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No Brasil, há mais de dois anos vivemos a promessa de um ecossistema financeiro aberto, que tornaria o cliente o verdadeiro dono de seus dados, capaz de movimentar informações e serviços entre instituições para obter produtos mais vantajosos. Essa revolução tem avançado de forma consistente, mas permanece, em grande parte, ancorada na pessoa física. Enquanto isso, no segmento de pessoa jurídica (PJ), o Open Finance ainda patina, apesar de sinais claros de demanda.
Muito se fala sobre usar o Open Finance para ampliar crédito ou rentabilizar a carteira PJ. Escrevi sobre isso recentemente. Mas há um outro caminho — talvez ainda mais estratégico — para destravar o potencial desse ecossistema: fazer do Open Finance uma ferramenta invisível, porém fundamental, para melhorar a experiência, estreitar o relacionamento e gerar diferenciação competitiva entre as instituições financeiras que atuam com empresas.
O estudo Open Talks 2025, da EY, traz um dado revelador: bancos que não exibem botões ou banners de compartilhamento de dados em destaque na homepage de seus apps convertem, em média, o dobro de clientes em usuários do Open Finance.
À primeira vista, soa contraditório. Mas faz todo sentido: quanto mais o Open Finance aparece como algo separado, “novo” ou “técnico”, maior a resistência. Quando, ao contrário, está embutido de forma fluida em processos como portabilidade de investimentos, simulação de crédito ou renegociação de dívidas, torna-se uma ferramenta estratégica para o PJ, e não um obstáculo.
O cliente PJ quer solução, não tecnologia. Não se trata de fazê-lo “usar Open Finance”, mas de fazê-lo usufruir dos benefícios sem precisar se preocupar com os bastidores do processo.
Já o estudo "A Voz das PMEs", também conduzida pela EY, revela que 39% dos pequenos e médios empresários no Brasil falam com seus gerentes ao menos uma vez por mês. Isso significa que, mesmo na era digital, a figura do gerente continua sendo central no relacionamento bancário PJ.
Mas o diferencial competitivo hoje não está apenas na presença do gerente — está em quanto ele conhece de verdade o cliente que atende. Nesse contexto, o Open Finance se torna uma poderosa fonte de informações. Quando integrado de forma inteligente às plataformas digitais e às ferramentas internas do banco, permite que os gerentes tenham uma visão mais rica e detalhada das empresas, antecipando necessidades e propondo soluções muito mais assertivas.
Essa é a força do Open Finance invisível: transformar dados em insights reais e personalizar o atendimento de forma inédita, presente tanto nos bastidores dos apps e plataformas digitais, que entregam experiências diretas ao cliente PJ, quanto nas conversas estratégicas entre o gerente e o empresário.
Mas há um alerta importante no estudo da EY: 39% das reclamações sobre o Open Finance no Reclame Aqui dizem respeito à ausência de benefícios perceptíveis.
Em outras palavras, há empresas que autorizaram o compartilhamento de dados, mas não receberam limite maior, não viram redução de custos, nem qualquer proposta mais ajustada às suas necessidades. O risco é claro: sem entrega de valor, o Open Finance se torna apenas mais um termo bonito — ou pior, um fator de frustração.
No público PJ, essa frustração pode ser ainda mais sensível. Empresas têm processos mais complexos, exigem resultados tangíveis e têm menos paciência para promessas vazias.
É inegável que o segmento PJ enfrenta barreiras específicas dentro do universo do Open Finance, com apenas 3% das empresas brasileiras utilizando o sistema Open Finance, frente a 20% no Reino Unido, como aponta a pesquisa da EY. A jornada de consentimento com múltiplas alçadas, citada por 30% das instituições ouvidas pela EY, é um desses obstáculos, mas não é o único responsável por este gargalo. O Brasil tem mais de 17 milhões de CNPJs com apenas um sócio. Ou seja, esses negócios não deveriam enfrentar problemas de múltiplas assinaturas ou autorizações complexas.
A principal barreira, portanto, não é técnica. É estratégica. A pesquisa da EY revela que 20% das instituições financeiras dizem que o público PJ não é prioridade dentro do Open Finance e 17% ainda não têm uma proposta de valor clara para esse segmento.
Enquanto isso, 82% das PMEs afirmam que aceitariam compartilhar dados em troca de produtos financeiros mais personalizados — e 63% até pagariam por isso. Ou seja: a demanda existe, o que falta é proposta de valor.
Open Finance: ativo invisível, benefícios visíveis
O ritmo de crescimento é animador: o estudo da EY aponta que entre abril de 2024 e abril de 2025, o número de empresas conectadas ao Open Finance no Brasil saltou de 239 mil para 589 mil — alta de 146%. Ainda é pouco diante dos milhões de CNPJs ativos no país, mas aponta para um cenário amplo de oportunidades.
O diferencial, daqui para frente, estará não em quem tiver acesso a dados, mas em quem souber transformá-los em soluções invisíveis e benefícios tangíveis. O Open Finance do futuro será aquele que consegue fortalecer a conversa do gerente com o empresário, antecipar necessidades sem que o cliente precise pedir, oferecer serviços integrados, sem telas ou processos extras e gerar confiança, não apenas crédito.
Como costumo dizer, o Open Finance não é um destino, mas um caminho. E, no segmento PJ, quem conseguir torná-lo invisível no dia a dia, mas visível nos resultados, sairá na frente na disputa pelo cliente empresarial do futuro.