Ao longo dos últimos 10 anos, a economia americana sofreu muito com a crise de 2008 e soube se reconstruir com uma forte ajuda governamental. Ajuda essa que foi desde a injeção de dinheiro público (na casa dos bilhões de dólares em diversos bancos para não quebrarem) até medidas políticas e monetárias, com a redução da taxa de juros a quase zero, como forma de estímulo ao consumo. O marco da crise foi 15 de setembro de 2008, quando um banco de investimento centenário declarou falência. O banco em questão era o famoso Lehman Brothers, que, com o chamado subprime e seu efeito dominó, veio abaixo.
No dia 15 deste mês, completa-se uma década da quebra do Lehman. Fundado em 1850, o banco, em seus últimos anos, praticava a venda de CDOs (Collateralized Debt Obligation), que são títulos formados a partir de financiamentos hipotecários da população norte-americana. Como de costume, quanto maior a probabilidade de a pessoa que hipotecou sua casa ser inadimplente, mais alto era o rendimento dos CDOs. Esse investimento estava sendo praticado por outros gigantes do ramo, como Deutsche Bank, Merrill Lynch, Goldman Sachs e JP Morgan.
Subprime nada mais é do que os financiamentos feitos por bancos para pessoas com alto grau de inadimplência. O principal entrave consistia no fato de que agências de classificação de risco, responsáveis por classificar esse títulos por meio de uma escala o seu grau, acabavam por maquiar os dados. As top 3, formada por Fitch Ratings, Moody’s e Standard & Poor’s, foram duramente criticadas pelas suas posturas. Títulos formados por hipotecas que seriam classificadas com BB (SA:BBAS3) ou BBB passaram para os graus AA ou AAA, fazendo com que os investidores depositassem cada vez mais capital, acreditando ser um investimento seguro. Além do mais, havia o pensamento de que a chance de alguém deixar de pagar uma hipoteca era quase nulo.
Conforme os anos foram passando, já em 2006-2007, houve um “boom” imobiliário, onde os preços das casas passaram a subir rapidamente. Como os bancos precisavam fazer com que seus capitais circulassem, começaram a facilitar os financiamentos hipotecários. Os tomadores de empréstimos, com altos montantes disponíveis para usar, começaram a investir no mercado imobiliário devido a sua alta nos últimos tempos. Porém, todo mundo teve esta ideia ao mesmo tempo, passando a adquirir mais e mais imóveis. Com uma altíssima oferta de casas/apartamentos no mercado, os preços começaram a cair vertiginosamente já no mês de agosto de 2007. Sem conseguir pagar os empréstimos, os bancos acabaram “tomando” as casas e, mesmo assim, elas já não valiam mais o valor atribuído antes das hipotecas.
Dado esse problema em relação às penhoras, os CDOs começaram a entrar em declínio, valendo cada vez menos. Esses títulos estavam disseminados em diversos mercados, principalmente no americano. O sistema financeiro travou por completo. Uma possível saída seria fazer com que a economia se aquecesse, porém, com o aumento significativo dos descumprimentos e o medo de aumentar a taxa de desemprego, os bancos dos Estados Unidos deixaram de fornecer empréstimos.
A fim de tentar contornar a situação, o banco central americano, o Federal Reserve, adotou diversas medidas. Além das já citadas no primeiro parágrafo, a redução das taxas interbancárias e a injeção de bilhões de dólares no mercado aliviaram um pouco as contas, mas não foram suficientes. Já o governo americano criou planos para a devolução de parte dos impostos de renda pagos.
E que fim levou o Lehman Brothers, após a crise? O governo americano, que já havia ajudado financeiramente o Bear Stearns e estatizou outras grandes empresas de crédito imobiliário, optou por dar um limite ao socorro. O banco britânico Barclays (LON:BARC), dias depois da falência, comprou as operações de banco de investimento e de mercados de capitais. A compra no total ficou no valor de US$ 2 bilhões.
Assim, a recessão enfrentada pelos Estados Unidos e a crise econômica global ainda apresentam sequelas. O Brasil, por exemplo, ainda não superou totalmente a nova realidade do mercado. É verdade que há outros motivos locais para o problema, como a questão das reformas estruturais. São questões que o novo governo, ao assumir o Planalto em 2019, terá que lidar.