Nas últimas semanas, diversas regiões observaram uma desvalorização de suas moedas devido ao fortalecimento do dólar americano. Nas economias da América Latina, destaca-se o peso mexicano, que em outubro caiu 1,38% e acumula uma queda de 17,64% no ano, posicionando-se como uma das moedas emergentes mais afetadas. Se, por um lado, fundamentos do cenário macroeconômico trouxeram um ambiente de maior aversão ao risco, fortalecendo o dólar, por outro, fatores domésticos também estão influenciando essa depreciação e merecem destaque em nossa análise.
Parecem distantes os dias em que vimos o peso mexicano valorizar mais de 20% em 2023, resultado do aumento das remessas e de uma posição fiscal saudável. Outros fatores, como investimentos diretos, também foram importantes. Segundo a United Nations Conference on Trade and Development (UNCTAD), o México recebeu US$ 36 bilhões, sendo o nono país no mundo que mais recebeu recursos. O México, ao contrário de outros países da América Latina, não possui uma balança comercial tão orientada para commodities, tornando esses outros fluxos de recursos estrangeiros importantes para oferecer suporte à sua moeda.
Agora, em 2024, podemos observar como o peso mexicano tem sofrido uma forte desvalorização, comparada talvez apenas pelo Brasil. O mercado tem estado apreensivo em relação ao país desde a eleição que elegeu Claudia Sheinbaum, que trouxe propostas como mudanças no judiciário e um projeto de lei para a dissolução de órgãos autônomos propostos pelo seu antecessor presidente Andrés Manuel López Obrador. Enquanto o cenário político gera incertezas, a política monetária também não oferece suporte ao peso mexicano. Em setembro, o Banco do México (Banxico) realizou o terceiro corte de juros deste ano, reduzindo a taxa em 25 pontos-base para 10,50%.
Desempenho das Moedas Latino-Americanas Selecionadas (variação anual, %)
Fonte: Refinitiv
No ambiente externo, os ventos atuais também não são favoráveis. Embora o corte de juros nos EUA em setembro tenha enfraquecido o dólar e fortalecido moedas globalmente, em outubro esses ganhos foram revertidos, com o peso mexicano registrando uma depreciação superior a 1,5%. No entanto, são os fatores domésticos que mais pesam na desvalorização da moeda. Nosso modelo de valor justo para o peso mexicano ajuda a compreender essa dinâmica.
Modelo de Valor Justo para o Peso Mexicano (USD/Peso Mexicano)
Fonte: Hedgepoint Global Markets
O exercício consiste em capturar a volatilidade de uma cesta de moedas de países emergentes, nações que compartilham, em algum nível, características econômicas e institucionais com o México; reduzir a dimensionalidade das taxas de câmbio por meio de uma análise de componentes principais e reproduzir o valor em uma série temporal do peso mexicano. O resultado é a taxa de câmbio que seria observada no país caso fatores internos não afetassem (positiva ou negativamente) a taxa de câmbio identificada no gráfico como MXN (Emergentes).
Em alguns momentos de 2022 e 2023, o peso mexicano esteve mais apreciado em relação ao nosso modelo, devido à valorização mencionada anteriormente. No entanto, podemos observar que, no final de maio deste ano, a moeda do país começou a sofrer uma forte depreciação cambial. Sem os temores internos, a moeda poderia estar no patamar de 16,812, cerca de 16% menor do que o valor atual.
Com a aproximação das eleições americanas, o peso mexicano enfrentará mais algumas semanas de forte pressão. Políticas comerciais protecionistas vindas dos EUA podem reduzir os investimentos diretos no país, além de aumentar tarifas sobre produtos produzidos no México. A promessa de redução de impostos pelo ex-presidente Trump pode impactar o elevado déficit fiscal do país, resultando em prêmios mais altos nos treasuries americanos e em suporte para o dólar.
A conjuntura atual traz consigo muito ruído e volatilidade. Enquanto persistir a aversão do mercado ao novo conjunto de políticas que estão sendo implementadas no México, assim como a incerteza sobre o impacto das eleições americanas no país, a tendência natural será de depreciação do peso mexicano.