No fim de semana, os Estados Unidos realizaram ataques a instalações nucleares iranianas. Até o momento, as informações disponíveis se baseiam em relatos veiculados por grandes meios de comunicação. A seguir, uma análise preliminar sobre o que já se sabe e o que pode ser observado nos mercados nos próximos dias.
No sábado, os EUA lançaram uma operação militar direcionada contra centros estratégicos do programa nuclear iraniano, atingindo localidades como Fordow, Esfahan e Natanz, conforme reportado pelo Wall Street Journal. Um representante do governo americano afirmou que a administração Trump comunicou ao Irã que se tratava de uma ação pontual, sem intenção de promover uma mudança de regime.
Em pronunciamento realizado na noite de sábado, o presidente Trump declarou que bombardeiros B-2 e armamentos de alta precisão foram utilizados na missão, validada por fontes militares. Imagens de satélite e relatórios iniciais indicam danos significativos à capacidade iraniana de enriquecimento de urânio, embora a extensão total dos prejuízos ainda seja incerta.
Para os mercados e para os EUA, a reação do Irã e de seus aliados é fator-chave. Após os ataques, Teerã respondeu lançando mísseis balísticos em plena luz do dia contra Tel Aviv, provocando destruição substancial. Autoridades israelenses reportaram ao menos 86 feridos e levantaram a hipótese de que um impacto em Haifa tenha resultado de uma falha em um míssil interceptador israelense. Em resposta, Israel atacou alvos militares no oeste do Irã, alegando ter destruído dois caças e oito lançadores de mísseis.
No que diz respeito aos EUA, a retórica iraniana foi dura:
“O mundo não deve esquecer que foram os Estados Unidos, em meio a um processo diplomático em curso, que traíram a diplomacia ao apoiar as ações agressivas do regime genocida e ilegal de Israel. Agora, ao completar essa cadeia de violações e crimes, os EUA lançam uma guerra perigosa contra o Irã. A República Islâmica do Irã se reserva o direito de resistir com total força à agressão militar americana e de defender seus interesses nacionais.”, Ministério das Relações Exteriores do Irã
Esse novo capítulo no conflito acentuou as tensões já generalizadas no Oriente Médio. Teerã havia declarado anteriormente que atacaria tropas americanas na região caso Washington interviesse. Países do Golfo Pérsico, ricos em petróleo e gás e que abrigam bases militares dos EUA, estão apreensivos quanto à expansão da violência para seus territórios. Esse ambiente levou a reações previsíveis dos mercados: os preços do petróleo dispararam nas negociações noturnas, os rendimentos dos Treasuries recuaram fortemente e o dólar americano se valorizou. Já os futuros dos índices acionários globais caíram de forma acentuada.
Diante de episódios como esse, é fundamental que investidores adotem uma abordagem analítica e estratégias de gerenciamento de risco para seus portfólios.
Como os mercados reagem a choques geopolíticos
Eventos dessa natureza costumam seguir um padrão recorrente nos mercados. A reação inicial é marcada pela fuga de ativos de risco. Em momentos de incerteza, investidores globais buscam alocações em ativos considerados mais seguros, o que tradicionalmente beneficia os títulos do Tesouro dos EUA e o dólar, vistos como reservas de valor. Esse movimento já era visível na semana passada, com o fortalecimento da moeda americana.
Esse comportamento foi observado em episódios anteriores:
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Moeda de Refúgio: Durante a Guerra do Golfo, em 1990, o índice DXY avançou mais de 12% no primeiro mês de conflito.
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Alta de Curto Prazo, Normalização Posterior: No início da Guerra do Iraque, em 2003, o dólar subiu cerca de 5%, para depois retornar gradualmente ao patamar anterior nos seis a doze meses seguintes.
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Resposta Mista na Guerra da Ucrânia: Após a invasão russa, o dólar teve uma alta próxima de 3% nas semanas seguintes.
Até agora, o dólar já vinha se valorizando após os ataques iniciais de Israel ao Irã, e a ofensiva americana do fim de semana pode intensificar esse movimento.
Como argumentado no artigo “A morte do dólar está longe de acontecer”, há espaço para uma recuperação relevante da moeda americana.
