BBAS3: Por que as ações do Banco do Brasil sobem hoje?
Na coluna deste mês, proponho analisar um movimento que tem ganhado força no cenário global e vem colocando o Brasil em posição de destaque: a possível retomada dos fluxos de capital para mercados emergentes e seus reflexos na alocação doméstica. Com volumes expressivos de entrada, como os mais de US$ 55 bilhões registrados em julho nos mercados emergentes (com boa parte nesse mês direcionada à China e não necessariamente ao Brasil), esse fenômeno é alimentado pela expectativa de cortes de juros nos Estados Unidos, pela busca de retornos mais elevados e pelo potencial de valorização de moedas emergentes em operações de carry trade. Nesse contexto, o real brasileiro e determinados segmentos da renda fixa, especialmente o crédito privado, têm se tornado destinos preferenciais de investidores globais e locais.
A possibilidade de forte entrada de capital nos mercados emergentes é impulsionada por três fatores principais: i) a expectativa de cortes de juros pelo Federal Reserve, reforçada por dados mais fracos do mercado de trabalho nos EUA; ii) a busca global por retornos mais altos, num cenário em que as economias avançadas caminham para juros mais baixos; iii) a possibilidade de desvalorização do dólar, o que amplia a atratividade de operações de carry trade. Essa estratégia consiste em captar recursos em moedas de baixo rendimento, como o dólar, e aplicá-los em moedas emergentes com taxas de juros mais elevadas. Além do retorno sobre os ativos, há ainda o potencial de ganho cambial. No entanto, no caso brasileiro, o mês de julho registrou valorização do dólar frente ao real (tabela abaixo - dados da Quantum Finance, plataforma de informações financeiras e gestão de investimentos).
Tabela: Variação Mensal do Dólar frente ao Real em 2025 (%)
O Brasil tem se consolidado como possível destino preferencial nessa estratégia por quatro razões: i) juros reais elevados (um dos mais altos do mundo), sustentados por uma Selic ainda em patamar elevado; ii) indicadores macroeconômicos sólidos, como o crescimento de 1,4% do PIB no primeiro trimestre de 2025, o melhor desempenho entre as grandes economias; iii) fluxo comercial robusto, impulsionado por exportações de commodities; iv) percepção de risco relativamente estável, sem deteriorações bruscas nos últimos meses, mesmo diante de ruídos políticos e fiscais.
Apesar desses fundamentos positivos, operações de carry trade são sensíveis a mudanças abruptas de percepção. Choques fiscais ou políticos, ou mesmo eventos externos, podem reverter fluxos de forma rápida. E é preciso lembrar que 2026 será ano de eleições presidenciais no Brasil, o que historicamente traz maior incerteza e volatilidade. Em períodos eleitorais, há uma tendência de aumento dos gastos públicos, seja por medidas voltadas a estimular a economia no curto prazo, seja por programas de cunho político que pressionam as contas do governo. Esse ambiente eleva o risco fiscal, pode afetar a confiança de investidores estrangeiros e domésticos, e influenciar diretamente variáveis como o câmbio, os juros futuros e, consequentemente, o valor de ativos de renda fixa e crédito privado.
No mercado doméstico, segundo dados da ANBIMA, julho registrou captação líquida de R$ 16,7 bilhões nos fundos de investimento, acumulando R$ 25,9 bilhões no ano. A renda fixa liderou as entradas, com R$ 21,2 bilhões no mês, impulsionada principalmente pelo tipo Duração Livre Crédito Livre, que captou R$ 14,6 bilhões em julho e R$ 61,9 bilhões no ano. Os FIDCs também se destacaram, com entradas de R$ 2,7 bilhões no mês e R$ 49,3 bilhões no ano, enquanto os FIPs somaram R$ 268,1 milhões no mês e R$ 10,2 bilhões no acumulado. Em contrapartida, a classe de ações registrou saídas líquidas de R$ 4,9 bilhões, com destaque para o tipo Ações Livre, que perdeu R$ 3,2 bilhões no mês e acumula resgates de R$ 28,1 bilhões no ano. ETFs e multimercados também tiveram saídas, de R$ 1,5 bilhão e R$ 1,1 bilhão, respectivamente — no caso dos multimercados, mesmo o tipo Livre tendo registrado entrada de R$ 715,4 milhões no mês, o saldo no ano ainda é negativo em R$ 44,4 bilhões.
Em termos de rentabilidade, na renda fixa o Duração Livre Crédito Livre acumula 8,13% no ano (1,05% em julho), enquanto o Duração Baixa Grau de Investimento soma 7,88% no ano (1,28% no mês). Entre os multimercados, o tipo Livre teve ganho de 0,88% em julho e o de Investimentos no Exterior subiu 0,38%. Já na classe de ações, apenas o tipo Mono Ação registrou resultado positivo no mês, enquanto o Ações Livre recuou 4,38% em julho, mas ainda acumula alta de 13,34% no ano.
Mesmo com o fluxo estrangeiro favorecendo ativos locais e determinados segmentos entregando bons retornos, o comportamento de julho reforça que o câmbio pode não seguir a mesma direção do agregado para emergentes. Ciclos de valorização cambial não são permanentes e, quando a direção muda, a diversificação internacional pode fazer a diferença entre proteger o patrimônio e sentir todo o impacto da virada. Apesar da atratividade dos ativos locais no momento, manter parte da carteira exposta a ativos globais é uma forma de diluir riscos e ampliar horizontes de retorno.
O processo é mais simples do que muitos imaginam. Hoje, o investidor brasileiro pode acessar o exterior por diferentes caminhos: fundos de investimento com exposição a ativos estrangeiros, ETFs listados na B3 que replicam índices como o S&P 500, BDRs que representam ações de empresas globais, contas em corretoras internacionais para compra direta de ativos fora do país ou, ainda, corretoras brasileiras que oferecem plataformas integradas de investimento no exterior. Além da facilidade, há ganhos potenciais que combinam a rentabilidade do ativo e a variação cambial. Por exemplo, se um investidor brasileiro compra ações de uma empresa no exterior que se valorizam 12,5% no mês e, nesse mesmo período, o dólar sobe 22,2% frente ao real, o ganho em reais seria de aproximadamente 37,5%.
Outro benefício importante é a redução do risco da carteira. Nos últimos anos, alguns índices internacionais apresentaram baixa correlação com o Ibovespa, ajudando a suavizar oscilações e reduzir perdas em momentos de estresse no mercado doméstico. Em outras palavras, mesmo em períodos de moeda forte, manter exposição internacional é uma forma de acessar setores e empresas que não existem no Brasil, diluir riscos e manter flexibilidade para reagir a mudanças de ciclo.
Em suma, o momento favorece o Brasil no radar dos investidores globais, mas é preciso reconhecer que o cenário pode mudar rapidamente. O fluxo estrangeiro, os juros altos e a força relativa do real no acumulado do ano passam confiança no curto prazo, mas julho mostrou que choques específicos podem inverter o movimento mesmo dentro de uma tendência mais favorável. Aproveitar as oportunidades atuais sem renunciar à diversificação (especialmente internacional) é mais do que cautela: é uma forma de preservar ganhos e manter capacidade de reação diante de um ambiente potencialmente mais turbulento. Até a próxima!