Olá, pessoal! Hoje dividirei com vocês os resultados do meu mais novo artigo acadêmico, escrito em parceria com Mateus Alves Martins Portelinha (Mestre pelo Coppead-UFRJ) e Raphael Moses Roquete (professor de Finanças na UFRJ). O artigo está em processo de publicação acadêmica e, aos interessados, basta me solicitar através das minhas redes sociais @carlosheitorcampani.
Nele analisamos os impactos da inclusão de criptomoedas em carteiras de ações brasileiras no período de setembro de 2014 a abril de 2020. Trabalhamos com rebalanceamentos quadrimestrais (tal como no Ibovespa e na família IBrX de índices amplos da B3 (SA:B3SA3)) e mensais, sempre considerando as cinco criptomoedas com maiores valores de mercado em cada data de rebalanceamento. O universo brasileiro de ações (e units) contou, em cada rebalanceamento, com os 100 papéis do IBrX-100, que serve como um bom filtro de liquidez para aplicações realistas. Como benchmark para o ativo livre de risco, usamos o CDI (mas se tivéssemos utilizado a taxa SELIC, os resultados teriam sido virtualmente os mesmos).
Para efeito comparativo, além do IBrX-100, trabalhamos com a estratégia igualmente ponderada (que já analisei aqui nesta coluna) e com duas estratégias oriundas da teoria de otimização de carteiras de Markowitz: a de mínima variância e a estratégia tangente à curva (que representa uma relação otimizada de risco vs. retorno). Não usamos o Ibovespa para fins comparativos, pois ele apresentou performance inferior ao IBrX-100 no período analisado.
A tabela a seguir apresenta a comparação das carteiras “Apenas Ações” (e units) e “Ações e Criptos” dentro de cada estratégia.
Os resultados são interessantes. Podemos perceber que a inclusão de criptomoedas aumentou a rentabilidade alcançada de todas as estratégias com ações, mas também pressionou um pouco a volatilidade. Aliás, esses resultados combinados vêm em linha com a conceituação teórica de quanto maior o risco assumido, maior precisa ser o retorno esperado. Para este tira-teima, trabalhamos no artigo com duas medidas de performance que procuram avaliar se a maior rentabilidade compensou o maior risco assumido: Sharpe e Sortino. Em todas as estratégias, ambas as métricas aumentaram (com exceção de um único empate).
Na tabela a seguir, apresento outro resultado interessante. Desta vez, consideramos uma carteira com um percentual fixo alocado em ações (e units), com o restante nas cinco maiores criptomoedas. Dentro de cada classe a ponderação foi igualitária. O percentual fixo de criptos iniciou com 5% e variou até 30%.
Notemos que o aumento do percentual da carteira alocado em criptomoedas melhora a performance tanto em termos de rentabilidade alcançada quanto no que diz respeito aos índices Sharpe e Sortino. No artigo, fizemos alguns testes e os resultados acima mostraram-se robustos e claros.
A conclusão do estudo é que, no período analisado (Set/2014 a Abr/2020), a inclusão de criptomoedas impactou positivamente carteiras de ações brasileiras. É certo que o risco da estratégia com criptos aumenta, mas a análise indicou que tal risco foi devidamente compensado, até por questões de diversificação (uma vez que a correlação de criptomoedas com o nosso mercado de ações é bem baixa).
Claro que, como sempre, não podemos garantir que no futuro, as criptomoedas se comportarão da mesma forma que no passado analisado. Entretanto, isso não tira a importância dos resultados alcançados pelo nosso estudo, pois tudo indica que as criptomoedas vieram para ficar e me parece razoável estimar que esta classe de ativos seguirá pouco correlacionada com o mercado brasileiro de ações. Por mais que ninguém consiga assegurar que a excelente performance recente das criptomoedas seguirá ao longo dos próximos anos, penso que esta classe de ativos precisa ter a devida atenção do mercado por conta das suas características bastante peculiares e atraentes sob o ponto de vista de gestão de risco e retorno em carteiras de investimento.
Aos investidores individuais de ações, pode interessar mesclar suas carteiras com criptomoedas. Para os mais avessos ao risco, algo em até 5% pode fazer sentido, permitindo um percentual mais elevado para investidores que desejam maior exposição a risco. E, por fim, sugiro fazer como neste estudo: não concentrar em uma única criptomoeda, mas sim em várias delas para expurgar o risco específico de determinada cripto.
Em tempo: todos os retornos acima são brutos, ou seja, não consideram o imposto de renda. Eles também não consideram custos transacionais, pois esses dependem de fatores exógenos e podem variar bastante. Além disso, tais custos vêm sendo reduzidos recentemente no mercado brasileiro, de modo que os resultados poderiam sofrer algum impacto atual que no futuro se tornasse inválido.
Por hoje, é isso pessoal. Espero que tenham gostado. Procurei compartilhar resultados de um trabalho acadêmico que julgo relevantes e que muitas vezes são pouco acessíveis por conta do rigor necessário para publicação e da utilização de muitos termos técnicos. Meu objetivo é sempre trazer conteúdo diferenciado e, neste caso, de fronteira. Caso você tenha gostado ou tenha críticas construtivas, peço que comente abaixo. Isso é muito importante, pois os comentários são muitas vezes motivadores, além de alguns colaborarem com outras visões e/ou aspectos não abordados por mim (mas que igualmente despertam minha atenção).
Um cordial abraço a todos vocês.
* Carlos Heitor Campani é PhD em Finanças, Professor Pesquisador do Coppead/UFRJ e especialista em investimentos, previdência e finanças pessoais, corporativas e públicas. Ele pode ser encontrado em www.carlosheitorcampani.com e nas redes sociais: @carlosheitorcampani. Esta coluna sai a cada duas semanas, sempre na sexta-feira.