“Do pequeno investidor ao gestor institucional, todos parecem estar apostando contra o dólar. Segundo pesquisa do BofA (NYSE:BAC) com gestores globais, as posições vendidas estão no nível mais alto em 20 anos. Isso significa que, caso ocorra uma reversão, a liquidação dessas posições pode provocar uma valorização expressiva da moeda.”
Em contrapartida, embora o dólar e os Treasuries historicamente se beneficiem em momentos de conflito, os mercados acionários tendem a reagir de forma negativa no curto prazo, antes de se estabilizar à medida que o cenário se torna mais previsível. A publicação mais recente sobre o conflito Irã-Israel oferece uma análise mais profunda da reação das ações a choques geopolíticos. De toda forma, o histórico mostra um padrão claro:
“Durante eventos como o atual conflito entre Irã e Israel, investidores tendem a focar nos cenários mais negativos. É importante, contudo, observar como os mercados historicamente se comportaram diante de crises similares.”
Segundo levantamento da Carson Research divulgado na sexta-feira, mesmo eventos traumáticos como a Guerra do Yom Kippur, o embargo do petróleo, os ataques ao USS Cole, o 11 de Setembro ou os atentados ao metrô de Londres coincidiram com outros choques estruturais, como o colapso das ações Nifty-50, a bolha da internet ou a crise financeira de 2008. Ainda que o conflito atual tenha potencial de escalada, o histórico mostra que impactos iniciais tendem a abrir oportunidades de investimento no horizonte de 12 meses.
Geopolítica e mercados: como navegar entre volatilidade e oportunidades de investimento
O ponto central para os investidores é que a incerteza gera volatilidade no curto prazo. É importante, porém, distinguir eventos que provocam apenas oscilações temporárias daqueles que alteram, de fato, os vetores do crescimento econômico ou os lucros das empresas. A maioria dos choques geopolíticos históricos se enquadra no primeiro grupo. O mercado reage de forma imediata, mas os impactos tendem a se dissipar rapidamente, a não ser que haja danos relevantes ao consumo, ao investimento de capital ou à geração de receita corporativa.
A situação atual entre Estados Unidos e Irã parece seguir esse padrão. Não se trata apenas de conjectura, mas de histórico estatístico. A reação dos mercados durante conflitos militares desde a Segunda Guerra Mundial, incluindo a Crise dos Mísseis de Cuba, a Primeira Guerra do Golfo e a invasão da Ucrânia pela Rússia, demonstra um comportamento recorrente: quedas acentuadas nas bolsas seguidas por recuperações rápidas, às vezes em questão de semanas. A princípio, há excesso de reação. Mas, à medida que os investidores obtêm mais clareza, ocorre uma correção de rota.
Por isso, é fundamental que os investidores ajam com lógica, não com emoção, diante de eventos desse tipo.
Expectativas para esta segunda-feira e além
O mercado nesta segunda deve enfrentar vetores contraditórios. A alta dos preços do petróleo, decorrente do risco de retaliação iraniana e de interrupções logísticas no Estreito de Ormuz, beneficia empresas do setor de energia, mas pressiona companhias aéreas e setores de consumo discricionário.
Conflitos envolvendo países do Oriente Médio costumam provocar picos nos preços do petróleo. Em junho, a commodity avançou mais de 8% em meio à escalada entre Israel e Irã.
O comportamento mais avesso ao risco dos investidores deve provocar nova queda nos rendimentos dos Treasuries, dado o movimento em direção a ativos considerados mais seguros. Os títulos de 10 anos estão próximos de níveis de suporte técnico, com fluxo comprador acentuado diante da desaceleração econômica. Esse ambiente favorece os ativos de renda fixa, já que o encarecimento da energia pode frear o crescimento. Com diversos bancos centrais ao redor do mundo já reduzindo juros, qualquer choque negativo sobre a economia americana pode levar o Federal Reserve a cortar a taxa básica ainda neste ano.
Diante desse cenário, a pergunta-chave para o investidor é: qual é a resposta de portfólio mais adequada?
Investimento tático, não emocional
Ao ligar a televisão nesta manhã, os investidores verão os índices em vermelho. Os futuros devem registrar quedas moderadas, a volatilidade deve aumentar e as manchetes sobre os bombardeios dos EUA dominarão o noticiário. É compreensível que muitos sintam impulso de vender, ajustar alocações e, em última instância, agir com pânico.
Esse, porém, é justamente o momento em que os maiores erros acontecem.
