Olá, pessoal! Na coluna de hoje, analisei a correlação com o mercado e o risco de papéis (ações e units) negociados na bolsa. Como universo de análise, tomei os papéis que compõem o IBrX 100 atualmente. Este índice é mais abrangente do que o Ibovespa e escolhe seus 100 constituintes pelos maiores índices de negociabilidade, funcionando como um ótimo filtro de liquidez. Qualquer análise de ações que não estejam neste índice precisa ser feita com atenção, pois a baixa liquidez esconde riscos que retornos não conseguem capturar. Utilizei dados diários dos últimos 12 meses, gentilmente cedidos pela plataforma de dados Quantum Finance.
Quais os papéis menos e mais correlacionados com o Ibovespa?
A descorrelação é uma característica importante quando se escolhe os ativos que comporão uma carteira de investimento. Isso porque a diversificação com papéis descorrelacionados é mais eficiente do que com papéis altamente correlacionados. Em outras palavras, papéis com baixa correlação com o mercado permitem reduzir o risco da carteira mais assertivamente que papéis altamente correlacionados. Esse é um conceito bastante conhecido pela teoria de gestão de carteiras, mas cabe um exemplo para mostrar isso.
Suponha que você jogará dois dados em sequência e a sua felicidade é proporcional à soma dos valores obtidos, de modo que o resultado 1 + 1 geraria a maior tristeza possível. No primeiro lançamento, infelizmente você obtém o resultado 1. Caso o segundo dado seja descorrelacionado, significa que a chance do pior cenário possível, dado que o primeiro dado deu 1, seria 1/6 porque um novo resultado 1 seria equiprovável a qualquer outro resultado. Mas, agora imagine que há indícios de que o dado seja adulterado e o fato de ter dado 1 no primeiro lançamento aumenta a chance de dar novamente 1 no segundo lançamento para 50%. Pronto, esta correlação fez com que a chance para o pior cenário possível aumente, ou seja, o seu risco com a correlação dos dados aumentou.
Voltando para o contexto de uma carteira de investimentos, o mesmo acontece. Imagine que Joãozinho tenha apenas ações ordinárias da Petrobras (SA:PETR3)) e queira diversificar comprando uma segunda ação. Caso ele compre a ação preferencial da mesma companhia (SA:PETR4), sua diversificação será pífia, pois esses dois papéis têm altíssima correlação, acima de 0,95, por serem papéis da mesma empresa. Agora, se Joãozinho comprar ações da Suzano (SA:SUZB3), obviamente o grau de diversificação será maior, o que implica numa carteira mais eficiente sob o ponto de vista da relação risco vs. retorno. Se você quiser saber mais a respeito da importância de ativos pouco correlacionados na gestão de carteiras, leia este artigo que escrevi no ano passado.
Calculei a correlação de cada um dos constituintes do IBrX 100 com o mais conhecido índice da Bolsa de São Paulo: o Ibovespa. Abaixo, listo os 10 papéis menos e mais correlacionados com esse índice.
Quais os papéis menos e mais arriscados?
Quando falamos em risco, é preciso ter alguma cautela. O risco pode ser definido de diversas formas diferentes. Neste artigo, apresentarei os resultados para duas medidas importantes de risco. Primeiramente, utilizo como medida de risco o desvio-padrão à esquerda, tendo como referência a taxa livre de risco medida pelo CDI.
O desvio-padrão à esquerda se compara com o tradicional desvio-padrão utilizado pelo mercado, mas eu sou crítico dessa última métrica. Isso porque ela possui a premissa de uma distribuição simétrica de retornos, onde o desvio-padrão à esquerda iguala o desvio-padrão à direita. E, em verdade, não precisamos dessa premissa. Caso realmente os retornos sejam simétricos, o desvio-padrão à esquerda será equivalente ao desvio-padrão tradicional. Ao utilizar o desvio-padrão à esquerda, estamos sendo prudentes ao eliminar uma premissa desnecessária e ampliar a validade da análise. E sempre lembro que a distinção entre o risco ruim e o risco bom é muito importante. O risco ruim é aquele que tememos e nos deixam insatisfeitos, com retornos abaixo da taxa livre de risco. Já o risco bom é aquele que nos deixa satisfeitos e pode ser medido pelo desvio-padrão à direita: esse risco não deve ser penalizado, mas sim premiado. Para se aprofundar nessa discussão, leia esses meus dois textos que escrevi para esta coluna: clique aqui e aqui.
Entretanto, há um ponto a respeito do desvio-padrão, seja ele o tradicional ou o à esquerda, que preciso compartilhar com vocês. Ele mensura o risco total de um ativo. O grande ponto é que, segundo a moderna teoria de gestão de carteiras, um ativo não gera prêmio de risco proporcional ao seu risco total, mas apenas ao risco que não é possível ser diversificado. Isso pois parte do risco total de um ativo é passível de anulação através da diversificação, daí chamarmos essa parcela de risco diversificável. Isso faz sentido porque caso o prêmio de risco fosse evidenciado pelo risco total de um ativo, haveria oportunidades de arbitragem no mercado. Esse papo fica para outro momento, até para não perdermos o foco de hoje, mas em um mercado eficiente e “sem dinheiro na mesa”, o prêmio de risco de um ativo é proporcional ao seu risco sistemático e não diversificável. Em outras palavras, investidores com carteiras pouco diversificadas correm riscos desnecessários.
Para se calcular tal risco, há necessidade de um modelo de precificação de ativos. Usarei aqui o modelo mais comum, tradicional e simples: o CAPM. Trata-se de um modelo de fator único, onde este é o próprio mercado. E aí passamos a falar do beta como medida do risco sistemático de um papel (falei a esse respeito nesse texto aqui). Em resumo: para carteiras bem diversificadas, o risco sistemático é uma melhor medida de risco para o processo de gestão e escolha de ativos. Tendo em vista isso, apresento abaixo os papéis do IBrX 100 com menores e maiores betas (baseados no CAPM com Ibovespa e CDI como livre de risco).
É interessante notar como a análise muda. A título de curiosidade, note que os quatro papéis com as maiores volatilidades não aparecem na lista daqueles com maiores riscos sistemáticos, o que significa que boa parte do risco total desses papéis pode ser diversificada numa carteira eficiente. Para aqueles que desejarem a planilha com a análise completa, basta me seguir no Instagram @carlosheitorcampani e ver como fazer o download nos meus stories. Finalizo esse artigo estimando muita saúde a todos. Um forte e respeitoso abraço.
* Carlos Heitor Campani é PhD em Finanças, Professor Pesquisador do Coppead/UFRJ e especialista em investimentos, previdência e finanças pessoais, corporativas e públicas. Esta coluna sai a cada duas semanas, sempre na sexta-feira.
** Os dados para essa análise foram gentilmente cedidos pela Quantum Finance.