Nesta quarta-feira (16) teremos a última “super quarta” do ano e ela promete ser ainda mais especial em vista dos momentos distintos de Copom e Fed, com o primeiro fechando o ciclo de cortes de juros e quem sabe mudando o tom do comunicado, enquanto o outro terá que explicar seu novo mecanismo de política monetária.
Por ordem cronológica vamos começar falando da decisão de política monetária do Federal Reserve.
Às 15h, o BC norte-americano não surpreenderá ninguém ao manter o juro entre 0% - 0,25% ao ano e talvez decepcionar alguns otimistas ao não reforçar as compras de ativos após o sell-off das bolsas norte-americanas neste começo de mês. O que realmente irá mexer com o mercado será a entrevista do presidente do Fed, Jerome Powell, às 15h30, com sua explicação sobre o novo framework da política monetária.
Na última quinta-feira de agosto, durante o simpósio anual de Jackson Hole, o presidente do Fed anunciou uma mudança na condução da política monetária que bem resumidamente tem como objetivo o pleno emprego e uma tolerância maior para a inflação, vide que está estagnada por anos, ou seja, uma nova estrutura dovish que vem em uma hora emergencial.
A principal mudança foi adoção de um sistema de AIT (Average Inflation Targeting) mirando uma inflação média de 2% ao longo do tempo. Assim, desvios persistentes abaixo da meta seriam compensados em períodos subsequentes, permitindo que a inflação rode em níveis moderadamente acima da meta por algum tempo.
Quando o Fed tira da frente um dos obstáculos para um eventual aumento do juro ou mudança do viés dovish da política monetária, o BC dos EUA está sinalizando ao mercado que manterá as políticas expansionistas o tempo que for necessário.
A grande dúvida e que deverá ser o tema da entrevista de Powell será a estratégia do Fed em seguir apoiando a economia. Novos pacotes de estímulos? Seguir com juro baixo e deixar a economia rodar? E considerando o fato de que a nova estratégia deve reduzir a necessidade de manter a inflação baixa, o crescimento será o norte da política monetária?
Existem muitas dúvidas dos players do mercado (juro, ouro, dólar, ações, etc.) e na minha opinião apenas uma certeza: se Powell não sinalizar que o Fed está aberto para uma nova rodada de estímulos deveremos presenciar uma correção adicional das bolsas por conta dos efeitos de curtíssimo prazo.
No final da tarde, assim que encerrado o leilão de fechamento dos contratos futuros por volta das 18h03, será divulgada a decisão de política monetária do Copom e no caso brasileiro tudo será importante.
Depois de cortar a Selic por nove vezes consecutivas saindo de 6,5% em agosto do ano passado para 2% ao ano o Comitê de Política Monetária deverá manter o juro neste patamar na reunião de setembro. Apesar de esperada, essa decisão será um marco para política monetária brasileira, pois irá se encerrar um grande ciclo expansionista e esse tom hawkish que o BC terá que dosar muito bem no comunicado.
Apesar da expectativa de inflação ainda abaixo da meta (2,5%) para esse ano, a alta nos preços dos alimentos e da gasolina que resultou na maior alta do IPCA (+0,24%) para o mês de agosto desde 2016, como na explosão dos IGPs (Índice Geral de Preços), deve gerar um alerta entre os membros do Comitê.
Somado isso, temos os riscos fiscais persistentes e sem uma solução efetiva. Na verdade muito pelo contrário, pois o déficit público caminha para um novo recorde, fazendo cada vez mais crescer a aposta do mercado para o furo do teto de gastos.
Colocando tudo isso na conta já é possível observar um viés de alta para a Selic na parte longa da curva de juros e o tom do comunicado será importante para achatar a curva (devolver prêmio) ou quem sabe dar combustível para essa expectativa.
Observando o último comunicado e o próprio comportamento do Copom essa pressão inflacionária não deverá mudar a avaliação de “manter a política monetária estimulativa por tempo prolongado” uma vez que estamos vivendo um choque de oferta e há um grande hiato do produto. O que pode mudar o forward guidance dado pelo Bacen é uma deterioração ainda maior do fiscal e isso não deve ocorrer de uma hora para outra. Neste sentido, a chance da curva devolver esse prêmio é razoável.