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Fundamentos do Petróleo Indicam Preço Alto, Mas Mercado Aposta Em Baixa. Por Quê?

Publicado 06.06.2019, 11:08
Atualizado 02.09.2020, 03:05
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Artigo publicado originalmente em inglês no dia 6/6/2019

O mercado de petróleo está testemunhando uma grande disparidade entre os fundamentos e as posições dos traders no setor. Embora os fundamentos e diversos fatores geopolíticos indicassem que os preços deveriam ter subido ou pelo menos permanecido estáveis nas últimas semanas, o que houve, na verdade, foi uma forte queda nas cotações.

As negociações das últimas duas semanas e meia derrubaram o petróleo devido a temores com a economia mundial, mas os fundamentos e a geopolítica não corroboram esse comportamento.

Sentimento vs. previsões

A disparidade entre os fundamentos e a percepção dos traders pode ser vista claramente em uma recente pesquisa do Wall Street Journal contendo previsões dos bancos para os preços do petróleo Brent. A pesquisa revelou que os bancos acreditam que o Brent encerrará 2019 com um preço médio de US$ 69,73.

Para fins de comparação, essa previsão está US$ 10 acima de onde o preço estava na metade do dia de ontem, quarta-feira. Essas previsões se baseiam nos fundamentos da oferta. De acordo com esses números, os preços do petróleo devem subir significativamente. O Brent precisaria ter um preço médio de mais de US$ 70 por barril pelo resto do ano para que essas previsões se confirmem.

Gráfico preço Brent

Neste momento, a oferta dos principais produtores de petróleo está baixa, mas o sentimento do mercado não reflete o que os fundamentos estão indicando. Em vez disso, os traders estão focados nas preocupações macroeconômicas, como a desaceleração no crescimento da economia mundial e as guerras comerciais. De acordo com o artigo do Wall Street Journal, os analistas dos bancos aparentemente estão convencidos de que os traders vão ignorar essas preocupações macroeconômicas pelo resto de 2019, mesmo que essas questões tenham sido a força motriz do mercado nas últimas semanas.

Por que os preços do petróleo não estão subindo?

De acordo com os números, os preços do petróleo deveriam estar subindo. As sanções dos EUA ao Irã e problemas na Venezuela fizeram com que a produção e as exportações desses grandes países produtores de petróleo despencassem. Enquanto isso, a guerra na Líbia afetou a oferta do país e, segundo um alerta das autoridades, pode provocar um “colapso a qualquer momento” na produção.

Já a produção no Cazaquistão tem caído devido à manutenção em seu maior campo petrolífero e só agora está se normalizando. Houve uma grande explosão na Rússia, que contaminou seu oleoduto de Druzhba, responsável por transportar o volume de 1 milhão de barris por dia (bpd), e sua produção de petróleo caiu para 10,87 milhões de bpd. Essa é a menor produção registrada pela Rússia desde meados de 2016.

Sem dúvida, esses problemas de oferta deveriam ter elevado os preços nas últimas semanas, mas não foi isso o que aconteceu. A questão, então, é se esses problemas conseguirão fazer as cotações subir no segundo semestre de 2019 ou se o mesmo sentimento continuará no mercado. Ao que parece, algumas das forças que deveriam estar impulsionando os preços serão resolvidas em breve, inclusive as quedas registradas no Cazaquistão e na Rússia. Isso reduziria a pressão altista.

Choques macroeconômicos podem impulsionar os preços

Se não houver uma mudança significativa no cenário, nada indica que existam novas forças capazes de elevar os preços, a não ser as que já existem. Tal mudança seria algo imprevisível, como uma grande guerra no Golfo Pérsico, um grave desastre natural na região produtora de petróleo ou alguns números realmente surpreendentes na oferta e na demanda.

A questão é que esses problemas já estão acontecendo: sanções econômicas, falta de abastecimento na Venezuela e restrição de oferta. Se eles não estão conseguindo fazer os preços subir ou evitando uma queda neste momento, será que serão capazes de elevar as cotações no segundo semestre do ano?

Por outro lado, as questões que estão fazendo, ou poderão fazer, os preços do petróleo cair não parecem ter uma solução fácil, podendo, inclusive, piorar. A guerra comercial entre Estados Unidos e China é um fator importante. Quando novas tarifas são anunciadas, os preços do petróleo caem. As negociações não parecem indicar uma resolução no curto prazo, embora isso possa mudar a qualquer momento.

Simplesmente não sabemos se ou quando serão resolvidas. Sem dúvida é possível que os presidentes Trump e Xi cheguem a um acordo antes de 2020, com tempo suficiente para os preços do petróleo apresentarem uma média em torno de US$ 70, mas também é possível que a situação piore e os preços continuem em queda.

Gráfico preço WTI

É difícil prever os fundamentos

Neste momento, os mercados estão obcecados por indicadores econômicos que possam indicar uma recessão iminente. Os traders de petróleo se aferram a números que demonstram que está havendo uma desaceleração no crescimento. Na semana passada, o foco estava na queda dos rendimentos dos títulos americanos. Antes disso, as atenções dos mercados estavam voltadas à estimativa de crescimento da economia dos EUA no segundo trimestre feita pelo J.P. Morgan, que reduziu sua previsão de 2,25% para apenas 1% . E antes disso ainda, o mercado estava concentrado nos dados da economia chinesa, que mostravam uma desaceleração no crescimento.

A reunião da Opep neste mês pode fazer com que os preços caiam ainda mais. Há três possíveis consequências neste momento: uma renovação das atuais cotas de produção, maiores cortes de oferta ou uma completa implosão do acordo da Opep e Opep+, colocando um fim no acordo de restrição de abastecimento. Tudo indica que a Rússia não continuará apoiando maiores cortes, portanto o melhor que a Opep pode esperar é uma continuação das atuais cotas de produção. Qualquer tipo de desacordo ou variação disso poderia derrubar os preços.

Essa situação revela a dificuldade de tentar prever os preços do petróleo. Como afirmou o ministro do petróleo da Arábia Saudita, Khalid al-Falih, no início desta semana, a volatilidade dos preços do petróleo vista recentemente é “injustificada”. Evidentemente, conforme conta o artigo do Wall Street Journal, isso não impediu que as instituições fizessem previsões para a média de preços do petróleo... em 2020!

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