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Outubro anima investidores, mas Fed pode acabar com a festa

Publicado 01.11.2022, 09:58
Atualizado 09.07.2023, 07:31
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Após dois meses de dolorosas perdas, as ações americanas registraram uma sólida recuperação em outubro.

O Dow Jones Industrial teve um mês sensacional, saltando 13,94%, sua maior valorização mensal desde janeiro de 1976.

Já o S&P 500 subiu 8%, enquanto o Nasdaq Composite se valorizou bons 3,9%. Esses ganhos, no entanto, ocorreram com duas ressalvas.

  1. 2022 tem sido um ano difícil e deve ser o pior desde 2008.
  2. A festa pode terminar na quarta-feira.

Na quarta, o conselho do Federal Reserve anunciará sua decisão de juros, e a expectativa é que haja uma elevação de 0,75% na taxa básica. O anúncio ocorrerá após a reunião de dois dias e fará com que os juros nos EUA fiquem na faixa de 3,75%-4%, nível visto pela última vez em janeiro de 2008.

E são esperadas novas elevações em dezembro e em 2023, em paralelo com a retirada de dinheiro da economia, à medida que o banco central americano continua sua guerra contra a inflação no país.

A verdadeira questão enfrentada pelo Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), responsável pela política monetária dos EUA, é o tamanho das próximas altas de juros. O presidente da instituição, Jerome Powell, pode não oferecer uma resposta explícita na coletiva de imprensa que será realizada após o anúncio. Mas provavelmente fará algumas sinalizações.

Os pontos de atenção mais importantes são os seguintes. Se Powell disser que houve pouco progresso na contenção da inflação e que o Fed deve prosseguir com seu posicionamento ultrarrígido, com grandes elevações de juros em dezembro e em 2023, o rali acionário de outubro será abruptamente interrompido.

Mas se Powell afirmar algo do tipo: “Vamos elevar os juros de forma menos agressiva a partir de dezembro e talvez até interromper as altas se virmos que nossa política está funcionando”, as ações podem de forma ainda mais intensa do que em outubro.

A decisão do Fed é apenas uma de uma série de relatórios econômicos desta semana, cujo clímax será na sexta-feira, com a divulgação dos dados de emprego de outubro. A expectativa é que a taxa de desemprego fique abaixo de 4% e que as folhas de pagamento não agrícolas registrem uma alta de cerca de 200.000, uma queda em relação a 263.000 em outubro. (É provável que o número seja revisado tanto na sexta-feira quanto em outro mês).

Mas o que o Fed realmente deseja ver para comprovar que sua estratégia está funcionando é uma significativa desaceleração do crescimento do número de empregos (em agosto, foram criadas 311,000 vagas de trabalho), bem como um aumento da taxa de desocupação.

Além dos relatórios econômicos, a temporada de balanços do 3º tri está a pleno vapor, com cerca de 2.800 empresas dos EUA apresentando seus relatórios financeiros nesta semana.

Vencedores e perdedores

O rali das ações americanas em outubro não teve a ver com o setor de tecnologia ou, especificamente, com as Big Techs.

O que impulsionou o Dow foram os setores de energia, indústria e finanças. Caterpillar (BVMF:CATP34)(NYSE:CAT), Chevron (BVMF:CHVX34)(NYSE:CVX) e Honeywell (BVMF:HONB34)(NASDAQ:HON) lideraram o Dow, com uma alta de 31,9%, 25,9% e 22,2%, respectivamente. A ExxonMobil (BVMF:EXXO34)(NYSE:XOM) e a Chevron (BVMF:CHVX34)(NYSE:CVX) atingiram suas máximas de 52 semanas na segunda-feira.

Somente dois papéis recuaram entre as 30 ações do Dow: Microsoft (BVMF:MSFT34)(NASDAQ:MSFT), com queda de 0,3%, e Verizon (BVMF:VERZ34)(NYSE:VZ), com um recuo de 1,6%.

O Nasdaq e o Nasdaq 100 registraram ganhos menores, por conta da baixo desempenho do setor de tecnologia.

Energia foi o setor com melhor desempenho do mercado durante todo o ano, com uma alta acumulada de 60,8%, enquanto o petróleo chegou a disparar até US$ 122,11 por barril em meados de junho, e os preços do gás superaram US$ 5,00 por galão nos EUA no mesmo período, uma alta de 52,7% no ano e de 195% desde 2016, de acordo com a Associação Automotiva Americana, que faz um rastreamento dos preços. Os preços ficaram bem abaixo de US$ 4 por galão, mas ainda assim estão 10,6% acima dos níveis registrados no ano passado e 76,1% acima de 31 de outubro de 2020.

O setor foi duramente afetado na segunda-feira, devido a notícias de que o presidente Biden estava considerando propor a aplicação de um imposto extraordinário sobre os lucros de produtores de energia, na tentativa de fazer as empresas petrolíferas baixarem os preços para os consumidores.

As empresas de tecnologia são outra história. O leve recuo da Microsoft representou uma melhora em relação ao declínio de 6.9% em setembro. Mas seus papéis acumulam uma desvalorização de 31% no ano. A Meta Platforms (BVMF:M1TA34) (NASDAQ:META) descobriu que construir o metaverso (uma combinação de vídeo e software) é caro e difícil de definir. E muitos investidores desistiram da ação depois que a empresa divulgou seu balanço do 3º tri e disse que pretende continuar investindo nessa empreitada. Os papéis afundaram 31% em outubro e, no ano, sua desvalorização já é de 72%.

