Todas as vezes que se coloca em discussão a diminuição dos fluxos de recursos externos para o Brasil e a presente possibilidade de um movimento mais intenso de saídas logo surge a colocação de que o país tem reservas cambiais suficientes.
Há presente em perspectiva inúmeros fatores que poderão provocar fortes movimentos de saídas de recursos do país.
O “tapering” do “QE” do FED americano iniciado em janeiro provocará durante a sua efetivação em prática continua redução da liquidez internacional, com impactos diretos nos custos dos recursos.
A recuperação da economia americana certamente atrairá parcela substantiva dos recursos em poder dos emergentes, com a intensificação maior quando o FED resolver alterar sua politica de juro. Dados menos otimistas gerados em dezembro e janeiro e exacerbados pelos inúmeros segmentos do mercado internacional podem ser unicamente movimentos de oportunidade para intensificar o giro de negócios com a alteração de preços dos ativos, mas na realidade foram meses atípicos para a economia americana fortemente afetada por fatores climáticos, fato que pode ser muito considerado pelo FED e assim frustrar as expectativas criadas pelos mercados, por isso é recomendável sensatez dosando o otimismo.
Há emergentes que estão catalisando recursos que estão em outros emergentes, havendo dados a este respeito, inclusive sobre saídas dos fundos estrangeiros no Brasil.
O Brasil, embora relute em aceitar a tese, está no grupo dos 5 frágeis e assim considerado entre os mais vulneráveis e com menor grau de atratividade, por inúmeras razões macroeconômicas que provocaram a “quebra do encanto” que desfrutou por um bom período perante os investidores internacionais.
A base de sustentação como antítese a menção do Brasil como vulnerável tem sido sempre a existência de considerável volume de reservas cambiais, algo como US$ 370,0 Bi, que é o grande escudo de garantia de solvência do país.
Porém, até que ponto estaria a autoridade monetária disposta a abrir mão parcialmente destas reservas para conter uma pressão legitima de apreciação da moeda americana em razão de fluxos adversos ao país.
E o pior, as pressões legitimas de apreciação do dólar tendem a vir pelo mercado à vista, onde são registradas as saídas e então os efeitos de colocações de “swaps cambiais”, que se presta a gerar liquidez para “hedge” não serão a melhor e nem mesmo a mais eficaz via para conter a pressão de demanda no mercado à vista, que requer moeda efetiva disponível.
Para quem não percebeu o BC já “migrou” para o mercado à vista algo em torno de US$ 16,0 Bi por falta de fluxo, ou seja, falta de auto geração de liquidez pelo próprio mercado. A rigor, seria normal ter realizado leilões de “venda” neste valor, mas tem estrategicamente resistido à dispor das moedas da reserva cambial na forma definitiva, então vem optando por conceder linhas de financiamento em moeda estrangeira, repassando portanto os dólares necessários para gerar liquidez ao mercado na forma de empréstimos aos bancos, e estes, ancorados nestes empréstimos operam com suas “posições vendidas” no mercado à vista.
É uma estratégia “dando um tempo para ver se os fluxos melhoram”.
Mas, as perspectivas com fundamentos são de fluxos adversos ao país, e, questiona-se muito que esta estratégia de utilização dos bancos para triangulação da liquidez tem limites, evidentemente não ainda sabidos pelo mercado, mas certamente poderão acarretar desconforto e na medida em ganhem acumulo de montantes poderão proporcionar clara visibilidade de que uma estratégia aceitável temporariamente corre o risco de se tornar prática duradoura que já não encobrirá o fato do país ter sustentável queda de fluxos de recursos externos.
Então, a questão é: o BC vai queimar reservas cambiais para gerar liquidez e tentar evitar a exacerbação do preço ou vai deixar o preço do dólar buscar o seu efetivo preço dada as circunstâncias e monitorar tão somente a liquidez sem confrontar-se com a tendência.
Se o BC buscar o enfrentamento para tentar conter a depreciação do real com a venda massiva de divisas, baixando efetivamente as reservas cambiais, a moeda nacional poderá ser objeto de movimentos especulativos e tornar as pressões ainda maiores.
Por isso, é extremamente relativo quando colocamos as “reservas cambiais” como solução para todos os males, pois neste ambiente com tendência de fluxos cadentes para o país a preservação das mesmas é imperiosa e o governo sabe disto, razão pela qual consideramos que não seja dado que nas atuais circunstâncias nos parece mais sensato suportar a alta do preço da moeda americana do que “queimá-las” buscando conter o preço da moeda americana.
Este é um ponto importante e naturalmente terá reflexos na necessidade maior ou menor do ajuste na taxa SELIC ao longo do ano.
Estamos no começo do ano, esta taxa cambial em torno de R$ 2,38 está bastante afastada das perspectivas e fundamentos, até porque não se teve nenhuma manifestação do governo em torno de aperto maior da politica monetária e objetivos maiores de superávit primário, permanecendo o sentimento de que a politica continua expansionista num ambiente em que o país cresce muito pouco.
Acreditamos que o comportamento do preço da moeda americana esteja em descompasso com os fundamentos e perspectivas, e isto poderá ocasionar movimentos bruscos de ajustes.