O ciclo pode virar: IPOs voltam ao radar, e o Brasil pode surpreender

Publicado 13.06.2025, 13:30

Com quase quatro anos sem novas listagens, as oportunidades de take private ainda estão em jogo. A seca dos IPOs ao longo dos últimos anos deixa lições claras, mas será que esta janela está prestes a se reabrir?

O mercado brasileiro está prestes a completar uma marca simbólica: quase quatro anos sem um único IPO. Desde a listagem do Nubank (BVMF:ROXO34), em dezembro de 2021, nenhuma nova empresa brasileira abriu capital na B3 (BVMF:B3SA3). Trata-se de um hiato recorde.

No entanto, o fim desse intervalo não representa necessariamente a volta de uma janela fácil ou inflada. A nova fase do mercado de capitais tende a ser mais seletiva, consequência direta das distorções que marcaram o último ciclo de IPOs.

Entre 2020 e 2021, mais de 40 empresas brasileiras abriram capital em um contexto completamente diferente: juros nas mínimas históricas, liquidez global abundante e apetite por crescimento exponencial. Muitas companhias acessaram a bolsa ainda em fases prematuras, com baixa rentabilidade, forte dependência de capital intensivo e planos ambiciosos que ainda não haviam sido testados.

Hoje, várias dessas empresas enfrentam desafios relevantes e viram seus valores de mercado despencar desde o IPO. Alguns exemplos são a Espaçolaser (BVMF:ESPA3), Toky (BVMF:TOKY3), Mosaico (BVMF:MOSI3), Enjoei (BVMF:ENJU3), Westwing (BVMF:WEST3) e Sequoia (BVMF:SEQL3).

Esse histórico recente contribuiu para o surgimento de um ceticismo mais saudável no mercado, ao mesmo tempo em que fortaleceu o movimento oposto: o fechamento de capital de empresas por preços considerados abaixo de seu valor intrínseco.

Esse movimento de fechamento de capital ganhou força tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. Empresas que passaram por reprecificação agressiva, seja por erros estratégicos ou distorções de mercado, tornaram-se alvos atrativos para fundos de private equity, investidores estratégicos ou até mesmo seus fundadores.

É uma reação natural a um ciclo em que muitas empresas listadas passaram a valer menos do que seus pares no mercado privado. E esse fenômeno ainda está longe de acabar. Hoje, há oportunidades relevantes para aquisições em bolsa a múltiplos deprimidos, com teses de reestruturação ou reposicionamento estratégico.

A nova rotação: ativos fora do mainstream e techs latinas em alta

Ao mesmo tempo, uma rotação global está em andamento. Investidores institucionais começam a rever a concentração extrema nas gigantes americanas — as chamadas “Sete Magníficas” (Amazon (NASDAQ:AMZN), Apple (NASDAQ:AAPL), Meta, Tesla (NASDAQ:TSLA), Nvidia (NASDAQ:NVDA), Google (NASDAQ:GOOGL) e Microsoft (NASDAQ:MSFT)), que chegaram a representar cerca de 30% do S&P 500.

Com múltiplos elevados, riscos regulatórios e retornos marginais decrescentes, esse grupo vem perdendo protagonismo. Como resultado, o capital passou a buscar alternativas. Empresas de médio porte, com fundamentos sólidos e localizadas em geografias como a América Latina, voltaram ao radar dos investidores.

As techs latinas, por exemplo, acumulam retorno de 36% apenas em 2025. O desempenho é resultado de valuations mais realistas, foco em mercados locais e menor exposição a riscos geopolíticos.

No cenário brasileiro, a percepção de que o ciclo de alta da Selic chegou ao fim e de que um processo de queda de juros se aproxima reacende a confiança de empresários e investidores. Empresas como Aegea, Compass, Votorantim Cimentos e Cantu são vistas como potenciais candidatas a liderar uma nova safra de IPOs, mais disciplinada e mais conectada com a economia real.

No setor de tecnologia, o destaque recai sobre fintechs mais maduras, como PicPay, Cloudwalk, Agibank e Neon. Essas empresas voltam a ser consideradas, especialmente para listagens internacionais, após consolidarem suas operações e demonstrarem tração consistente.

Essa nova fase mostra que IPO e M&A não são caminhos excludentes. Pelo contrário: tratam-se de estratégias complementares. Ambas exigem preparação, que inclui governança sólida, clareza estratégica, geração de caixa e uma tese de crescimento bem articulada.

Empresas que estão preparadas para uma oferta pública geralmente também estão prontas para uma transação estratégica. O oposto também é verdadeiro. A escolha entre os caminhos deve levar em conta o momento do mercado e o alinhamento com os objetivos dos sócios.

Mesmo com a janela de IPOs fechada por quase quatro anos, o mercado seguiu se movimentando, especialmente nas franjas do middle market. Uma nova geração de consolidadores está moldando setores inteiros de forma silenciosa, porém eficiente. Empresas regionais, fundos locais e plataformas operacionais vêm aproveitando o momento para adquirir ativos estratégicos a preços mais baixos, ganhando relevância setorial longe dos holofotes.

Esses movimentos não apenas preenchem o vácuo deixado pela ausência de IPOs, como também podem gerar os futuros candidatos à bolsa. Muitos desses consolidadores poderão buscar o mercado em dois ou três anos, e a nova safra tende a chegar com muito mais preparo.

O mercado dificilmente voltará a ser indulgente como foi em 2020. No entanto, para quem estiver bem posicionado, com modelo validado, estrutura sólida e tese clara, o momento é promissor. A janela de IPOs começa a se reabrir com critérios mais rigorosos. O mercado de take private segue aquecido para quem busca ativos subvalorizados. E os investidores globais continuam em busca de histórias novas, com fundamentos sólidos e fora do radar tradicional.

O ciclo está mudando. E quem estiver pronto pode não apenas acompanhar essa transformação, mas liderá-la.

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