Conforme a grande maioria dos analistas esperavam NY finalmente realizou. O Maio-25 voltou a negociar próximo da máxima histórica (@ 429,95 centavos de dólar por libra-peso no dia 11 fevereiro 2025) na quarta-feira para em seguida chegar a cair -4.065 pontos nos três pregões seguintes. O Maio-25 encerrou @ 389,25 centavos de dólar por libra-peso (fechamento anterior / máxima / mínima / fechamento respectivamente @ 407,40 / 424,50 / 383,85 / 389,25 centavos de dólar por libra-peso).
Mesmo com toda essa volatilidade o volume diário negociado reduziu drasticamente ficando ao redor dos 45.000 lotes/dia. Em suma, o mercado caiu com pouco volume! E os fundos + especuladores continuam comprados em aproximadamente +45.000 lotes!
Interessante notar que em Londres as cotações do café robusta encerraram a semana em alta com o próximo vencimento Maio-25 @ 5.717 US$/tonelada (342,95 US$/saca). Mesmo com o “mercado” estimando uma safra do Vietnam “grande”, entre +30/+32 milhões de sacas e com uma safra brasileira 25/26 para o café tipo robusta estimada por muitos acima dos +25 milhões de sacas! Ora, se existe oferta de café robusta “abundante no mundo”, então por que os preços não caem? E continuam firmes nas principais origens?
Com a queda em NY o spread no mercado interno entre o café tipo arábica x café tipo robusta voltou a estreitar para “próximo da realidade” – abaixo dos 30%! Com a esticada dos preços em NY nos últimos dias esse spread chegou a negociar acima dos 38% (café arábica ao redor dos 2.900 R$/saca e o café robusta ao redor dos 2.100 R$/saca)!
Novamente as torrefadoras locais estão procurando originar produto de qualidade e não faz sentido comprar “café rio quando posso comprar café robusta de melhor qualidade”!
O spread de origem entre Brasil x Vietnam continua favorável ao Vietnam (na semana o café origem Vietnam negociou aproximadamente 300 R$/saca abaixo do café robusta origem Brasil). Em um “mercado normal” então o Brasil deveria importar café do Vietnam até esse “spread” zerar! Mas como o Brasil não permite a importação de café em grãos, então a indústria local é obrigada a pagar o preço do mercado interno! O produtor do café robusta precisa acompanhar esse spread no mercado interno e não vender seu produto de qualidade abaixo do café arábica “tipo rio”... Ou com um spread entre café arábica e café robusta ao redor dos 20%! Ou seja, se o café arábica tipo 6 negociar @ 2.900 R$/saca então o café robusta deveria valer no máximo 20% abaixo do café arábica = 2.320 R$/saca!
(No final do ano passado, o café vietnamita chegou a ser negociado 500/700 R$/saca acima do café robusta brasileiro. Muitas tradings aproveitaram esse “spread de origem” para comprar café brasileiro “barato” e cumprir seus compromissos entregando café brasileiro ao invés do café do Vietnam – No final essa operação foi muito benéfica para o Brasil pois muitos consumidores no exterior passaram a conhecer a qualidade e a eficiência do café robusta brasileiro abrindo novos mercados)!
Aparentemente quando o vencimento Maio-25 voltou a negociar abaixo dos 390 centavos de dólar por libra-peso os compradores voltaram ao mercado para originar produto. Porém, os produtores que ainda tem estoque seguem reticentes aguardando por preços acima dos 3.000 R$/saca. Apenas o produtor que precisa de caixa para alguma operação de curto prazo está vendendo “da mão para a boca” nos níveis atuais (2.500/2.600 R$/saca).
A exportação no mês de fevereiro-25 deverá ficar abaixo das 3.000.000 sacas. Alguns analistas (os baixistas de plantão) acreditam que essa queda é reflexo do mês de fevereiro-25 ter apenas 29 dias quando os outros tem 30/31 dias! Nesse ano o feriado do carnaval será entre os dias 28 fevereiro até o dia 09 de março (considerando que muitos produtores / traders / empresas irão emendar o feriado já a partir da próxima sexta-feira - dia 28 - voltando ao trabalho apenas na outra segunda-feira – dia 10 de março)!
Creio que teremos uma redução drástica nas operações logísticas / embarques já a partir da próxima semana e uma retomada lenta durante a primeira semana do mês – com reflexo direto nas exportações do mês de março-25.
