É muito comum ver pessoas reagindo positivamente quando a empresa em que investem anunciam planos de fusões e aquisições (M&A - do inglês, Mergers and Acquisitions). Isto deriva da mentalidade que a maioria das pessoas possuem no mundo dos negócios de “quanto maior, melhor” e da falta de informação a respeito de uma operação tão complexa quanto um M&A, o que as leva a subestimar os seus riscos.
Estudos realizados pela Harvard Business Review mostram que, em média, cerca de 80% das operações M&A destroem valor. No texto de hoje, abordarei os três principais motivos do porquê fusões e aquisições falham.
O primeiro e principal motivo é pagar mais do que o valor intrínseco da empresa adquirida. Ao pagar muito por um ativo, o investidor abre mão de duas coisas muito importantes: maior rentabilidade sobre o capital investido e maior margem de segurança para amenizar – ou até mesmo evitar – um prejuízo causado por algum erro de análise.
A compra de ativos por um preço abaixo de seu valor intrínseco (a famosa ideia de comprar 1 dólar por 50 cents) é o cerne da filosofia de Investimento de Valor, provada vitoriosa e utilizada pelos maiores investidores do mercado de capitais. Mohnish Pabrai, um desses grandes investidores, possui uma famosa frase que resume o Investimento de Valor: “Cara, eu ganho; coroa, eu não perco muito”.
No geral, as transações de fusão e aquisição são um jogo de soma zero (um lado vence e o outro perde). Durante a negociação, os vendedores devem convencer seus sócios de que estão vendendo o negócio por mais do que ele vale, caso contrário, não há sentido em se desfazer da operação. Os compradores, por sua vez, devem convencer seus sócios de que estão comprando uma barganha. No entanto, ambos estão falando sobre o mesmo ativo. E isso significa que, ou o vendedor está vendendo barato, ou o comprador está comprando caro.
O principal motivo que leva empresas a pagarem a mais por outra é o medo da disrupção. Quando gestores se sentem ameaçados por tendências futuras e acreditam que seu modelo de negócio está ultrapassado, as aquisições são influenciadas por um sentimento de desespero e tendem a ser maiores do que deveriam.
Outro motivo é a tendência em supervalorizar as sinergias. Segundo o investidor Vitaliy Katsenelson, “sinergia” é uma palavra mágica criada pelos analistas de Wall Street para tentar explicar qualquer transação de M&A. Na teoria, sinergia é o conceito de que o valor e a performance de duas companhias atuando em conjunto será maior do que a soma de ambas separadas. No entanto, na prática, se assemelha à explicação de Katsenelson.
A segunda razão pela qual grande parte das fusões e aquisições não gerarem valor é a dificuldade em integrar duas diferentes culturas organizacionais. A cultura de uma empresa é fundamental para seu sucesso. Não à toa, empresas como Google (NASDAQ:GOOGL) e Facebook fazem investimentos maciços nessa área. O conflito de cultura causa deterioramento do serviço oferecido ao consumidor e, portanto, queda nas vendas e nos lucros.
Por fim, a integração dos dois negócios é muito complicada e pode nunca ocorrer. Quando duas companhias se unem, é necessário realinhar toda cadeia de suprimento, integrar os softwares do sistema, mudar a sede de administração, demitir funcionários etc. Tais procedimentos incorrem em altos custos administrativos que podem nunca ser justificados se essa integração for incompleta ou malfeita.
Sendo assim, meu ponto aqui não é afirmar que fusões e aquisições não geram valor. Muito pelo contrário: se bem-feitas, podem entregar generosos retornos aos acionistas e a empresa. Diversas companhias que possuem uma estratégia inorgânica e crescem por meio de fusões e aquisições se provaram eficientes, como a Linx (SA:LINX3), a PetroRio (SA:PRIO3) e o Fleury (SA:FLRY3). Em empresas com essa estratégia, é primordial que o investidor analise o conhecimento, a experiência e o histórico de resultados do gestor neste assunto.
Meu ponto neste artigo é fazê-lo refletir e aprender sobre as complexidades e os riscos envolventes em operações de M&A para que você, investidor, possa analisar e concluir suas próprias premissas em próximos episódios desse tipo.