operacionais em ambientes internos e externos, com o giro altamente fomentado pela especulação e nunca como moeda reserva de valor.
Mas isto faz parte do passado.
Hoje já não temos nenhum risco de sermos objetivados pelos “tsunamis monetários”, muito pelo contrário, o ambiente é de persistência de escassez de fluxos de recursos, que já se evidenciou em 2013 e tem razões mais fortes para intensificar-se em 2014, seja pelas deliberações do FED em seus programas que impactarão na liquidez do mercado internacional, seja pela recuperação da economia americana que tende a retirar investimentos dos emergentes, seja pela perda de atratividade do Brasil, que tem recebido severas criticas a sua política econômica que não consegue fazer o país crescer, seja pela deterioração de sua política fiscal, e tantas outras causas sobejamente conhecidas.
Então, predominantemente as causas estão aqui e as conseqüências mixam razões de origem interna ou de origem externa, o que costumam chamar de aversão ao risco por parte dos investidores estrangeiros.
Então, quando um dado da economia americana é menos favorável isto só coloca na perspectiva ruim para o Brasil que a “tempestade” poderá sofrer um breve retardamento, mas não que não vá acontecer e que continue no radar.
Porém, querer pegar carona na elevação do “rating” do México pela agencia Moody´s é um oportunismo sem nexo, afinal aquele país esta tendo o reconhecimento pelo que fez de certo, exatamente o que o Brasil não fez. A própria agencia destacou as reformas estruturais aprovadas pelo país asteca que devem promover o fortalecimento do crescimento, pois há melhoras das perspectivas econômicas e das projeções fiscais. O México recebeu inúmeros elogios em Davos e até a declaração de investimentos por parte de multinacionais.
O peso se valorizou frente ao dólar logo após conhecido o fato.
Mas que razões provocaram que o real, após sinais de alta, revertesse seu preço ante o dólar caindo até abaixo e R$ 2,40 para depois fechar neste nível.
Foi reflexo dos dados da ADP, processadora de folhas de pagamento americana, que indicou a criação de 175 mil novos postos, menor em 5 meses e abaixo da projeção em torno de 186 mil? Este é um dado que não ficou rigorosamente tão distante da projeção, sendo melhor aguardar até sexta-feira quando o Departamento do Trabalho americano divulgar o numero oficial. Ademais, não se podem subestimar os problemas climáticos que afetaram a economia americana em dezembro e janeiro, fazendo seus cidadãos ficar reclusos em suas casas.
Na contramão deste dado o ISM apontou que o setor de serviços ganhou força em janeiro subindo de 53,0 para 54,0 pontos, frente a projeções em torno de 53,5 pontos.
Poderia ter sido o saldo fechado do fluxo cambial de janeiro que se revelou positivo em US$ 1,610 Bi, composto por US$ 1,591 Bi no comercial e US$ 19,0 M no financeiro.
Se analisarmos houve uma melhora das contratações de exportações com pagamento antecipado, provavelmente devido ao encarecimento do custo dos ACC´s concedidos pelos bancos, já refletindo o aumento de custo das linhas externas.
Mas é relevante se considerar que houve uma diferença de US$ 3,130 Bi entre o câmbio contratado e os embarques físicos, com repercussões de redução do estoque que havia em dezembro, o que sugere que dólares que estavam no exterior ingressaram atraídos pela melhora da taxa cambial.
Porém é importante que a diferença entre exportações contratadas e embarques físicos em 12 meses revelam saldo de US$ 5,009 Bi a ingressar enquanto a mesma diferença entre importações contratadas e embarques físicos em idêntico período revelam saldo de US$ 19,951 Bi a pagar. Em algum momento, estes montantes transitarão pelo fluxo e a diferença a pagar é de US$ 14,941 Bi.
É bastante perceptível que o pais está sem tração exportadora de bens não agrícolas, e a exportação destes dará certo alento ao fluxo por um curto período, até porque parte os pagamentos antecipados ingressados normalmente se relacionam com exportações agrícolas.
Não consideramos que este resultado de fluxo cambial tenha impacto para provocar a apreciação do real como ocorreu.
Contudo, como o movimento ocorreu à tarde, acreditamos que o movimento tem relação direta com o anúncio marcado para ontem do inicio da rolagem da posição de “swaps cambiais” vincenda em 5/3/2014 de pouco menos de US$ 8,0 Bi.
Ao mercado interessado na rolagem interessa um preço de dólar mais baixo para ampliar a margem e ganho da variação cambial. A alta só interessa quando ocorre a liquidação.
Esta parece ter sido efetivamente a causa da queda do preço do dólar ontem no período da tarde.
Hoje é possível que tenhamos o efeito “marola”, com indução de apreciação do real até a realização do leilão de rolagem e posterior alta pós leilão.
E assim deve seguir, com foco na divulgação do dado do emprego oficial pelos Estados Unidos, pois se ruim de fato ficará a sensação de alivio momentâneo de intensificação de saída de recursos, caso contrário o real será depreciado.
E deveremos ter volatilidade, pois como os leilões de rolagem ocorrerão num período de alguns dias, o efeito “marola” pode persistir neste período.