O mercado de açúcar encerrou a sexta-feira cotado a 12.73 centavos de dólar por libra-peso no vencimento março de 2019, 13 pontos acima do fechamento da semana anterior. Ou seja, nada acontecendo de novo.
Permanecem em suspense os possíveis efeitos da famigerada seca comentada na semana passada. O interior do estado de São Paulo teve bom volume de chuvas e resta saber qual o efeito neutralizador que elas carregam.
Os preços no mercado internacional em nada reagiram, até o momento, às perspectivas de menor safra de cana no Centro-Sul. A relação estoque/consumo mundial é alta fazendo com que os operadores ajam com tranquilidade e sem pressa na execução de suas estratégias e na composição dos seus livros de negócios. No entanto, chama a atenção o comportamento do spread março/maio no mercado futuro de açúcar em NY.
Spreads, normalmente, são um espelho das expectativas do mercado físico refletidas no mercado futuro. Explico melhor: se os operadores do mercado físico (compradores, tradings, consumidores industriais) receiam que a disponibilidade do produto pode ser menor do anteriormente antecipado, eles adiantam as compras (hedgeadas, por exemplo, no maio) para o mês com vencimento mais curto (no exemplo, o vencimento março). Para operacionalizar isso, eles dão uma ordem no mercado futuro comprando o mês com vencimento mais curto e vendendo o mês com vencimento mais longo (o maio). Na prática, o mês onde o hedge estava alocado foi zerado e o hedge de compra efetivo passa a ficar no mês mais curto. Os spreads respondem por mais de 60% de todo o volume negociado em bolsa. Seus negociadores, na maioria das vezes, estão intimamente conectados com o físico.
Voltando ao spread março/maio, há apenas duas semanas o março negociava a 16 pontos de desconto em relação ao maio. Nesta sexta-feira, o mesmo spread fechou com 6 pontos de prêmio. O mercado futuro praticamente ficou no mesmo aborrecido intervalo de preços, mas o spread valorizou quase 5 dólares por tonelada no período de duas semanas. O que motiva tal movimento é a percepção de atraso na disponibilidade de açúcar no início da safra.
Se as usinas soubessem quão valiosa são as informações que possuem dentro de casa, certamente transformariam essas informações em dinheiro. Quando as tradings visitam as usinas no começo do ano safra fazem-no com o intuito de obter informações acerca da disponibilidade de açúcar, do mix de produção, de quão adiantada ou atrasada será o início da moagem, entre outras coisas. Esse é o papel das tradings. Absolutamente nada de errado com isso. Após essa pesquisa, compete aos traders com o auxílio do pessoal de inteligência de mercado montar as estratégias – em especial dos spreads – com base nas conclusões obtidas nas visitas.
Operar spreads tem suas vantagens. Não é uma operação direcional, pois independe da trajetória do mercado. Consequentemente tem menor risco. Enquanto uma operação de futuros demanda pela Bolsa de NY uma margem de garantia de, por exemplo, US$ 1,000 por contrato, a margem do spread é um terço ou um quarto desse valor.
A Archer Consulting tem como objetivo precípuo disseminar o conhecimento acerca do mercado futuro, de opções e derivativos para o maior número de pessoas possível, sejam elas diretamente ligadas ao negócio ou apenas interessadas. Acreditamos que quanto mais profissionais entenderem o funcionamento dos mecanismos do mercado de derivativos, mais saudáveis serão os resultados comerciais das empresas, mais produtos poderão ser disponibilizados aos participantes do mercado objetivando a mitigação de risco e a otimização das margens. É um trabalho de formiguinha.
Neste domingo, inicia-se a já consagrada Conferência de Açúcar em Dubai, que se estende até quarta-feira. Nos últimos anos, o efeito nas cotações em NY tem sido mínimo. O mercado, no entanto, está tão ávido por notícias que possam trazer o mínimo de entusiasmo aos seus participantes e leais seguidores, que se algum garçom durante o Jantar de Gala inadvertidamente derrubar a bandeja no chão e fizer muito barulho, é capaz de o mercado futuro reagir fortemente. Aguardemos.