A tentativa do governo de acelerar a pauta das reformas para tirar as delações da Odebrecht do foco terá um grande teste nesta terça-feira. O relator da reforma da Previdência, Arthur Maia – contemplado na “Lista de Fachin” entre os políticos com foro privilegiado que serão investigados – apresenta hoje o parecer da proposta à comissão especial da Câmara dos Deputados. Mas novos recuos pressionam o texto.
Embates da base aliada com a equipe econômica pela redução da idade mínima para aposentadoria das mulheres, para menos que 65 anos, elevaram a tensão na reta final de apresentação da proposta. O limite deve ficar entre 62 e 63 anos, marcando uma completa desidratação do texto original por abandonar a exigência do tempo de contribuição (de 25 anos) e reduzir a duração da regra de transição (de 20 anos).
O martelo só será batido em discussão interna com a bancada feminina, ainda hoje. E essas alterações colocam em xeque a eficácia da medida, elevando a dúvida quanto ao benefício de um provável desgaste político a ser sofrido por uma pauta tão impopular, às vésperas das eleições de 2018. O próprio presidente Michel Temer já admite que daqui a 10, 20 anos, possa ser necessário um novo ajuste previdenciário, praticamente reconhecendo a ineficiência da reforma atual para equilibrar as contas públicas.
Mas em tempos de uma força-tarefa no Supremo Tribunal Federal (STF) para acelerar os processo da Operação Lava Jato, o plano de fuga do Palácio do Planalto é mostrar que as atividades não estão paralisadas e que o governo continua trabalhando, em busca da recuperação da economia. Antes da apresentação do relatório, Temer toma café com deputados da base aliada, que conhecerão o texto do relator antecipadamente.
Feita a leitura do parecer na comissão especial, os trabalhos devem ser interrompidos até a semana que vem, quando o texto deve ir à votação. No plenário da Câmara, a pauta só deve chegar em maio às mãos do presidente da Casa, Rodrigo Maia – outro contemplado na “Lista de Fachin”.
Amanhã, pode ter início a votação da reforma trabalhista, com o Executivo e o Legislativo colocando essa pauta na frente, a fim de medir forças para aprovar as mudanças nas regras da aposentadoria. Ontem, o relator da proposta, Rogério Marinho, afirmou que as mais de cem mudanças nas leis de trabalho irão ajudar a gerar emprego e renda.
Assim, o discurso do governo (e do mercado) é que encaminhamento dessas duas reformas é a condição necessária para delinear o cenário sobre o endividamento público e a retomada econômica. E esses tópicos devem ser realçados pelo Banco Central, na ata da reunião de abril, a ser divulgada hoje (8h).
Com o ambiente inflacionário favorável à continuidade da queda da Selic, é a visão do BC sobre outras variáveis que pode definir até onde irá o ciclo de cortes dos juros brasileiros. No encontro deste mês, a autoridade monetária intensificou a dose e reduziu a taxa em um ponto, para 11,25%, na quinta redução consecutiva.
Após a “jogada de mestre” do BC em relação à rolagem integral dos contratos de swap cambial tradicional que vencem em maio - o que adiciona pressão de baixa no dólar em antecipação ao impacto das delações e da tensão geopolítica – o mercado segue em busca de pistas sobre o ritmo e a magnitude da taxa básica de juros nos próximos meses.
Para tanto, os investidores querem saber qual é a avaliação da autoridade monetária em relação à trajetória da dívida pública e, por conseguinte, sobre o nível neutro da taxa de juros real no país. A situação política em Brasília, então, pode provocar alguma cautela nas futuras decisões do BC, por continuar sendo um dos principais fatores de risco.
No exterior, o principal foco de tensão continua sendo a troca de farpas entre os protagonistas do poderio nuclear. As ameaças e retaliações entre Estados Unidos, Rússia e Coreia do Norte têm reduzido o apetite dos investidores por ativos de risco.
Mas o que tem chamado atenção é o lugar de destaque que o presidente norte-americano, Donald Trump, tem dado à China. Com os sinais encorajadores emitidos por Pequim para Washington em relação à Pyongyang, a segunda maior economia do mundo tem ganhado contornos também de potência mundial, firmando sua posição de liderança na Ásia e ganhando força no cenário diplomático e militar.
Porém, nesta manhã, é a queda do minério de ferro que conduz as perdas entre as bolsas internacionais, na volta do feriado prolongado em várias partes do mundo. Os contratos futuros da commodity chegaram a cair mais de 4% na Bolsa chinesa de Dalian, para o menor nível em cinco meses, um dia após terem recuado 3%, estendendo as perdas após entrar em um mercado de baixa (bear market) no início deste mês.
A desvalorização da matéria-prima para a fabricação de aço reflete a avaliação de analistas, do governo australiano e até mesmo de mineradoras de que o avanço da commodity para os maiores níveis desde 2014 eram insustentáveis em meio à crescente oferta e à desaceleração na demanda. As ações de mineradoras como BHP Billiton e Rio Tinto (LON:RIO) pesam na Bolsa de Londres, que lidera as perdas entre as praças europeias, depois de terem penalizado o desempenho da Bolsa de Sydney.
Os contratos futuros do petróleo também recuam, à espera da decisão do cartel dos países produtores (Opep) em relação a um novo corte na produção da commodity. O cobre também apagou todo o ganho registrado na semana passada, ao passo que o ouro recua pelo terceiro dia seguido.
O desempenho das commodities industriais contamina também os índices futuros das bolsas de Nova York. Os investidores aguardam dados de março do setor imobiliário nos EUA (9h30) e também da atividade industrial no país (10h15), em dia de agenda econômica mais vazia.
Nas moedas, a declaração do secretário do Tesouro norte-americano, Steven Mnuchin, de que a força do dólar "é uma coisa boa" contradiz a crítica de Trump em relação a um dólar forte, deixando as divisas sem um rumo definido. O iene japonês cai, assim como o won sul-coreano e o dólar australiano, ao mesmo tempo em que a lira turca avança, ainda refletindo o polêmico referendo na Turquia, que amplia os poderes do presidente Recep Tayyip Erdogan, que comanda o poder no país desde 2003. O euro está estável, à espera de uma acirrada disputa nas eleições presidenciais na França neste fim de semana.