O domínio da psicologia do investidor passa de útil a essencial em situações como essa. O impulso natural será o de evitar perdas. Contudo, diante de um evento inesperado e exógeno, a melhor atitude costuma ser uma só: não fazer nada.
Isso mesmo. Evite ações precipitadas.
O erro comum é se concentrar exclusivamente no evento em si. A lógica tende a ser: “se houve um ataque no fim de semana, haverá outro hoje”. Isso distorce a percepção e leva a decisões irracionais. O medo da perda acaba prevalecendo sobre o raciocínio, e muitos liquidam posições no pior momento possível. Em ambientes de incerteza elevada como o atual, o autocontrole é essencial. Como já discutido, tais eventos tendem a ser passageiros, e é justamente nesses momentos que surgem oportunidades para quem opera com disciplina e estratégia.
Posicionamento tático sugerido
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Overweight em Treasuries americanos: Com o rendimento do título de 10 anos em queda, os títulos públicos americanos funcionam como âncora de proteção e tendem a se beneficiar da migração para ativos de menor risco. Em caso de escalada geopolítica, ativos de maior duration podem superar largamente o desempenho das ações.
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Manutenção de liquidez em caixa: Portfólios com caixa elevado estão em posição privilegiada para aproveitar correções pontuais. A recente alta dos mercados após o “Dia da Libertação” deixou os ativos esticados no curto prazo. Uma eventual queda abre espaço para realocações mais favoráveis.
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Exposição seletiva ao setor de energia: Foco em produtoras upstream com balanços sólidos. A alta do petróleo pode gerar ganhos extraordinários no curto prazo, mas é necessário evitar posições superlotadas. O melhor momento para comprar energia foi antes dos mísseis, não depois.
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Monitoramento de empresas de defesa: Empresas como Raytheon (RTN), Lockheed Martin (LMT) e Northrop Grumman (NOC) costumam se beneficiar de ciclos de renovação nos gastos militares. Caso o mercado interprete os últimos eventos como início de um novo ciclo de defesa, essas ações podem se destacar.
Setores a evitar ou reduzir exposição
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Aviação e turismo: O aumento do preço do querosene de aviação e o medo geopolítico tendem a afetar a demanda e reduzir margens. O setor pode ser penalizado caso o conflito se prolongue.
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Mercados emergentes: A aversão ao risco favorece moedas fortes e ativos de países desenvolvidos. Com o dólar fortalecido, ativos de países emergentes tendem a sofrer, tanto em câmbio quanto em ações.
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Tecnologia de alta volatilidade: Em um ambiente de retração do apetite ao risco, nomes de crescimento especulativo são os primeiros a cair e os últimos a se recuperar. Evite exposição exagerada a esses papéis quando a liquidez começar a secar.
Mais importante do que tudo: evite apostar em um único desfecho. Ninguém sabe como o Irã responderá ou se o conflito irá se resolver em dias ou se prolongará por meses.
O que sabemos é que a volatilidade costuma gerar distorções de preço, e é nesse tipo de distorção que surgem as melhores oportunidades para quem tem paciência e método.
Reflexão final: isso também passará
Investir em tempos de instabilidade geopolítica nunca é simples. Mas é nesses momentos que a disciplina é colocada à prova. Os investidores que têm sucesso não são os que entram em pânico com bombas; são os que estruturam sua estratégia antes que a poeira baixe.
Ainda não está claro se os ataques ao Irã marcam o início de um conflito mais amplo ou o ponto culminante da escalada. O mercado, como sempre, sairá da fase do medo inicial para focar no essencial: os lucros corporativos. A grande questão é se os ataques terão impacto suficiente sobre o consumidor americano para comprometer os ganhos das empresas. A resposta mais provável é não.
Certos setores, como o de turismo, podem ter margens pressionadas. Outros, no entanto, sairão fortalecidos. É por isso que a gestão ativa tende a se sobressair sobre a passiva em momentos de crise.
A verdadeira ameaça para o investidor não é a queda dos mercados nesta segunda-feira, mas sim a possibilidade de tomar decisões irreversíveis entre hoje e quarta-feira. A história mostra que o medo tende a desaparecer rapidamente e que os mercados se estabilizam à medida que os fundamentos voltam ao foco.
Concentre-se no agora. A experiência mostra que manter a racionalidade e resistir ao impulso de vender costuma gerar os melhores resultados.
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