No texto de hoje vou falar sobre a possibilidade de privatização do Banco do Brasil (SA:BBAS3), a minha opinião sobre o assunto e o impacto no preço das ações do banco estatal.
“Tem que vender essa p... logo”
O famoso vídeo da reunião ministerial divulgado no dia 22 de maio (penúltima sexta-feira) teve como destaque a frase proferida pelo Ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre a privatização do Banco do Brasil: “tem que vender logo, o Banco do Brasil está pronto para ser vendido”. O vídeo foi divulgado quando o mercado já havia praticamente encerrado suas atividades da semana. Porém, no pregão seguinte, na segunda-feira (25 de maio), imediatamente, as ações do Banco do Brasil tiveram alta de 10,5 por cento, repercutindo a frase do Paulo Guedes.
Muitos leitores, clientes e seguidores da Levante perguntaram: “E agora? Sai mesmo a privatização do BB? Qual o impacto disso no preço das ações?
“Não quer pressão, vai trabalhar no Banco do Brasil”
A frase acima é do técnico Luiz Felipe Scolari, quando se tornou novamente técnico da Seleção Brasileira em 2012. Jogadores e técnico da Seleção vivem sob intensa pressão no cargo mais desejado do futebol brasileiro. O Felipão foi tanto o técnico do Penta em 2002 quanto o do 7x1 para a Alemanha em 2014, então tenho uma certa reserva com os seus métodos de trabalho, mas nessa ele acertou em cheio.
O Banco do Brasil entregou um retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) de apenas 8,8 por cento em 2016. Foi o auge da crise econômica, com queda acumulada no Produto Interno Bruto (PIB) em 2015/2016, muito abaixo dos principais bancos privados do país: Bradesco (SA:BBDC4) com ROE de 17,6 por cento e Itaú Unibanco (SA:ITUB4) com ROE’s de 20,1 por cento).
Nesta época o Banco do Brasil era sinônimo de ineficiência, baixa rentabilidade e pouco retorno para os seus acionistas, com as ações sendo negociadas com grande desconto em relação às do Bradesco e do Itaú.
Banco do Brasil começou privado
O Banco do Brasil atual nasceu como uma empresa privada. Foi fundado em 1851 no Rio de Janeiro pelo Barão de Mauá, maior empresário brasileiro do período do Império. O Banco do Brasil foi fundado com um capital de dez mil contos de réis, um valor considerado muito alto para época.
O BB surgiu com propósito de servir ao Governo na concessão de linhas de crédito nas situações de extrema importância, responsável por emitir a moeda do País. Hoje essa responsabilidade é do Banco Central (BC). A assembleia de constituição do BB ocorreu no salão da Bolsa de valores do Rio de Janeiro.
O Banco do Brasil foi “estatizado” pelo imperador D. Pedro II através da lei de 5 de julho de 1853, com a fusão do Banco do Brasil de Mauá com o Banco Comercial do Rio de Janeiro, com exclusividade na emissão do papel-moeda.
O Banco do Brasil na era Dilma
O retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) do Banco do Brasil foi muito baixo em 2015 e em 2016, pois o banco público foi usado pelo Governo Federal, da então presidente Dilma Rousseff para sustentar o consumo das famílias através da concessão de crédito subsidiado, um modelo econômico de taxas de juros artificialmente baixas que não funcionou.
A economia brasileira acabou afundando no período, com queda acumulada de 7 por cento no PIB em 2015/2016. A inadimplência (calote) cobrou o seu preço nos créditos concedidos pelo Banco do Brasil.
Nova Administração do Banco do Brasil: Rubem Novaes
A nova administração do BB tem foco na melhoria do retorno sobre o patrimônio líquido (ROE), aumento da eficiência, redução de despesas operacionais e crescimento das operações de crédito com administração adequada de risco, sem usar o Banco do Brasil para conceder subsídios para o consumo.
Evolução do ROE do Banco do Brasil
Nos últimos três anos, o Banco do Brasil apresentou aumento de rentabilidade: saiu de um patamar de ROE de 12,3 por cento em 2017, para 13,9 por cento, em 2018, e aumentou o seu ROE para 17,3 por cento, em 2019. A diferença de rentabilidade (ROE) para os grandes bancos privados como Itaú e Bradesco (ROE acima de 22 por cento) se estreitou.
A melhora do ROE do Banco Brasil teve como principais catalisadores: 1) crescimento da carteira de crédito; 2) redução das despesas com calotes; 3) controle das despesas operacionais; e 4) crescimento das receitas com tarifas bancárias.
Catalisadores: gordura para queimar nas despesas operacionais
O principal catalisador da melhoria do ROE do Banco do Brasil foi a redução das despesas operacionais, com bastante espaço para o corte de gastos com pessoal por meio do plano de desligamento voluntário (PDV).
Privatização “soft”
O Banco do Brasil e o banco suíço UBS fizeram uma parceria para prestação de serviços de banco de investimentos e de corretora de valores no segmento institucional no Brasil e em determinados países da América do Sul.
O movimento é quase uma “privatização” do banco de investimentos do BB, pois o UBS poderá contratar profissionais sem concurso e oferecer bônus agressivos, em linha com os praticados pelos bancos de investimento privados.
Venda de ativos
O Banco do Brasil estuda a possibilidade de venda de ativos na área de gestão de recursos (Banco do Brasil Distribuidora de Valores Mobiliários – BBDTVM).
Melhora na percepção de risco
Assim como aconteceu na gestão do presidente Roberto Castello Branco na Petrobras (SA:PETR4), acredito que a percepção de risco dos investidores estrangeiros sobe o Banco do Brasil vai melhorar, o chamado “re-rating” das ações do BB vai subir à medida em que o banco consegue elevar o seu nível de rentabilidade (ROE).
Desempenho das ações
As ações do Banco do Brasil acumulam queda de 40,8 por cento em 2020 (até 29 de maio), comparado à queda de 24,4 por cento do Ibovespa no período.
As ações estão sendo negociadas a 0,79 vezes o múltiplo preço sobre valor patrimonial (P/VPA), ou seja, o valor de mercado do BB está 21 por cento abaixo do valor do seu patrimônio líquido.
O múltiplo preço/lucro (P/L) 2020 está em 5,9 vezes, considerando um lucro líquido de 15 bilhões de reais para o Banco do Brasil em 2020, redução de 23 por cento em relação ao ponto médio da previsão (guidance) do BB antes da Covid-19 de 18,5 a 20,5 bilhões de reais em 2020.
Mesmo com a limitação de distribuição de dividendos a 25 por cento do lucro líquido, o retorno em dividendos projetado em 2020 é de 4,2 por cento.
Conclusão
Na minha opinião o Banco do Brasil não será privatizado completamente, como por exemplo a Eletrobras (SA:ELET3). A privatização do BB deverá ser “soft”, ou seja, por meio do modelo de busca de eficiência, venda de ativos, parcerias com instituições privadas (UBS) e a melhora na percepção de risco.
Acredito que o momento é atrativo para investir no Banco do Brasil, pois a melhora da rentabilidade (ROE) combinada com a melhora da percepção de risco deverá impulsionar o preço das ações (BBAS3) que estão sendo negociadas com grande desconto no mercado.
Em resumo o Banco do Brasil já está indo bem sendo estatal. No caso de uma privatização, o que considero improvável, ficaria ainda melhor para os investidores.