Durante os últimos 18 meses escutamos que o Brasil poderia ter exportado mais, porém existia um problema logístico, com falta de containers, “deixando de embarcar +1,70 milhões de sacas”. Ora, se todo esse estoque ainda existe, então por que a exportação agora em Fev-25 deverá ficar ao redor das 3,00 milhões de sacas?
Aparentemente não tivemos novos cancelamentos de rota / programação dos navios de contêiner nos principais portos brasileiros. Ou, teria sido uma “noticia plantada” para colocar uma pressão no mercado, protegendo as enormes “posições vendidas” dos grandes bancos/tradings? “Prestem atenção pois o Brasil ainda tem +1,70 milhões de sacas no porto, disponível para embarque imediato”! Por que então os preços explodiram desse jeito se ainda “existe café” no porto? Alguém tem esse dado atualizado?
O estoque disponível no Brasil continua sendo uma grande incógnita. Conversando com uma das maiores empresas de café nessa semana a informação que recebi do seu principal executivo foi a seguinte: “nosso estoque atual já está todo comprometido. O estoque de passagem do Brasil da safra 23/24 para a safra 24/25 já era muito baixo. Acredito que o estoque de passagem da safra atual para a 25/26 será praticamente ZERO. Com estoque de passagem zero então só podemos fazer ajustes com a produção interna (ajustando os números da Conab*) e com os números do consumo interno (dados da Abic*). O único número que consideramos como correto é o número da exportação da Cecafé”!
O clima na semana foi extremamente quente em todas as regiões produtores. Algumas chuvas pontuais ocorreram, porém o calor, o veranico desses últimos 10-15 dias, está comprometendo a fase final do enchimento dos grãos. Como vimos na safra anterior, a safra atual poderá resultar em grãos menores, miúdos, com menos peso e a necessidade de “mais grãos por cada saca de 60 kgs”! Quem tiver condições em preparar, separar café peneira 17/18, “cereja descascado” irá conseguir um bom prêmio no decorrer do ano.
Um dos grandes pontos para acompanhar é se haverá redução no consumo. A princípio, creio que no Brasil teremos uma redução entre -5%/-10% (com o consumo interno ficando entre 19,70 / 21,00 milhões de sacas).
Considerando então um estoque de passagem “zero” e um consumo interno em 20 milhões de sacas, então o Brasil precisará produzir na safra 25/26 pelo menos 60 milhões de sacas para poder exportar pelo menos 40 milhões de sacas no próximo ano safra julho-25/junho-26! Se a safra 25/26 vier <= 55 milhões de sacas creio que os preços continuarão firmes, acima dos 300/350 centavos de dólar por libra-peso durante os próximos 18-24 meses.
Por outro lado, o consumo na China deverá seguir firme e forte. O CEO da empresa Luckin Coffee – sr Guo Jinyi – afirmou que “apesar do aumento dos preços recentes na matéria prima nós tivemos um aumento na receita ao redor de 38% - para 4,7 bilhões de US$ - e não iremos repassar aumentos para os nossos clientes”!
Desta forma poderemos ver uma guerra por aumento no market share entre as grandes empresas do café e uma redução drástica nos resultados de empresas como Starbucks (NASDAQ:SBUX) / Nestle / Illy Café nos próximos meses / balanços!
O Brasil exportou no ano calendário jan-dez-24 aproximadamente +50 milhões de sacas. Porém, vale notar que dessa quantidade 24,50 milhões de sacas referem-se a safra 23/24 (período janeiro-24-junho-24) e 25,60 milhões de sacas referente a safra 24/25 (período Julho-24-Dez-24).
Qual será o reflexo nos preços se o Brasil conseguir exportar neste ano calendário 2.025 apenas 40/37 milhões de sacas? Ao que tudo indica, e pelas minhas estimativas, novamente o mundo terá um déficit entre “produção mundial x consumo mundial” entre -10/-15 milhões de sacas! E o índice “estoque x consumo” novamente abaixo dos 5%!
A entressafra brasileira está começando! Os próximos 4 meses serão críticos! Será o período do final do enchimento dos grãos, da chegada do inverno, do acompanhamento da provável redução drástica dos embarques... Ainda muitas variáveis que poderão levar o Maio-25 a novas máximas históricas. Creio que voltaremos a ver o Maio-25 negociando ao redor dos 450 centavos de dólar por libra-peso até o vencimento das opções no dia 11 de abril!