A Apple (BVMF:AAPL34)(NASDAQ:AAPL) teve uma alta de 10,9% em outubro, uma significativa melhora em relação à queda de 12,1% em setembro. Mesmo assim, sua desvalorização em 2022 é de 13,6%. A gigante do iPhone acabou agradando Wall Street com seus resultados do 4º tri. Suas ações subiram cerca de 13% no mês, mas caíram na segunda-feira devido a notícias na China sugerindo que a produção do iPhone na importante fábrica da Foxconn (TW:2354) poderia ser prejudicada pelo grande salto de casos de Covid-19 no país.

Mas a decepção em Wall Street ficou por conta da Microsoft, Amazon Amazon (BVMF:AMZO34)(NASDAQ:AMZN), Alphabet (NASDAQ:GOOGL) e Meta. Ao final da semana, analistas cortaram os preços-alvo de Amazon, Alphabet (BVMF:GOGL34)(NASDAQ:GOOGL) e Meta em mais de 20%.

O que motivou o rali de outubro?

Pelo menos quatro forças se combinaram para produzir o rali de outubro.

A persistente esperança/sonho de que o Fed começará a diminuir os aumentos de juros. E os críticos do Fed vêm alertando que o banco central pode ir longe demais no seu combate à inflação. Alguns setores econômicos já estão sendo afetados pelos aumentos das taxas, como as vendas de imóveis. As taxas de financiamento superaram 7% na semana passada pela primeira vez desde 2001. Em uma hipoteca de US$ 200.000 a juros fixos por 30 anos, o pagamento do principal e dos juros subiria de US$ 955 por mês, considerando uma taxa de 4%, para US$ 1331 a uma taxa de 7%. A atividade do setor de construção nos EUA vem recuando em todo o país.

Além disso, muitos esperam que a guerra na Ucrânia termine logo. Após os avanços das tropas ucranianas no campo de batalha, a guerra acabou ficando mais brutal, e ambos os lados parecem desinteressados.

A queda de setembro plantou as semanas de um rali de alívio. Os índices de força relativa do Dow, S&P 500, Nasdaq e Nasdaq 100 ficaram abaixo de 30 no fim de setembro. Uma leitura abaixo de 30 é geralmente considerada um sinal de compra. (Acima de 70 é um alerta de que o mercado está sobrecomprado e, acima de 80, uma reversão é quase garantida). Além disso, em meados de setembro, o MACD sugeriu que as ações estavam começando a virar para cima. O indicador é muito acompanhado pelos analistas técnicos.

Possível vitória do partido republicano nas eleições de meio de mandato. Muitos investidores estão injetando recursos nos cofres das campanhas republicadas, na esperança de que o partido assuma o controle pelo menos da Câmara dos Representantes no próximo pleito e possivelmente o Senado.

Riscos pela frente

Mesmo que o rali tenha continuidade por conta da sinalização de uma pausa por parte do Fed, os investidores estão diante de uma série de riscos.

O Fed pode reduzir o ritmo de elevações de juros, mas estes ainda devem continuar subindo. Além disso, os efeitos dos juros só começam a ser vistos depois de meses. Os problemas que estão emergindo no mercado imobiliário são apenas um sinal inicial. E são estridentes. As cotas do fundo de construtoras iShares U.S. Home Construction (NYSE:ITB) saltaram 8,4% em outubro, mas acumulam uma desvalorização de 31% no ano. Entre as principais participações do ETF estão três grandes nomes da construção: D.R. Horton (BVMF:D1HI34)(NYSE:DHI), Lennar (BVMF:L1EN34)(NYSE:LEN) e Pultegroup (BVMF:P1HM34)(NYSE:PHM), e sua correção no ano é de 66%.

Muitas ações ainda estão supervalorizadas. A fabricante de chips Nvidia (BVMF:NVDC34)(NASDAQ:NVDA) subiu 11,9% em outubro, mas recuam 54% até agora em 2022. Mas seu índice de preço/lucro prospectivo ainda está em 31. A Dexcom (BVMF:D1EX34)(NASDAQ:DXCM), ação com melhor desempenho no S&P 500, tem um índice P/L de 109. Suas ações subiram 50% em outubro, mas recuam 10% no ano. A DexCom fabrica aparelhos medidores para monitoramento de glicose em pessoas com diabetes.

Será difícil conter as pressões inflacionárias. O Fed pode achar que apenas subindo juros conseguirá fazer isso, mas os preços do petróleo, da gasolina e dos alimentos nos Estados Unidos são gerados, em parte, por condições externas. A Rússia e a Ucrânia estão entre os maiores exportadores de trigo e outros grãos, e os preços dos alimentos são uma das principais razões para a inflação atual. Membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo estão sendo mais disciplinados na produção de petróleo e gás.

A história pode estar ao lado dos investidores. Em novembro e dezembro pelo menos. Estes são dois dos três meses mais fortes do ano, de acordo com a Stock Traders Almanac. (Abril é o melhor). Além disso, estão chegando as festas de fim de ano, e a expectativa é que as vendas no varejo sejam muito boas, seja nas lojas físicas ou online.

Aviso: O autor atualmente não possui nenhum dos ativos mencionados neste artigo.

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